domingo, janeiro 28, 2007

ma petit cherie

A Joana tem nove anos mas já parece ter doze. Está alta, tem sempre respostas na ponta da língua e usa botas de pêlo como as meninas crescidas. A Joana hoje pintou os olhos de cor-de-rosa e esqueceu-se que tinha maquilhagem, chama-me madrinha sempre que me vê e corre para me abraçar, já usa MP3 e fala ao telemóvel (apesar de ainda não ter um). Quis sentar-se ao meu lado durante o almoço e olha-me com aqueles grandes olhos castanhos, como se eu fosse um ícon de perfeição a atingir. Somos primas, madrinha e afilhada e dizem que somos parecidas. Eu gosto de acreditar que sim, que aquele sinalinho que ela tem na palma da mão direita, tal como eu tenho, significa muito mais do que simples genética. *
A minha menina está crescida...

bbrrrrr.....



















Lá fora está um frio de morrer, mas cá dentro está o calor do chá e o cheiro da lenha da lareira misturada com os scones acabadinhos de fazer.
É por estas coisas que eu adoro o Inverno.

domingo, janeiro 21, 2007

O bicho das sete cabeças



















O Gaspar está connosco há 3 meses. Chegou-me dentro de uma caixa de papelão como antecipação de uma prenda de anos e entre nós houve química imediata. Pareceu-me meigo, 'pachacholas' - como lhe chamávamos ao início - mas depressa revelou a sua verdadeira personalidade felina assim que se habituou à casa e aos seus novos familiares. Nem a Magali, a dona e senhora da 'mansão' à até à data, o intimidava! O Gaspar tem comportamentos que por vezes chegam a roçar o agressivo, ou não fosse ele um felino. Mas eu confesso que este tipo de comportamento da parte de um gato doméstico, me soa a estranho, pois sempre tive gatos meigos e calmos. O Gaspar é o furacão sob a forma de gato! Nada pára quieto cá em casa e tudo o que mexa, tenha fios, ou dê para morder, é motivo de brincadeira desenfreada. Come sofregamente, como se não houvesse amanhã, o que me faz suspeitar que até vir para nossa casa, deve ter sido abandonado pela mãe e passado muita fominha... é capaz de comer um prato de comida sem nunca parar e quase sem nunca respirar - enquanto nós ficamos a ver a barriga dele aumentar tal como se fosse uma vaca! Às vezes chego a ficar com medo que ele de tanto comer, se sinta mal e morra de congestão, mas é capaz de logo em seguida, comer o que quer que estejamos a trincar, ou fazer uma miadeira desenfreada à hora do jantar ou quando estou a cozinhar, como se não comesse há mais de um mês. Tem pavor de dedos. Quando se porta mal e lhe aceno com um dedo, fica com um ar agressivo e com as orelhas todas puxadas para trás, chega mesmo a fazer investidas à mão, ou a morder à traição quando me apanha distraída - coisa que me irrita solenemente - e que quase sempre acaba numas palmadas naquele rado atrevido! Mas o Gaspar é um verdadeiro sem vergonha. Aprendeu com a Magali a esperar-me à porta quando chego a casa, mas ao contrário da 'irmã' que fica pacientemente no mesmo lugar assim que me vê, sem nunca tentar esquivar-se entre as minhas pernas para as escadas do prédio, o Gaspar quando se dá por ele, já vai a meio do caminho. Gosta de estar sempre enrolado nos nossos pés, tanto que chega a ser desesperante. Quer esteja sentada no sofá, de pé da cozinha ou a descer as escadas, o Gaspar está sempre no meio das nossas pernas, numa tentativa de brincadeira inesgotável que nos leva a estar sempre de olhos atentos. À custa disso, já lhe pisámos a ponta da cauda por uma série de vezes, mas nem mesmo assim ele parece ter aprendido a lição. Adora água. Tanto, que todas as manhãs encho as tijelas aos dois e quando chego à noite, ambas estão vazias. Isto porque o menino Gaspar gosta de chapinhar na água das tijelas e molhar tudo em seu redor. Também tem uma senhora 'tara' com banheiras e terra dentro de vasos. O pobre cacto que se encontra na sala junto à janela é uma das suas vítimas preferidas e não há dia que não se lembre de ir escavar mais um pouco a areia do vaso, como se estivesse a construir um túnel de escape imaginável. Como qualquer criança que se preze, gosta de brincar com bonecos e o seu preferido é um pai natal que tinha no escritório e do qual ele se apropriou. Tem a sua própria cama, ao contrário da Magali que sempre dormiu no nosso quarto e já aprendeu que ali é o seu cantinho assim que apagamos a luz.
Adora mamar na própria cauda, como se fosse uma chucha e fazendo uma chiadeira à la 'baby Simpson', enquanto solta um ron-ron muito alto - que mais parece um tractor - e mexe as patas para a frente e para trás, como se estivesse a mamar do leite materno. Dá beijos, muitos beijos! Beija-nos as mãos todas, com uma língua muito áspera e seca, que nos chega a fazer uma confusão infernal, mas que ao mesmo tempo nos sabe bem receber semelhante prova de amor. Beija a irmã à socapa, não vá ela estar mal humorada e dar-lhe uma valente chapada como já tantas vezes aconteceu. Ela vai amoleçendo aos poucos à presença desta 'minúscula fera' que trouxemos cá para casa. De vez em quando olha-o com um ar muito pachorrento enquanto ele parece estar ligado à corrente com uma energia electrizante, outras, perde a cabeça e dá-lhe uns quantos 'sopapos' a ver se o acalma. A Magali é a nossa balança do juízo, quando estamos prestes a perdê-lo, ela repõe-o. Brincam os dois, em correrias loucas em que ela fica fula e o agride. Ele acalma nesses momentos, encolhe-se todo, para logo de seguida e assim que a apanha distraída, saltar-lhe em cima, como se fosse a sua terrível vingança. A casa nunca mais foi a mesma desde a chegada do Gaspar. Nada fica no sítio e eu desespero por conseguir ter as coisas todas arrumadas. Mas depois, basta vê-los os dois e à forma como a Magali já não se sente tão sozinha, para achar que apesar de tudo, as coisas assim têm muito mais piada...
(mas também dão muito mais trabalho!)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

