sábado, junho 16, 2007

eu creio, eu penso



















Regressámos a casa. A viagem foi rápida e chegámos a Lisboa ainda nem eram duas da tarde. Os dias no Algarve estiveram frios e molhados. Apenas nas quarta-feira deu para tomar o gosto ao corpo e passar a tarde na praia. De resto, impossível. Choveu, choveu e choveu. Na mala ficaram todas as blusas de alsas, saias, túnicas e tops que nem chegaram a ver a luz do dia. Como não levei roupa quente a contar com um tempo que mais parecia de Inverno, a minha constipação que se arrasta há mais de uma semana, não havia meio de melhorar. Os lenços de papel foram os meus companheiros inseparáveis e o meu nariz quando me assoava, mais parecia uma corneta em alto mar a adivinhar temporal. Mas apesar de tudo, melhorei e a tosse, funda e circunspectra, abandonou-me. Tirando um ou outro ataque repentino, tudo voltou à normalidade.
Albufeira continua tão cheia de gente e com tanta falta de beleza natural quanto eu me lembrava dela. Há mais de dois anos que não íamos para o Algarve e de resto, até percebo porquê. Não nos fascina. O C. não gosta daquela confusão, dos estrangeiros bêbados e amontoados em bares, do comércio em catadupa, cheio de lojas de bugigangas ao mais puro estilo bazar chinês, das ruas atolhadas de gente, das discotecas sempre a passar a mesma música comercial. Não o censuro. Apesar de ser mais tolerante a tudo isso e de até achar uma certa piada, o Algarve não é um sítio que conquiste pela sua beleza natural e, com mau tempo, torna-se ainda mais deprimente. A verdade é que mesmo que tivessemos ido para o Alentejo para uma qualquer casa de turismo rural - como fazemos todos os anos - a situação ia ser idêntica. Sem puder fazer praia, ficámos privados de uma série de coisas que queríamos ter feito e que nos ficaram assim, negadas. Ver lojas, passear, enfiarmo-nos num centro comercial para fugir à chuva, ou tentar ir ao cinema no Algarve Shopping, foram algumas das alternativas encontradas.
Com o tempo assim tão farrusco, aproveitei para dormir mais do que o tempo normal me permite e ler. Afinal, as férias também servem para isso. Na bagagem levei o meu 'Cemitério de Pianos', que vergonha das vergonhas, ainda não consegui acabar. Então não é que depois daquela euforia inicial que o livro me provocou, dou comigo a arrastar-me para terminá-lo, a achá-lo demasiado exigente do ponto de vista do leitor, fazendo com que as várias histórias que se cruzam e intercalam na narrativa, tenham de estar sempre bem presentes na nossa cabeça, caso contrário, perdemos todo o fio à meada. Ora eu, como sou uma leitora um pouco preguiçosa, gosto de ler e ter, ou seja, de me prender a uma história e de devorá-la assistindo como espectadora ao seu desenvolvimento. Isto não significa que goste de livros básicos, antes pelo contrário! Gosto de livros que me fazem sonhar, sorrir, imaginar, pensar, que me permitam visualizá-los mentalmente, mas qualquer história, tem de ter um 'pózinho mágico' que me prende e me faz querer saber como acaba, caso contário, não consigo terminá-la. E este livro do José Luís Peixoto, apesar de ter uma escrita maravilhosa e descrições brilhantes, não tem aquele 'plim' que me faz, até na minha hora de almoço, querer ler sem dar conta do tempo passar. Mas vou-lhe dar uma segunda oportunidade.
Para colmatar este meu desapontamento, no Algarve entrei na Fnac e pronto, já não queria sair de lá. O C. vê os Dvd´s, os plasmas, os mp3´s, os gpr´s... e eu fico ali, a passar as mãos pelas estantes, a querer tê-los todos só para mim, a abraçá-los e a carregá-los no colo, a ler-lhes o prefácio, a ver os comentários dos jornais e críticos de renome. Quero sempre trazer mais livros do que o orçamento me permite. (e como ele anda magro!!) A escolha é sempre uma batalha interior. Ando a namorar o 'Equador' do Miguel Sousa Tavares há demasiado tempo. O preço ainda não me fez ganhar coragem de o colocar debaixo do braço e trazê-lo para casa, apesar de todos me dizerem que o livro se lê maravilhosamente e que vale mesmo a pena. Hesitei entre Mário de Sá Carneiro e Fernando Pessoa, estive a namorar Agustina Bessa Luís durante muito tempo, mas no final fui fiel ao meu escritor favorito - Miguel Torga - com 'Os Novos Contos da Montanha' e decidi-me por António Lobo Antunes, com 'Memória de Elefante'. Vim para casa satisfeita e feliz com as minhas escolhas. Também li a Visão e hoje passei os olhos a correr pelo Expresso, na viagem. Quer num, quer noutro, um ponto em comum: entrevista a Pedro Abrunhosa sobre o seu último trabalho discográfico, 'Luz', misturado com perguntas de índole pessoal e referências à sua educação e influências musicais/sociais/familiares, etc. Confesso que não sou fã do género, nem possuo grande simpatia pela figura, mas depois de ler ambas, denoto-lhe a força do caractér, da personalidade vincada, da resposta certeira. Achei-o coerente. Às vezes (ou quase sempre), leio respostas em entrevistas e penso para comigo: 'Que bem dito, que bem pensado. Eu nunca me lembraria de nada disto', e acho sempre que sou tão pequenina e que ainda me falta tanto que aprender.
Na viagem vim com os olhos postos nas cores do Alentejo. Os amarelos secos misturavam-se com o castanho terra, salpicados de verde aqui e além. Estava tão inspirada pela beleza que me entrava vista dentro, que partilhei com o C.; 'a natureza nunca tem falta de gosto na conjugação de cores que escolhe para se vestir, pois não?', ele concordou e, por momentos, achei que se fosse artista, criadora, ou qualquer outra profissão onde tivesse de dar forma e vida a peças ou objectos, que escolheria aquela paleta de cores para o meu próximo trabalho. (eu às vezes tenho destes devaneios...)
Este post já vai demasiado longo... é o que faz estar quatro dias sem actualizar o blogue. Já é de tal forma um ritual diário, que dou por mim muitas vezes, nas mais várias situações, a pensar em 'escrever sobre isto ou aquilo no blogue'. Sinto falta deste desabafo, desta libertação de pensamentos, de mim mesma. De ouvir os dedos ao ritmo do bailado frenético sobre o teclado.
Segunda-feira parto muito cedo para Madrid, regresso quarta. Na bagagem vai o ipod, os meus dois novos livros, a minha máquina digital e um caderno de capa preta. Tudo o que preciso para me sentir acompanhada. Apesar de saber que não vou ter tempo de 'ver' a cidade, só o facto de saber que estarei novamente 'lá', será suficiente para me fazer matar saudades do tempo que lá vivi.

2 comentários:

Gatinha disse...

Tu gostas de escrever e nós gostamos de te ler :) Boa viagem. Bjocas

Salvaterra disse...

Então a continuação de boas férias! Manda abraços aos espanholitos, por mim.
beijos, quando voltares, 'apita'.