terça-feira, dezembro 09, 2014

O 'Quebra-Nozes' ou até que ponto devemos reinterpretar os clássicos?

 
Fomos ver o bailado do Quebra Nozes no Domingo com a Companhia Nacional de Bailado. E eu, que só queria ver um ballet clássico, com bailarinas de tutus brancos imaculados e em pontas, deparei-me com uma versão 'pop', quase 'ballet on acids' do clássico reinventado. E apesar de até ter havido partes que gostei, apesar de o segundo acto me ter enchido mais as medidas que o primeiro, senti-me defraudada nesta versão onírica e alucinada que se traduz na visão de alguém que não o seu autor, onde imperam personagens do século XX misturados com mensagens subliminares e de igualdade do género. O auditório do teatro Camões estava cheio de crianças e famílias, a minha filha gostou do espectáculo, tanto que até diz que quer ir vê-lo novamente - suspeito porque a sua festa de Natal deste ano na escola o tema é o Quebra Nozes - e foi ela que me foi elucidando algumas partes da história, mas caramba, foi demasiado. Demasiada fantochada para o meu gosto. Demasiada reinterpretação pessoal, demasiadas adaptações que nada têm a ver com a história original, demasiados devaneios, como se tivesse sido pensado e coreografado depois de uma noite em que se misturaram linhas de coca, gins tónicos e erva. Um cocktail explosivo de loucura visual, surrealismo e alucinações. Que me desculpem os intervenientes, os bailarinos, toda a equipa técnica envolvida que está ali muito trabalho, eu reconheço, mas não me convenceu... Nestas coisas dos clássicos comigo tem de ir aos poucos. Se é clássico há que lhe ser fiel. Pode ter ligeiras nuances, alterações, mas que contribuem para enriquecer ou enaltecer a história, não para a desvirturar como se fosse outra coisa completamente distinta, uma metáfora do século XX, com selfies à mistura, ratos mickey, wonderwoman e corações desenhados com as mãos, que foi o que senti... ou como diz a notícia do Sol e do Público, um Quebra Nozes que é um verdadeiro quebra cabeças.
Nestas coisas sou muito velho do Restelo, muito conservadora e ballet clássico para mim é e sempre será ballet clássico, não um misto de pop com teatro de patins em linha.

1 comentário:

Anabela Conceição disse...

Confesso que, apesar de não ter visto esta versão, também me mete um bocadinho de confusão. Por outro lado acredito que os mais novos gostem mais.
Bjs