toca e foge




















De há uma semana para cá que tenho vindo a ser agraciada com uma nova forma de comunicação: os toques de telemóvel anónimos! Começaram discretamente e sempre em situações em que eu não os ouvia. Ou tinha o telemóvel em ‘mude’ e estava numa reunião de trabalho, ou tinha o telemóvel dentro da mala e não ouvia absolutamente nada, ou estava a falar com alguém e lá aparecia um sinal de chamada em espera e eu não ligava… enfim, foram várias as situações em que pura e simplesmente não liguei. Depois comecei a ficar intrigada, afinal, quem é que teria assim tanta urgência para falar comigo que nunca deixava mensagem no voice mail ou tentava ligar mais tarde? Só ontem é que percebi que as ditas chamadas perdidas sob a forma de número anónimo, não são chamadas ‘efectivas’, de alguém a querer falar comigo, mas tão-somente, toques, cuja única finalidade é irritar-me o juízo! É que ontem, quando saí do trabalho tive de passar no ginásio (sim, finalmente já me inscrevi!!) e entretanto acabei por ficar pelo centro comercial entretida com os saldos e as compras do supermercado e quando reparei no telemóvel lá estava ela: uma chamada perdida, um número anónimo! Voltei a não ligar, pensei cá para comigo: ‘Provavelmente é a TV Cabo.’ É que as técnicas de persuasão destes senhores não têm fim e quando lhes dá para ligar todos os dias, ei-los no seu esplendor máximo de perseguição ao cliente sob a forma de números privados. Mas afinal, nada. À noite, quando terminava o jantar, eis que o telefone volta a tocar outra vez. Pensei: ‘Deve ser o C.’, mas afinal não era, era ele: o número privado outra vez! Ora, o que me fez depreender de que afinal tenho um(a) fã que gosta de dar um arzinho de sua graça, de pregar partidas e que vai dando toques ao sabor da vontade e desta vez foi apanhado em flagrante, pois apenas tocou uma vez! Mais, provavelmente é noctívago(a), porque só dá sinal de vida depois das sete da tarde, ou seja, só quando sai do horário normal de trabalho é que se mete a pensar em mim e terceiro, gosta particularmente da hora do jantar! Os números - e o mesmo sucede com os comentários anónimos - têm qualquer coisa de pérfido. Comentamos, mas não dizemos quem somos, telefonamos, mas escondemo-nos e regozijamo-nos ao imaginar a cara de urso do feliz contemplado, neste caso, eu! São o perfeito jogo do ‘toca e foge’, do ‘tiro no escuro’, da ‘cabra cega’, o que me faz deduzir que este meu fã é particularmente adepto dos jogos infantis. Pois hoje bem pode dar toques à vontade que eu esqueci-me do telefone em casa e nem o fiz de propósito, aconteceu! Por isso, se logo à noite o meu ‘querido anónimo’ voltar a manifestar-se, vou depreender uma quarta conclusão acerca do dito: que não possui vida pessoal! Porque, dar toques privados à sexta-feira à noite só pode querer dizer uma coisa, que o ‘monstro precisa de amigos’ – como dizia o nome de um álbum dos Ornatos Violeta.
Pois bem, quando chegar a casa, logo verei! Isto se entretanto não decidirmos ir ao cinema ver o novíssimo Scoop do Woody Allen…

Bom fds*
(aproveitem o Sol que Domingo há descida das temperaturas em todo o país)

quarta-feira, janeiro 17, 2007

'é bom ginasticar, ginasticar!'



'...dá mais força ao coração, pois então, tens razão...'


Era assim uma das músicas que passava na Rua Sésamo em que um grupo de alegres bonecos saltitava numa sala enquanto entoava a letra que me perduraria na cabeça até aos dias de hoje. (pelos vistos ainda possuo referências de infância bastante actuais e que se encontram facilmente no You Tube) O que é certo é que na próxima sexta-feira, provavelmente vou a cantarolá-la a caminho do ginásio. É que passado dois anos de ter abandonado as salas do Solplay, eis que regresso, desta vez do outro lado da cidade e mais próximo do local de trabalho. E ando com a excitação na ponta da unha, do dedo do pé, pronta para me voltar a enfiar nesses ambientes quase de estufa, com sérios viciados em máquinas de cardio e aulas de body Combat/Pump entre outras, para mais uma vez me voltar a chatear com aquilo tudo passado alguns meses. Mas pronto, apesar de não ser uma adepta confessa do ginásio - sempre fui um pouco contrariada, mais pela necessidade de me mexer do que propriamente pelo gozo que a actividade física me dá - desta vez irei encarar as coisas literalmente 'na desportiva'. Necessito de me mexer, porque isto de passar o dia inteiro sentada em frente a um computador é tudo menos benéfico e as articulações, os músculos, as costas, o rabiosque, a barriga... tudo isso se queixa! E nem se trata de uma daquelas resoluções de início de ano, é mesmo empenho e força de vontade pura! Agora só resta saber se 'vai ser sol de pouca dura'... como diz o ditado popular.

domingo, janeiro 14, 2007

new place, new beginning


É bom ver que os trinta são mesmo a época de viragem das nossas vidas actuais. E isso ficou demonstrado ontem, quando num intímo jantar entre amigos, inaugurámos oficialmente a nova casa do M. É acolhedora, stylist - sem ser pretensiosa - e acima de tudo, é dele! A primeira! E isso tem tanto valor! Ao som das Supremes, de Madonna, ou fazendo um revivalismo digno de uns melancólicos que mais pareciam ter 50 anos do que vintes e muitos, dançámos sons dos anos 80 com uma alegria que nos superava. Era a excitação da recordação. Do tempo em que levávamos aqueles rádios enormes e pesadões de cassetes audio para a escola e dançávamos - qual street dance - os primeiros hits electrónicos do momento que nos faziam adivinhar que o futuro iria ser bom, muito bom. Era a época dos sonhos. Sonhos esses que vamos construindo aos poucos, como agora com a casa do M. Sonhos em que estávamos longe de imaginar que passavam pelo trio - emprego, casa, família - ou tão somente, viajar pelo mundo fora e ter bons amigos que nos acompanhem nos momentos mais importantes das nossas vidas. Tudo isso anda a ser cimentado aos poucos, porque como dizia ontem a H. e a L. "Os actuais 30, são os antigos 20."
Por isso, agora é que as coisas começam a ter piada.
Best moment: Kuduru progressivo, com os Buraka Som Sistema.

