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Eu pensei que ia ver mais uma comédia romântica bem ao gosto do 'american style'. Eu pensei que era o filme ideal para comer pipoca e descontrair numa noite de sexta-feira. Eu pensava que ia ter um final feliz, daqueles já previsíveis que os trailers deixam antever, mas o último filme do Vince Vaugh (o que eu gosto dele) e da Jennifer Aniston,
'Separados de fresco' - que tinha tudo para ser descontraído, divertido e leve - e é-o de facto, fez-me pensar mais na vida e nas relações (na minha neste caso), do que qualquer outra coisa ultimamente.
Claro que é exagerado, floreado, dramatizado, mas houve tantas situações com as quais me identifiquei, que no fim fui assolada pelo medo - e se algo do género acontece comigo, ou melhor, connosco?
Eu também peço para ele trazer 12 limões para o centro da mesa e ele traz-me 3, eu também me mato na cozinha a fazer o jantar enquanto ele joga playstation no sofá e vibra com o Soccer Team como se fosse uma criança de quatro, ele também tem o sonho de querer uma mesa de bilhar cá em casa (graças a Deus que não há espaço), ou então uma jukebox, e eu também sinto que muitas das vezes, as minhas palavras ou sucessivos pedidos de ajuda se tornam mais num discurso esbatido e esfumado que lhe entra por um ouvido e sai pelo outro imediatamente a seguir, do que propriamente um apelo a 'sério'. Por isso pensei, serão todos os homens rapazinhos que pedem que tomem conta deles? Estará a minha relação destinada ao fracasso? Ou serão todas as relações ao fim de dois, três anos de vivência, assim? E a resposta é que penso que sim. Que não há relações perfeitas - mesmo para aqueles que ainda vivem iludidos com o assunto. Há o desgaste, a rotina, as coisas irritantes e picuínhas do dia-a-dia; a roupa deixada no chão que nos deixa loucas, os sapatos no meio da sala, a tampa da sanita para cima, o futebol como programa de televisão favorito... and so on. Há o assumir diferentes papéis - mãe (dele e dos nossos filhos, se os houver), de esposa, de mulher, sem perder uma identidade que se quer própria - como a que tínhamos quando eramos solteiras, ou antes de o termos na nossa vida, e gostávamos de ouvir música em altos berros sem nos importamos com o que os vizinhos de baixo pensavam... Acho que uma relação só resulta se houver um esforço de ambos em aceitar as queixas do outro, em não dar por garantido, em trabalhar o assunto, em continuarmos a sermos nós próprias, em ser honestas, connosco e com o outro, porque se não o fizermos, então o mais provável é que todas estas pequenas coisas nos minem e nos levem a querer mais do que aquilo que faz o nosso mundo no presente. Ao longo destes anos de namoro e casamento com o C. aprendi a ser mais tolerante e talvez não tão intransigente. Sei que ainda tenho de mudar muitos dos meus comportamentos, mas a verdade é que sei o que é estar tipo balão prestes a rebentar, e ter cá dentro uma 'Mafaldinha' prestes a querer soltar o grito do Ipiranga, mas a saber calá-la e aprender a relativizar, a respirar fundo e a contar até dez.
Ninguém é de ferro, é certo, mas sem ele, perdia parte de mim. É isso que a minha realidade tem de diferente da do filme.*