Ainda não tinha aqui escrito sobre algo que me aconteceu no último dia do ano de 2009, ou penúltimo, já nem me recordo bem, só sei que foi a seguir ao Natal e àquele dia em que a zona do Oeste, Ericeira incluída, acordou para a devastação provocada por um 'ciclone tropical'.
Pois bem, na manhã desse dia, quando saí de casa - já nem me lembro onde tinha de ir - dirigi-me à garagem para tirar o carro como sempre faço. O nosso lugar de estacionamento é estreito e de todos os lugares de estacionamento do prédio é, provavelmente, o mais ingrato e piorzinho deles todos. De um lado uma parede do outro um pilar. Como se isto não fosse já de si mau sinal, o meu homem, ao longo deste ano e meio em que residimos por aqui, decidiu encher aqueles esparco lugar de estacionamento de tralha! Ele é sacas com lenha que os meus sogros trazem aos magotes da terra, ele é latas de tinta de 5 quilos, ele é pedras da antiga lareira que foi destruída para dar lugar à nova quando fizemos obras e que esperam ir para o lixo, ele é coisas que já não consegue arrumar na arrecadação, ele é caixas de televisores tamanho XL.
E é sobre estas ditas caixas que eu quero mesmo falar.
Eu já tinha, encostada à parede da frente, uma caixa - quando comprámos o LCD mais pequeno no Natal de 2008 - e em que ele, com a desculpa esfarrapada do: 'pode sempre ser preciso trocar, levar à loja e por isso, fica aqui por uns dias', decidiu guardar. Mas os dias transformaram-se em semanas, as semanas em meses e a porcaria da caixa, além de me roubar lugar ao estacionamento, ainda lá estava.
Depois, dias antes deste último Natal, ele decide trocar o velho televisor da sala por um mega LCD e espetar-me com outro caixote no lugar de estacionamento, desta vez ao lado da porta do condutor, o que significava que quando queria sair ou entrar no carro, tinha aquele 'mono' a reduzir-me os movimentos e o espaço. (Convém também referir que só eu estaciono naquele lugar porque o meu carro é pequenino e cabe lá, por isso, as caixas só a mim me incomodavam!)
Pois bem, como estava eu a contar, nessa manhã, eu vi as caixas e passei-me! Decidi que se ele não as levava dali até ao ecoponto mais próximo era eu que as tirava, mesmo sem saber como, mas tirava! E a solução que encontrei, depois de andar às voltas com os caixotes e a tentar metê-las à força no banco traseiro do carro mas sem sucesso, foi enfiá-los na bagageira e ir com a porta da mesma aberta.
Dito e feito. Enfiei as caixas na bagageira, deixei a porta aberta, sentei-me no lugar do condutor, abri o portão automático da garagem e eis-me decidida a fazer-me à vida.
Acontece que a minha garagem tem uma enorme rampa de acesso e essa mesma rampa estava cheia de lixo do temporal da noite anterior. O meu carro, que ainda estava frio por ter estado toda a noite parado e eu não lhe ter dado tempo suficiente para aquecer, foi-se abaixo a meio da subida e quando eu já tinha clicado no comando do portão automático para o fechar. Ainda puxei do travão de mão - sem sucesso - e liguei-o à velocidade da luz, dando força no acelerador para ver se o gajo subia a rampa, mas nada, os pneus (que estão meio carecas e a precisar de serem substituídos) patinavam em todo o lixo e porcaria que havia no chão, sem qualquer tipo de aderência e comigo a ficar seriamente assustada por sentir o carro a deslizar. De repente, e sem ter tempo para mais nada, só ouvi um 'pum-pum-pum-pum-pum-pum-pum-pum' monstruoso...
O que era? Ainda fiquei uns tempos sem perceber muito bem a razão de tal barulho, como se todo o meu cérebro estivesse desprovido de inteligência e lá dentro só houvesse vento, há semelhança do que tinha acontecido na madrugada anterior, mas na realidade, aquele som era, nada mais nada menos, do que o portão a fechar e a bater em cima da porta da bagageira que estava aberta por causa da porcaria das caixas...
Quando acordei para a realidade, lá tive a reacção de clicar novamente no comando para abrir o portão e deixei-me deslizar até ao interior da garagem com as pernas todas a tremer do susto. Só pensava que a porta da bagageira devia de estar estilhaçada em mil pedaços, que era bem feito para eu aprender a não me dar ataques de fúria irracionais e de limpeza repentinos e que agora bem o podia ouvir, a ralhar comigo, como se fosse uma criança inconsciente.
Quando parei, saí do carro e corri para a traseira para ver o estrago e qual não foi o meu espanto quando verifiquei que não havia nada! 'Oba, oba' - pensei eu - 'desta já me safei!!' E pronto, preparada e com tudo devidamente no sítio e em ordem, contentinha da silva por tudo não ter passado de um episódio surreal assustador, lá consegui sair da garagem formosa e segura.
Foi só quando estava a tirar as caixas para as colocar no ecoponto que verifiquei que afinal, a porta não estava assim tão 'inteira' quanto isso... tenho uma parte, em baixo, amolgada, a pintura estalou e daí a ficar ferrugenta vai ser um passo.
Só mais tarde é que tive coragem de contar ao Carlos a minha avaria, que claro, me deu na cabeça na mesma.
Diz que tem ali despesa para perto de 700 euros, que será necessário substituir a porta toda, que só tenho ideias loucas, que estou sempre a 'aprontar'.
Ele até tem razão no que diz, até oiço a consciência a pesar, mas pronto, que me livrei das caixas, livrei!