sábado, janeiro 13, 2007

deep blue



















As águas, mesmo frias e estaganadas, podem ser profundas e perigosas. Soa a rebuscado? A metáfora gasta? Pois então, que assim seja, porque talvez seja mesmo assim como eu me sinto.
Às vezes, remar contra a maré custa... muito e hoje é um daqueles dias em que tenho os braços cansados e me apetece ir ao sabor das ondas.
ps - O colar da imagem não está para venda. foi um presente de Natal que necessita de ser ligeiramente modificado. Ficou aquém...

quinta-feira, janeiro 11, 2007

páginas da vida



Eu admito, eu bati no fundo, eu joguei pedra na cruz (como diz a 'Tininha'), mas desde que a nova novela da Globo estreou em Portugal, 'Páginas da Vida', eu tenho papado os episódios todos! Mas mesmo todos! Curiosamente, ao fazê-lo acedi a uma nova dimensão: a do grupo de mulheres que fala em sentido figurado da 'sua novela' (como se fosse propriedade adquirida), que explica pacientemente os episódios às colegas de trabalho, a relação familiar e social dos personagens, enfim, sou a 'sinopse women' em pessoa! Mas aparte disso, como se não fosse por si só já suficientemente gravoso, dou por mim a jantar a tempo e horas para estar disponível e sossegada à hora da 'minha novela' (lá estou eu), não perdendo um único capítulo. Mais! Digno-me a ir para o quarto, onde a televisão é mais pequena (e sim, eu sei que é mau Feng Shui ter aparelhos electrónicos no quarto, mas até agora nunca me agrediram), deixando a televisão da sala para divertimento pessoal do meu marido e da sua amiga Playstation! E nem me importo! Por volta das dez da noite e a seguir à 'Floriseca', lá vou eu em alegre romaria para o quarto, onde permaneço na próxima hora e meia, aninhada e quentinha, seguindo os dramas de Nanda e da sua mãe má, ou da louca da Sandra e do Jorge. (ok, eu sei... fazer um post sobre isto é mesmo já ter a lavagem cerebral completa, mas os loucos são felizes assim). Pior... fico sempre com pena quando o episódio acaba, devoro os resumos dos próximos capítulos nas revistas televisivas que chegam ao trabalho, já consultei o site da Globo Brasil - onde a mesma já vai bem mais avançada - e as pessoas vêm ter comigo quando querem ficar 'actualizadas'. ááááááááá
Há por aí mais alguém a sofrer do mesmo síndroma que eu? Querem formar um grupo de apoio?

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Fds com sabor a mar e sal





















O fim-de-semana quase soube a férias, tais foram os quilómetros percorridos e os sítios visitados. Adoro quando vamos assim sem destino e acabamos por dar longos passeios, descobrindo bares e restaurantes agradáveis e aproveitando o tempo como se ele fosse infinito. O nosso fim-de-semana andou pelos lados de Sesimbra, passeando pela praia em final de tarde e aproveitando os últimos restos de Sol. Depois rumámos até Setúbal, onde apanhámos o ferry para Tróia. A ideia era irmos jantar a um restaurante muito especial e que já há algum tempo não contava com a nossa presença, o Museu do Arroz na Comporta. Desde 2004 que não ia lá, altura em que passámos umas animadas férias de Verão na praia da Galé, em plena costa alentejana, sítio de eleição desde há vários anos para o camping com amigos e longos dias de praia, biquini e chinelo no pé. O Museu do Arroz está diferente, sofreu uma reestruturação, tem um ar mais moderno, uma nova entrada, um novo alpendre, mas continua com os traços que sempre o caracterizou. A comida continua a ser boa (apesar de um pouco cara) e as entradas com queijos e ovos de codorniz de comer e chorar por mais. Por perto havia ainda claros vestígios da prova do Dakar por aqueles lados e muito, muito trânsito - todos os aficcionados decidiram dar um salto à Comporta para ver partir todo aquele aparato de máquinas, jipes de assistência, pilotos, barracas de comes e bebes, etc. - nós, à parte de todos esses motivos, fomos por mero acaso e divertimo-nos, muito. Rumámos então até à Ericeira para pernoitar e por onde andámos durante a tarde de ontem, tendo a mesma o desfecho que eu já aqui fiz questão de relatar. (ver post anterior)
Hoje não estou cansada, apenas tenho sono, porque ontem o mesmo teimava em aparecer e eram duas da manhã e eu insistia em continuar a ler um livro enquanto o João Pestana não batia à porta. Mas que me apetecia estar agora de férias e continuar nesta boa vida, disso, não tenho a menor dúvida.

domingo, janeiro 07, 2007

época de saldos

Começou hoje oficialmente a época de saldos. E eu, consumista confessa por natureza, não pude ficar indiferente. Ora, neste Domingo de um fds tão prazenteiro (mas que eu deixarei para falar num outro post), decidimos, eu e o C., quando vínhamos a caminho de Lisboa, aproveitar para passar na Gulbenkian e ver a exposição do Amadeo de Souza Cardoso - um dos pintores portugueses que mais me suscita paixão - e passar o resto de uma bela tarde inspirados pelas artes e imbuídos de cultura. Ora, mas perguntam muitos de vocês: 'O que é que o Amadeo de Souza Cardoso tem a ver com os saldos?' Pois... nada! Estão mesmo em pólos opostos... porque se eu pensava que ia passar a tarde a falar de surrealismo, das influências políticas e históricas num cenário de início de século XX, enganei-me e a minha realidade inverteu-se num ângulo de 180º que me levou a passar a tarde no maior centro de consumo da capital e do país, o Centro Comercial Colombo! As filas de pessoas para comprar o bilhete na Gulbenkian chegavam à porta, mas não eram tão dramáticas quanto as filas para entrar, efectivamente na exposição, essas sim dignas de respeito e tão imponentes quanto as que assisti na exposição da Frida Kahlo no CCB - no entanto, estas ganhavam aos pontos - o que se pode dizer que a prata da casa ainda consegue levar muita gente às bancadas, mas adiante...
Ora, de um cenário cultural para uma desistência, vai apenas um pulinho e nós desistimos ao fim de meia hora e de apenas dois passos de avanço, o que nos fez deparar com a dúvida: 'então e agora, o que fazemos?' Ao que eu, como gaja que sou, me lembrei: 'Podíamos ir aos saldos!'
A expressão do C. fechou-se. O sorriso contraiu-se, abanou a cabeça como que em processo de mentalização de 'estou tramado' e lá me fez a vontade, com paciência de santo, rumando com o carro até ao piso -3, de um centro comercial completamente atolado de pessoas desenfreadas por compras e por roupa a preços baixos. O cenário dantesco começou logo à entrada, mas atingiu proporções desmedidas nas lojas, onde as filas para pagar se assemelhavam a uma daquelas brincadeiras de 'apita o combóio' que geralmente acabamos por entrar em festa que se preze. As roupas amontoavam-se em pilhas dramáticas no chão, em bancadas e em todo o sítio onde fosse permitido, deixando-nos perante um cenário de guerra capitalista e loucura colectiva. Aquilo intimidava: pessoas com dezenas de peças de roupa na mão para levar para o provador, outras tantas dezenas de pessoas em fila para pagar, um calor infernal, corpos suados e odores não identificados misturavam-se no ar... aquilo não eram saldos, era uma verdadeira descida ao inferno e cada um de nós tentava ver quem é que conseguia aguentar durante mais tempo. Ao fim de três lojas dei-me por vencida. Mas no rescaldo ainda consegui trazer uma t-shirt, umas calças e uma túnica. Tudo bem baratinho, mesmo como eu gosto. O C. esteve sempre pacientemente a meu lado - uma verdadeira prova de amor desmedido, (digo eu...) - e no fim, enquanto matávamos a sede num café, mais calmos e livres do impacto de há segundos, atrevi-me a comentar com ele: 'Trazer um homem para os saldos é a mesma coisa que levá-lo para a forca não é meu amor?'. Resposta: 'Não... é pior, na forca acaba mais depressa'.
Amanhã vamos ver o Amadeo de Souza Cardoso.

