Estamos quase no final do
primeiro período deste ano letivo de 2017/2018 e o balanço que posso fazer
sobre a transição da minha filha de um colégio privado para uma escola pública
está longe de ser positivo.
A verdade é que a transição da
Madalena nesta fase – coincidindo com uma
série de outras mudanças na vida dela – teve um efeito de bola de neve. Não foi
só o mudar de escola, ficar completamente desenraizada das referências dela
habituais, das amigas, da professora e de toda a equipa que a acompanhava desde
os 3 anos, coincidiu também com uma mudança estrutural na vida dela: a de
passar a fazer custódia partilhada e semanas alternadas com o pai.
Tudo a começar ao mesmo tempo, em
setembro, o que levou a uma mudança radical de hábitos, de rotinas e de
processos. Se para um adulto isso já é difícil de gerir, imaginem para uma
criança de 8 anos.
A Madalena foi colocada numa
escola pública em Lisboa onde até tenho algumas pessoas amigas que têm lá os
filhos e que me deram boas referências, me tranquilizaram no início e me
disseram que a escola, dentro do ensino público, até funcionava bem. Isso
deixou-me mais tranquila e aliviada, mas com o passar dos meses e com aquilo
que me vou apercebendo, vejo que a minha filha anda perdida e regrediu. Foi
colocada numa turma extra, só com crianças novas na escola, transferidas de
outras escolas ou países. É uma turma pequena mas problemática, onde existe um
grande número de rapazes (11) face ao número de raparigas (5), sendo os rapazes
altamente conflituosos, com zaragatas na sala de aula e conflitos no recreio –
tendo sido chamados por diversas vezes ao gabinete do diretor. A Madalena
queixa-se que a professora grita bastante, ou que os rapazes estão sempre a
armar confusão, além de ter poucas meninas para criar cumplicidade e aprofundar
laços. E eu pergunto: faz sentido criar uma turma só com crianças novas? Não
seria mais fácil, numa escola onde existem 4 turmas do 4º ano, inserir estas 16
crianças novas na escola, divididas em grupos de 5 ou 6 por turma, de forma a
promover uma maior interação e integração? É preferível criar uma turma nova e
ao mesmo tempo, dificultar ainda mais a integração destas crianças numa escola
que lhes é totalmente nova e cheia de crianças que já lá andam há vários anos?
Na semana passada fui à escola
reunir com a professora para falar sobre a Madalena. Vim de lá preocupada com o
retrato feito e, em parte, com a confirmação daquilo que eu própria já sabia:
que ela está alienada, que não tem interesse nos estudos, que não se empenha,
que está numa mesa sozinha porque, caso contrário, passa a vida na conversa.
Nada resulta ou parece resultar. Ao dar uma vista de olhos atenta pelos
cadernos e livros dela, constatei que não tem um único apontamento de matéria,
um sumário escrito, uma composição, nada de nada. Os cadernos também não obedecem
a uma lógica. Não há um fio condutor, ora escreve uma linha na primeira página,
ora outra a meio e outra no fim. Pelo meio, dezenas de páginas arrancadas e
dezenas de desenhos. Não é preciso
ser-se psicólogo para avaliar este comportamento e o que o mesmo significa,
certo? Na altura tive um choque, um misto de sentimentos, senti-me impotente e
a falhar enquanto educadora e pessoa responsável pela sua formação. Chorei
imenso, meio desnorteada e perdida entre pensamentos. A medida imediata foi cortar
com os planos de fim-de-semana que incluíam uma série de diversões: ida ao zoo,
ida ao teatro e centrar-se apenas nos estudos. Passou a tarde de sábado e domingo
a fazer os trabalhos de casa – onde constatámos o quão fraca está – as dificuldades
que tem nas coisas mais simples, no raciocínio e na lógica e os erros que dá a
escrever. Erros básicos, que não se justificam num 4º ano. Foi aí que eu também
constatei que, mais do que desinteressada, a minha filha – por muito que me
custe admiti-lo – é, acima de tudo, preguiçosa. Não gosta de estudar e não se
esforça. Faz as coisas depressa e mal porque quer é ‘despachar o assunto’. Não
há brio bem empenho, não há dedicação. Há distração e erros derivados disso. Depois
de termos passado o fim-de-semana a corrigir os trabalhos de casa - que estavam
todos mal feitos - e a estudar com ela, fiz-lhe um ultimato: estamos a chegar
ao final do primeiro período e os testes de avaliação são já para a semana. Todas
as semanas quero que me traga os livros e os cadernos da escola para eu ver o
que aprendeu e o que escreveu nos mesmos – e quero que se esforce e que dê
mostras disso, seja nos cadernos, seja nas fichas que faz, seja nos exercícios
que completa em livro – caso contrário, não há presentes de Natal para ninguém.
(Até a mim me custou dizer isto, mas tenho de lhe meter medo privando-a das
coisas que ela mais quer ou gosta).
Não sei se resultará, não sei se
verei algum tipo de mudanças e também não sei se o que estou a fazer é o método
mais correto ou a melhor forma… é apenas aquela que me parece mais correta para
nós – que discutimos o assunto em família.
Espero que seja um “wake up call”
e que, em conjunto, possamos motivá-la e ultrapassar isto. Mesmo que tenha de
recorrer a ajuda externa. Até lá, vou tendo o coração apertadinho e lembrando-me do ditado que a minha mãe tantas vezes repetia e que eu só depois de ser mãe, compreendi em pleno: "Quem tem filhos tem sarilhos".
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