O resultado do meu teste genético chegou. Após dois meses de espera, as notícias não foram animadoras. Deu negativo. Outra vez. Não conseguiram encontrar nada ao nível do gene estudado que pudesse explicar a origem da mutação que provoca a ictiose bulhosa.
Confesso que quando ouvi o resultado não fiquei surpresa, nem triste, nem desanimada, nem magoada. Porque de certa forma, já sabia que essa probabilidade existia, era real e podia acontecer. Porque de certa forma, já tinha passado por isso o ano passado e depositado tantas esperanças, convicta que estava em um resultado positivo, que desta vez, as minhas aspirações, foram apenas o suficiente para me fazer acreditar, que fiz tudo aquilo que estava ao meu alcance. Quando a técnica de laboratório me disse que o resultado tinha sido negativo, eu escutei com toda a atenção, mas o meu coração acalmou, batia compassadamente e não se sentia oprimido, nem aflito, nem angustiado. Foi como se toda aquela ansiedade provocada pela espera de algo pelo qual eu não queria esperar, tivesse assentado no meu peito. Como se a resignação perante a notícia fosse ao mesmo tempo uma calmia. Dar paz a este meu coração sofrido com todas estas histórias de testes genéticos e possíveis tratamentos para ter um hipotético filho saudável... Tudo coisas que se prolongam no tempo, numa projecção difícil de conseguir calcular, numa linearidade que eu vejo sempre como distante, num futuro que se prolonga por demasiados meses, por demasiada espera, por demasiada angústia, às camadas, levando-me até ao limite... e logo eu, que nunca fui uma pessoa paciente! Porque para mim, não agir é sentir-me impotente, não fazer é sentir-me atada, não avançar é matarem-me aos poucos...
Por tudo isso, eu e o C., há muito que tínhamos tomado a decisão de que independentemente do resultado do teste genético, não iríamos fazer mais nenhum e que se o mesmo viesse negativo, então, pararíamos por aqui. E é isso que iremos fazer. E foi isso que comuniquei à técnica que me facultou a informação.
A ictiose é uma das doenças genéticas mais difícieis de diagnosticar. Não só por se subdividir em tantas variantes, como por o conhecimento da mesma ser quase nulo, principalmente no que toca à investigação científica e ao conhecimento genético. Estudar um gene, uma mutação, sem saber por onde começar, é como procurar uma agulha num palheiro e nem o resultado da biópsia ajudou a estreitar mais essa procura, ao ser-me diagnosticada 'ictiose bulhosa de siemens'. Nem isso pareceu ajudar. Existem mais dois outros testes - dentro da ictiose bulhosa de siemens - que eu ainda poderia fazer, mas depois de termos pago 1000 euros por este e de o resultado ter sido negativo e termos ficado exactamente no mesmo ponto onde estávamos, a ideia de gastar mais outros hipotéticos mil euros e eventualmente, mais outros mil euros, esgotando todas as nossas hipóteses, parece-nos um esforço descabido e inútil. Porque, mesmo que depois destes 3 testes feitos se encontrasse algo que me permitisse fazer tratamentos de fertilização in vitro através da técnica do embrião genéticamente modificado, com que dinheiro eu faria esses mesmos tratamentos? É que entretanto, ficaríamos depenadíssimos, tudo num esforço quase inglório de ter um filho. E que qualidade de vida lhe daríamos se o tivessemos? Pelo privado não teríamos dinheiro para suportar os tratamentos e pelo público esperaríamos anos, prolongaríamos a ansiedade e o sofrimento e levaríamos a nossa relação até ao limite, desgastando-a com este assunto.
Todos estes motivos pesaram na hora de decidir que este resultado negativo foi quase um presente. Um presente que veio sossegar o meu coração. Colocar uma pedra sobre o assunto.
Fiz tudo o que estava ao meu alcance. Sinto-me cansada desta luta. Dos contactos diários com médicos, dos emails trocados, deste esforço constante e solitário.
Resta-me a opção dos 50-50. Eu tenho 50% de hipóteses de ter um filho saudável. E vou-me agarrar a esses 50% com unhas e dentes.
Se a moeda cair para o lado errado, não será por isso que ele não será amado. Queremos acima de tudo constituir uma família e o C. sempre soube dos riscos que corríamos quando decidíssimos ter filhos por causa da minha doença. A minha pele nunca foi um problema entre nós. Ele nunca me viu como 'diferente', nem me tratou com tal. Sempre me fez sentir a mulher mais especial do mundo e eu sempre me senti abençoada por o ter na minha vida. Claro que quando falamos em filhos, queremos que eles nasçam saudáveis em tudo, perfeitos, evitar a todo o custo que passem pelo mesmo sofrimento que eu, por exemplo, passei. Mas eu fiz tudo aquilo que podia fazer e acho que chega. Por agora chega e eu não sinto, ou ache que deva sentir, remorsos por esta minha decisão.
Eu acredito que tudo na vida acontece por uma razão e que há coisas, que por mais que tentemos, não nos compete a nós decidir o que a mãe natureza pode ou não fazer.
E eu vou, a partir de hoje, deixá-la seguir o seu curso.
5 comentários:
Acho que tomaram uma decisão acertada. Desejo-vos toda a sorte do mundo! Muitas Felicidades. Bjocas
só te posso desejar toda a sorte para esta tua nova fase :) e acreditar que vai tudo correr muito bem!
um beijo!
Ana
Nao acho que possa acrescentar nada aos teus pensamentos... desejo-vos muito boa sorte e que a natureza vos abencoe. Bj
acho que não tens de sentir arrependimento, fizeram tudo o que podiam.. agora, é mesmo deixar a natureza seguir o seu rumo. e vai tudo correr bem:] acho, pelo que leio, que tens uma força enorme, que não desistes dos teus sonhos. e uma pessoa que luta por aquilo que quer, pelo que acredita, é uma pessoa que merece tudo*
beijo ^rute
Fiquei com os olhos marejados de lágrimas com este teu desabafo... (deve ser das hormonas).
Acredita, foi o que te disse há uns tempos, acredita com toda a força em ti e no poder superior que a maternidade te trará...
Esse sonho é o mais bonito que uma mulher pode ter, a concretização então é a expressão máxima daquilo que podemos gerar dentro de nós..
beijo enorme
Sónia
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