segunda-feira, janeiro 01, 2007

welcome






... e foi assim que festejámos a chegada de 2007, com muito boa disposição, fotografias e alguns copos a mais...

Agora que o novo ano já cá está, espero que lá para Junho, ainda me continue a sentir tão esperançosa e animada quanto estive ontem.

domingo, dezembro 31, 2006

Dreams

E pronto...
2006 chega ao fim. Não foi um ano fácil, não foi um ano que me vá deixar saudades, não é um ano que me traga boas memórias, daquelas que se recordam com saudade e nos enchem o coração de alegria. Termino 2006 com vontade, porque os recomeços são sempre muito mais aliciantes de se viver do que a monotonia instalada e porque se celebrarmos cada início como se fosse uma vitória, conseguimos celebrar tudo aquilo que nos é verdadeiramente importante, nem que seja apenas a dois, com um copo de vinho na mão e a lareira da sala acesa, como fizemos ontem e que tão bem soube. Porque como dizia uma das personagens do filme que vimos: 'vamos celebrar o facto de estarmos vivos e de sermos jovens'. E eu celebro porque te tenho a ti e porque juntos, somos apenas um.
E ontem passou na rádio uma das minhas músicas de sempre - daquelas que eu já não ouvia há anos e anos - e que me fez recordar muita coisa boa. Acho que foi um sinal. Aqui fica para todos os saudosistas (como eu) para ouvir com o volume no máximo.
A todos um maravilhoso, grande e intenso 2007.

terça-feira, dezembro 26, 2006

verdes são os campos...




















'...da cor do limão, assim são os olhos do meu coração
Verde que te estendes de verdura bela, ovelhas que nela vosso pasto tendes...'

Lembro-me que quando fui estagiária num jornal diário muito conhecido, ainda menina e moça, utilizei este poema de Luís de Camões para descrever uma fotolegenda e que a reacção foi tudo, menos a esperada. Desde não conhecerem a estrofe, até me perguntarem 'em que enciclopédia é que isso está?', houve motivo de ingenuidade/burrice para distribuir a rodos. Poemas à parte, a verdade é que o verde sempre me serviu de inspiração e tudo o que cheire a terra, que transpire serenidade, ou pura e simplesmente tenha aquele efeito de luz que enche qualquer foto de alma e vida, produz calmia a este meu espírito revoltoso. É por isso que gosto de ir à terra. Lá sinto-me desprovida de tudo e deixo-me inspirar pelas coisas e pessoas simples, pelo prazer que é acordar cedo e ver tudo coberto de um manto frio e branco que vai derretendo lentamente com o Sol da manhã, ou pelo som da água que insiste em correr na ribeira a escassos metros de casa, ou tão somente, por me lembrar da minha infância e ter os meus pais ali mesmo ao pé a reavivarem-me a memória a cada instante.
Mais fotos verdinhas, aqui.

Foi Natal, foi Natal...trálálá




















Partimos no Sábado à tarde, o destino natalício adivinhava-se a cerca de 3 longas horas de viagem. Depois dos stresses das compras que antecipam o Natal, de saber se há fita-cola e papel de embrulho para emergências de última hora, de carregar com os sacos de presentes que é necessário levar no carro, das correrias ao supermercado, de rever infindavelmente a lista de pessoas a presentear, de me matar na sexta-feira a fazer doces para a ceia (só eu levei 4), de transportar a bicicleta para dar à Bia para a bagageira do carro, deixando-nos quase sem espaço para mais nada - mesmo tendo os bancos rebatidos - mais as malas de viagem, de pôr de parte algumas das nossas melhores garrafas de vinho, de transportar as fatias douradas que eu própria me encarreguei de fazer, ou o centro de mesa e a toalha para embelezar a ceia de Natal, de me despedir dos meus bichanos, - deixando-lhes comida e água suficientes para uma semana em vez de 3 dias - e de me equipar a rigor com casacos, gorros, luvas e toda a espécie de vestimentas quentes, metemo-nos a caminho. Depois de mais de uma hora parados na A1 entre o troço de Santarém e Tomar por causa de um acidente - nem nestas alturas as pessoas têm civismo a andar na estrada - eis que chegámos à Gestosa Cimeira, a aldeia dos pais do C., perto da Serra da Lousã, onde o frio cortante rondava temperaturas próximas dos zero graus. Os três dias do período natalício passaram rápido, sempre recheados de muita comida (ontem andei o dia todo enjoada com tanta mistura, que até acho que engordei um quilito!), da família em grande algazarra', do 'põe mesa, tira mesa', do 'tira doces, come doces', do 'dá prenda, abre prenda', que o final é sempre como o rescaldo de uma ressaca. Sentimo-nos cheios, meio atordoados, como se tudo tivesse passado por nós de forma tão intensa que nem tivessemos dado pelo momento.
Até me casar os meus Natais nunca tinham sido tão atribulados. Lá em casa éramos poucos e a família acabava por se dispersar entre tios, sobrinhos e primos que acabavam por ficar reduzidos à sua família mais directa. Nós, como somos apenas 3 e os avós já faleceram, acabava por ser um período meio triste que nunca me despertou grande emoção. Mas passar o Natal na terra, para além de ser frio e trazer consigo toda uma família que aumentou de tamanho e uma mesa cheia de pratos e talheres, tem ainda o sabor do bacalhau no carvão e das batatas a murro assadas em forno de lenha e só isso, faz valer a pena toda a canseira dos últimos dias.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

o espírito de natal e o amigo secreto




















As pregadeiras nestes últimos dias 'voaram' e só ontem tive tempo de fazer meia dúzia de saquinhos em feltro para as transportar, assim como aos colares. A azáfama das compras de Natal já terminou! (uufff....) é que eu confesso que andar com os sacos, perder meia hora na caixa para pagar, mais meia hora para encontrar lugar para estacionar o carro, andar aos encontrões no meio do centro comercial, ou pura e simplesmente nem ter ar para respirar no meio de tanta gente, não faz a minha ideia de 'espírito natalício'. Geralmente fico irritada, stressada e só me apetece hibernar por estes dias e só acordar no próximo ano. Eu confesso que gostava de ficar mais imbuída do verdadeiro espírito de Natal, mas só no próprio dia, quando estou com a família é que me esqueço dos stresses anteriores e gosto daquele ambiente familiar acolhedor, da lareira acesa, do barulho dos papéis dos presentes, de toda aquela agitação.
Confesso que agora, que já despachei tudo o que me faltava comprar, estou desejosa que a semana acabe...
Entretanto, por aqui no trabalho, a troca de cartas para o amigo secreto atingiu hoje o seu expoente máximo... e eu, apesar de 'junior' já tive direito a duas cartinhas personalizadas! (e até já suspeito de quem...) *

domingo, dezembro 17, 2006

a espuma dos dias





















Sexta-feira foi dia de aniversário do C., almoçámos e jantámos juntos - decidimos ir novamente ao Assuka, andamos fãs dos 'Califórnia' - onde perdemos a noção das horas, o que nos fez chegar atrasados à sessão de cinema das 21h30 e de já só haver bilhetes na primeira fila, o que nos fez desistir doprograma 'jantar seguido de cinema' - o El Corte Inglés abarrotava de pessoas - por isso, decidimos ir até ao Casino de Lisboa, onde numa aposta de 10€ acabámos por ganhar 56€ nas slot machines. (sorte de aniversariante?) Sábado: dia de tomar café à beira rio, ida à Casa Decor - onde apesar de ter gostado, confesso que esperava mais, mas algumas muito boas ideias a registar. Apenas um reparo: o preço dos bilhetes (10€ p/ pessoa) - e tentativa frustrada de fazer algumas compras para o Natal. Domingo: Hoje, supostamente, iríamos aproveitar a tarde para organizar a lista de compras e despachar o assunto 'Natal', mas a preguiça e o cansaço falaram mais alto e nem saímos de casa. Isso fez com que tivesse tempo para me dedicar aos pedidos que tinha em mãos: duas pregadeiras. É que nos últimos dias vendi todo o meu stock, tendo ficado com muito poucas pregadeiras e nenhum colar! E como também não tenho feito nada, há que aproveitar o (pouco) tempo livre que vou tendo. E acho que ainda vou aproveitar estas últimas horas de fim-de-semana para fazer mais qualquer coisa... é que sexta-feira comprei contas novas e estou mortinha por utilizá-las...
O gato da foto é da menina Marta, um 'presente' esquecido, que hoje animou o meu serão e deu cor às minhas criações. *

quarta-feira, dezembro 13, 2006

ferro de engomar Vs ipod





















Se há coisa que eu odeio fazer, mas que odeio, mesmo odeio, daqueles ódios profundos e viscerais, em que naquela hora todo o universo conspira contra mim, é o de passar roupa a ferro! Não me importo de aspirar a casa de cima a baixo, lavar duas pilhas de loiça, limpar o pó dos estores, esfregar sanitas, estender roupa ou até, cozinhar (que por acaso, adoro), mas passar a ferro é que não! No entanto, a minha sorte como é pouca, de vez em quando não me livro. Ora eu, que tenho a mania que sou a super gaja - alcunha dada no meu primeiro emprego devido a esta minha capacidade de 'gaja que faz tudo e mais alguma coisa e que quer sempre arranjar mais um bocadinho de tempo para fazer isto e aquilo' - vim para casa mentalizada de que 'de hoje não passa'. Geralmente, as desculpas a mim mesma, sucedem-se; 'hoje não posso porque estou com gripe', ou, 'hoje não posso porque tenho trabalho para fazer', e ainda, 'amanhã não posso porque é sexta-feira', e assim vou acumulando uma pilha crescente de roupa que chega a atingir proporções dignas de registo (mas que eu fiz questão em salvaguardar).
Mas hoje cheguei decidida e o processo de mentalização começou em plena tarde de trabalho. Instalei-me na sala (local sempre escolhido para a prática da engomadoria) e enquanto olhava furtivamente para a televisão à procura de algum tipo de distracção, reparei no ipod que permanecia em cima do aparador. Foi então que campaínhas tocaram na minha cabeça. Ipod Vs ferro de engomar - o verdadeiro duelo de titãs! Por um lado o divertimento, a dança dos pés junto à tábua, por outro, o vapor esbaforido, a roupa empilhada, o peso das horas (e das pernas) a passar lentamente por mim. Ao som de 'B Day' da Beyoncé e dos Black Eye Peas - sim, porque eu sou uma fã de R&B e neste caso quanto mais mexido, melhor - engomei camisas, t-shirts, calças, pijamas, toalhas, lençóis - tagarolando ao mesmo ritmo das expressões de espanto e das gargalhadas do C.
As horas passaram rápido, a roupa foi ficando dobrada, terminei com a satisfação de dever cumprido, arrumei tudo e ainda me sentei ao computador (já bem tarde) para actualizar este blogue.
Afinal, acho que ainda continuo a fazer justiça ao título de supergaja.... *

segunda-feira, dezembro 11, 2006

resumé





















Eu confesso que adoro estes fds de três dias. Quando não se adivinham férias no horizonte, três dias é, na minha opinião, o tempo ideal para recuperar energias de uma semana de trabalho. A chatice é não ser sempre assim. Este ficou marcado por mais uma ida para as Caldas - desta vez para festejar o aniversário do meu pai - por passeios na praia da Foz do Arelho debaixo de Sol, mas sob muito frio, por uma ida a Fátima (onde me constipei forte e feio e hoje estou com uma valente gripe que mal me aguento em pé), por outra ida a Alcobaça (a casa da minha C.) e por jogos a dois de Super Mario no meu velhinho Nintendo redescoberto! (foi giro, senti-me uma miúda outra vez).
Hoje calcorrei as ruas do Chiado logo de manhã - e que bem que soube - adoro aquela zona da cidade. Passei em frente ao Convento do Carmo e mesmo ao lado da casa Decor - que ainda não fui, mas que gostava de aproveitar estes últimos dias. Em trabalho dei por mim numa casa transformada em estúdio fotográfico, com paredes de pé alto, portadas de madeira e tectos trabalhados (e adorei tudo). Apenas um senão, era fria, muito fria, o que me agravou a gripe que está ao rubro. Quando for grande quero ter uma casa assim, com hall de entrada enorme e salas ligadas, soalho de madeira e divisões gigantes com vista para típicos páteos lisboetas com árvores frondosas, melhor ainda, se pudesse conjugar isso tudo com um espaço de trabalho meu.
Keep dreaming Mafalda, keep dreaming...

quinta-feira, dezembro 07, 2006

sushi day was yesterday




















Eu confesso que nunca fui muito adepta da 'sushimania'. Gosto de chinês, de indiano, de comida brasileira, mexicana, adoooorrrooo italiano, mas o japonês sempre me colocou algumas reticências. O primeiro japonês a que fomos - aqui há uns anos - foi na Rua Vieira da Silva, em Alcântara (agora, nem me lembro do nome) e comemos na altura uma carne com legumes que mais parecia uma sopa mal feita. E depois o sushi, aquela coisa do peixe crú nunca foi a minha onda, principalmente depois da intoxicação de salmão que tive uma vez e cujo o meu corpo, de cada vez que como o fatídico peixe, insiste em rejeitar... Ora eu andava mas era enganada, sim, porque além de ter ido ao japonês jantar uma meia dúzia de vezes e de ter sempre detestado e achar que comia mal e pagava muito, eu nunca tinha provado era as comidas certas... e depois de o fazer, então só aí, percebi porque é que o japonês primeiro se estranha, mas depois se entranha.
Essa maravilha só aconteceu recentemente, quando fui com alguns colegas jantar ao Assuka - o restaurante japonês mais na moda de Lisboa - e provei os fantásticos Raviolis Grelhados, os Califórnia (uma espécie de sushi, mas com gambas, abacate e pepino, que são simplesmente fantásticos) e as massas frescas com carne, ou gambas. Ontem decidi levar o C., que tal como eu, tinha uma má experiência com o japonês e a verdade é que devorámos tudo com uma satisfação fora do comum. Melhor do que isso e para levar a 'coisa' mesmo a sério, é acompanhar tudo com chá verde torrado (não sou fã de saké, é a minha próxima etapa) e sentir o estômago confortado e a alma quente.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Cá em casa já é Natal





















Ontem decidi-me a fazer a minha árvore de Natal. Aproveitei o C. ter ido trabalhar a tarde toda para lhe fazer uma surpresa e assim, quando chegasse a casa, já ter um ambiente natalício a reinar pelo lar, mas a verdade é que se a intenção era boa, depressa me arrependi, pois isto de fazer árvore sozinha, tem muito que se lhe diga.
Começou com o tirar de todos os caixotes de artefactos natalícios - incluíndo a árvore - da arrecadação que fica por debaixo das escadas e como o Natal acontece uma vez por ano, os ditos encontravam-se bem refundidos, o que significava que para chegar a eles, teria de tirar toda a tralha possível e imaginável acumulada. Depois dessa façanha - bem sucedida - diga-se de passagem, esperáva-me outra ainda mais desafiadora: a montagem da base da árvore. Ora, a base é metálica, com três pés e respectivas porcas, mais uns quantos objectos metálicos que encaixam ainda não percebi muito bem onde... e não havia instruções de montagem que me valessem (decididamente, eu não sou uma 'brico women' e passei horas às voltas com aquilo, ao ponto de chegar a ficar quase desesperada e de me dar por vencida). Os gatos vibravam com as bolas, os enfeites e as luzes que se encontravam espalhados por toda a sala e por momentos senti-me a perder o juízo no meio de tanto caos. Mas depois, como a minha intenção era boa, lá se fez luz e consegui perceber o funcionamento da coisa e montar orgulhosa a base (e não, não caiu, apesar dos meus receios). No final, lá me dediquei à parte mais engraçada de tudo, que é colocar os enfeites, escolher em que parte faltam, distribuir as cores , colocar a rena 'Rodolfo' em cima da lareira, o enfeite na porta de entrada, os presentes já existentes debaixo da árvore e acender as luzes, já noite, sentindo-me satisfeita com o resultado final.
O ano passado tinha prometido a mim mesma que este Natal seria eu a fazer manualmente todos os enfeites para a árvore, dando-lhe um toque mais 'cosy' e menos aquele ar de 'anjos comprados no Ikea e iguais a milhentas outras árvores com as tradicionais bolas douradas e vermelhas', mas a vontade tem sido pouca e o tempo quase nulo. Eu ainda aproveitei o facto de estar a tarde toda sozinha para me pôr a limpar a casa - incluíndo uma ávida e profunda limpeza do forno, frigorífico, cozinha, sala e quarto - e sentar-me, já noite (e mais morta que viva) a fazer este colar - um pedido via email, cuja futura dona já mostrou o seu agrado. As cores foi ela que escolheu e eu confesso que gostei tanto do resultado final, que se não estivesse já pedido, era capaz de ficar com ele para mim. (apesar de não ter roupa nenhuma nestes tons e de eu própria quase não usar os colares que faço e que tanto gosto).
E à noite, a surpresa surtiu efeito.

domingo, dezembro 03, 2006

simple pleasures




















O fim-de-semana de três dias soube a descanso, a evasão, a escape.
Tinha saudades de estar sentada na esplanada do 'Sétima Vaga' a beber chá quente com a praia e o mar como pano de fundo, enquanto o frio anda em voltas turbulentas e as mãos essas, permanecem quentes.
Tinha saudades do centro das Caldas, iluminado pelo Natal e num correrio como eu já nem me lembrava, de ver o Café Central cheio de gente - reabriu e causou-me boa impressão - de visitar a minha avó, de ir a casa da minha tia, de estar horas na conversa com a C. enquanto a minha sobrinha tirava fotografias com a minha máquina digital descobrindo, quem sabe, uma futura vocação. Tinha saudades dos mimos e da comidinha da minha mãe, das piadas do meu pai, de me deitar no sofá sem preocupações de qualquer espécie e de achar que o tempo passou devagar.
Melhor do que tudo isto, só mesmo hoje, quando decidi fazer a árvore de Natal ao som de Ella Fitzgerald e Billie Holiday.
E que bem que soube.

domingo, novembro 26, 2006

...




















A notícia chegou até mim da forma mais abrupta e violenta de que tenho memória. Nunca antes tinha recebido notícias que tivessem um elo de ligação comigo, assim, através da frieza da televisão, enquanto ouvimos nomes que nos são familiares associados a uma tragédia. 4 jornalistas portugueses morreram ontem, vítimas de acidente, no Chile, enquanto se preparavam para sobrevoar a zona da grande Lagoa de São Rafael. Entre eles estava a nossa directora de comunicação, a Claúdia. Ainda agora, passado 24 horas, não consigo aceitar/digerir a notícia de que 'isto' aconteceu.
A C. era divertida, workaholic, dona de um sentido de humor refinado e muitíssimo apurado e fazia na próxima terça-feira 34 anos. A C. andou a preparar esta viagem durante meses, ansiando pelo merecido descanso numa América Latina que a atraía tanto a ela quanto a mim. Quando inicialmente ouvi o primeiro flash da notícia lembrei-me logo dela, mas afastei a ideia da minha cabeça. Foi só quando ouvi o seu nome que a notícia caiu em mim como um prédio de 50 andares. Eu sabia que a C. ia andar a correr o país de lés a lés, alternando entre a Argentina, o Chile e a Patagónia, numa verdadeira aventura, mas nunca pensei que fosse ela que estivesse naquela pequena aeronave. Na véspera da sua partida disse-lhe o quanto a 'invejava', pedi-lhe para me levar na bagagem. Apesar de trabalhar na agência há pouco tempo, tenho bons momentos passados com a C., como o concerto dos Trovante no Campo Pequeno, em que cantámos e dançámos juntas, o jantar de sushi no Assuka, em que todos ficámos com uns copos a mais, ou até, as gargalhadas que demos ao pé de um 'Noddy' gigante, que numa destas manhãs nos animou na agência e onde ela me pediu algumas fotografias para enviar para os sobrinhos.
A C. morreu ontem, de forma injusta e ingrata.
E todo o céu chorou connosco.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Depressa e bem não há quem!

Pois ontem foi mais um dia em que eu saí de casa atrasada para o trabalho. Isto acontece diariamente, levante-me eu às sete da manhã, ou às oito. Não há remédio que me valha. Admito que de manhã sou desorganizada, me custa ser ágil e rápida, que sou molengona, rabujenta, que demoro horas no banho matinal e que fico estupefacta como é que há pessoas que conseguem em apenas 20 minutos estar 'ready to go'.
O C. levantou-se à mesma hora que eu, quando ontem, até podia ter ficado mais umas horitas na cama. Geralmente deixo tudo pronto de véspera, organizo a roupa do dia seguinte, o almoço que trago todos os dias e deixo tudo a jeito, sempre na esperança de na manhã seguinte conseguir fintar o relógio em mais dez minutos, um quarto de hora, mas qual quê! Ele ainda me entregou o Actimel que vou todos os dias a beber no carro (passo a publicidade) e fechou-me a porta de casa. E lá fui eu à minha vida, quase sempre a acelerar na marginal e à espera de chegar a horas...
Pois ontem se já ia atrasada, ainda mais fiquei. Quando entrei na avenida principal rumo à expo pensei: 'estou a ir depressa demais, qualquer dia lixo-me'... e se bem o pensei, rapidamente aconteceu, pois cinco minutos mais à frente fui mandada parar por uma mulher polícia que muito rigidamente me pediu os documentos. '-Bom dia, os seus documentos e documentos da viatura por favor' e eu toda a tremer lá comecei a tirar a tralha da mala e a dizer, '-Ai sabe, é a primeira vez que sou mandada parar e me pedem estas coisas' - a ver se o motivo da paragem seria outro que não aquele que eu já sabia - e ela muito friamente diz, '-E a senhora sabe porque é que foi mandada parar?' e eu numa pergunta rectórica respondi; '-Porque vinha muito depressa?'.... '-Faça favor de sair da viatura e acompanhe-me!'
E foi assim, que fui multada em 120 euros que tiveram de ser pagos na hora. E se já ia atrasada, ainda mais fiquei. Mas ontem, ao contrário do dia anterior, acordei bem disposta e só me ria com a situação. Ao meu lado, uma outra jovem condutora à qual lhe tinha acontecido exactamente o mesmo (ao que parece as mulheres estão cada vez mais aceleras... ou mais atrasadas) chorava compulsivamente com a ideia de que podia ficar um mês sem conduzir e soluçava, '-Mas porque é que eu fui pôr a minha filha à escola?', como se o destino conspirasse contra ela. Eu resignei-me com a minha triste sorte (é que em dois meses é a quarta multa que levo! as outras são de estacionamento...) e chorava por dentro, enquanto me ria por fora, numa tentativa de diplomacia policial e assumindo a 'mea culpa, mea culpa' ao digitar o meu código multibanco.
A mulher polícia lá se mostrou mais 'mole e humana' e numa tentativa de fazer conversa para quebrar o gelo da situação, virou-se para mim e disse: '-Deixe lá, agora com o subsídio de Natal, 120 euros não é nada, dentro do azar até teve sorte!' e eu, muito seriamente respondi; '-Não tenho subsídio de Natal!'
Fez-se um silêncio de morte de ambas as partes.
'-Isso é que é pior, isso é que é pior...', respondeu ela.
Hoje de manhã não ultrapassei os 50 kms hora, demorei mais do que os tradicionais 15 minutos a chegar ao trabalho, mas calculei que com o temporal que está, nenhum polícia se dignasse a fazer controlos de velocidade à chuva e ao frio à beira da estrada.

A imagem que eu gostaria de colocar (o blogger hoje está cheio de problemas) para ilustrar esta caricata situação (uma vez que não tenho foto de minha autoria que me valha), é do Guilherme Lopes, este fantástico ilustrador e artista. (quando der, prometo colocar)

quarta-feira, novembro 22, 2006

Parabéns amiga!





















A C. hoje faz anos. 28 como eu já fiz o mês passado. E além de ser a minha melhor amiga, é também simpática, divertida, linda de morrer, super fashion e trendy, mãe extremosa, com uma filha maravilhosa (a minha querida 'sobrinha' de mesmo nome que o meu) e ambas possuímos gostos muito, muito idênticos, tanto, que no outro dia enquanto mostrava umas fotos em que estávamos as duas, me perguntaram se éramos da mesma família. Não somos, mas é como se fosse. As irmãs dela é como se fossem minhas, os pais, é como se fossem meus familiares e todos estiveram presentes no meu casamento, assim como eu estive no dela. A C. conhece-me do avesso, tanto que hoje quando lhe liguei para lhe dar os parabéns, ela e à distância de 150 kms, percebeu imediatamente que eu não estava bem. Às vezes basta um tom de voz, um simples suspiro para ela imediatamente me escrutinar o que me vai na alma (às vezes acho que ela me conhece ainda melhor do que o meu próprio marido), afinal, foram mais de seis anos a viver diariamente comigo, a aturar-me as neuras, as alegrias, os stresses. No outro dia, enquanto falávamos ela disse-me: 'Estiveste comigo sempre nas alturas mais importantes da minha vida' e a frase deixou-me sensibilizada. Hoje em dia não são tantas as vezes que nos vimos, mas sempre que o fazemos passamos horas a tagarelar sobre tudo (tanto, que até os nossos maridos ficam espantados como conseguimos ter tantos temas de assunto). Mas nós ficamos felizes assim e aproveitamos sempre todos os bocadinhos em conjunto, porque sabemos que actualmente são poucos. No entanto, posso passar meses sem a ver, mas sempre que nos encontramos, sei que nada, mas absolutamente nada mudou entre nós.
Parabéns amiga!
(O colar da imagem será o seu presente personalizado, feito com as cores que ela tanto gosta). Mais, aqui. *

terça-feira, novembro 21, 2006

there´s no place like home




















É oficial, vamos vender a nossa casa. A decisão não foi fácil e eu confesso que ainda me encontro a digeri-la, mas prefiro mentalizar-me de que vai ser vai ser bom para nós, de que apesar do sacríficio é a opção mais sensata e de que estou a tornar-me numa adulta cheia de maturidade e ponderada nas decisões. Claro que falar é fácil, mas acho que crescer traz consigo uma série de decisões difíceis, decisões essas que exigem escolher umas coisas em detrimento de outras... o mesmo acontece com a casa que neste momento decidimos vender. Além de ser a nossa primeira casa, tem pormenores simplesmente deliciosos como as paredes em pedra no quarto e nas escadas, ou a casa de banho do piso de cima com azulejos coloridos. Adoro o facto de ter lareira e de no Inverno me sentir como gato ao borralho, ou de ser duplex permitindo um efeito de leveza e de amplitude, ou a cor do nosso chão em tábua corrida, ou até, a forma como a luz natural entra pela janela da sala ou da cozinha e se reflecte nas paredes e por todo o lado, criando um efeito único para excelentes fotos. Gosto desta casa por ter sido a primeira que comprei, por ter aquela identidade de pertença, por estar num sítio sossegado, por ao fim de semana, ou ao final da tarde, puder ver rio e árvores mesmo ao abrir da janela. Gosto dela por ter tudo a ver comigo, por achar que está bem decorada, por achar que tem um espírito jovem e divertido, por saber que todas as pessoas que cá vêm se sentem bem. Ao vendê-la, sinto que perco parte de mim, mas outros projectos virão e outras casas se encherão de boas recordações, ou de novos pormenores para descobrir e fotografar. Quem quiser, pode ver mais, aqui ou pedir informações para: casinha_de_botoes@yahoo.com
O bebé da foto é o meu priminho G. que nasceu há um mês. Este Domingo foi dia de visita. É calminho, bem disposto, esteve sempre de olho aberto e atento a tudo e só chorou quase na hora de irmos embora porque a fome já apertava. Eu sinto-me sempre desengonçada quando me metem crianças tão pequeninas nos braços e acho que não lhes sei pegar, quase que tenho medo de as partir, já o C. parece ter instintivamente jeito....

segunda-feira, novembro 20, 2006

Little Miss Sunshine


Little Miss Sunshine ou 'Uma família à Beira de um Ataque de Nervos' em português, é um daqueles filmes que tem o dom e a sabedoria de, através de uma história aparentemente simples, se transformar numa obra prima. Não é somente pelas personagens geniais, bem construídas e trabalhadas, onde cada um à sua maneira procura o caminho e a rota para encarrilhar a sua própria vida, não é apenas uma família disfuncional, igual a tantas outras na sua loucura, amor e relações pessoais, não é apenas o típico adolescente conturbado que fez um voto de silêncio e que odeia o mundo e toda a gente, não é apenas o típico intelectual brilhante, perdido e sem rumo, que tem tudo para ser um génio, mas cujos meandros da vida e do amor o levam por caminhos mais conturbados, não é apenas o pai fracassado que acha que possui a fórmula para o sucesso, ou a mãe que tenta não dar em doida e ser o elo de equilíbrio que os une a todos, ou a 'petit cherie' da família que sonha em ser miss américa, ou o avô que se recusa a ser o típico velhote de pantufas. É muito mais do que isso, é uma comédia negra, genial que muitas vezes roça a realidade, exacerbando-a, caricaturando-a e fazendo com que nos identifiquemos com aquelas vidas meio perdidas, meio sem rumo, que viajam numa velha volkswagen ao mais puro estilo hippie onde lhes acontece todo o tipo de intempéries. Rimos, choramos e no fim também queremos subir para cima daquele palco e fazer figuras tolas para uma plateia de 'freaks'. Porque duvido que não haja nenhuma família que nunca tenha passado por situações destas e talvez por a minha também ser um pouco assim, eu tenha gostado tanto do filme.
Tocou-me bem cá no fundo.