Outro fds que passou demasiado rápido... principalmente quando sexta-feira estive a trabalhar até às 22h30, num evento da marca. Cheguei a casa estafadíssima, com o polegar cortado e enrolado num penso já empapado em sangue, e os pés inchados e em forma de 'batata' - por causa dos sapatos de salto que me complementavam a indumentária - desejosa por um fds que tardava em chegar. O C. teve a delicadeza de encomendar uma pizza para eu ter o que comer quando chegasse a casa, mas confesso que vinha tão cansada e desejosa pela minha cama, que até o apetite perdi. Esparramei-me no sofá, bufando de cansaço e apregoando a minha sorte, aspirando por um descanso merecido que tardava em chegar, ou uma vida idílica de paz e sossego que não possuo. Começava o meu desejado descanso de dois dias.
Dois dias em que não tenho de conviver com as pessoas com quem trabalho, em que não tenho de aturar neuras, nóias, fobias, faltas de formação, ou sequer, ser simpática ou educada com quem não o merece. Dois dias em que abrando o ritmo e me deixo invadir pelo doce sabor da preguiça e da letargia. (como ando necessitada de férias, é só o que eu penso...)
No sábado decidimos aproveitar o sol quase primaveril que se fazia sentir e ir até à beira-rio. Adoramos comprar o jornal e ficar numa esplanada a beber o primeiro café do dia, comendo tostas mistas e sumos de laranja. É um ritual que nos dá imenso prazer.Vagueámos por Lisboa, entretidos entre coisas que tínhamos para fazer até à hora do jantar, altura em que decidimos experimentar o New Wok no Chiado. Um espaço de cozinha de fusão, com apontamentos de comida japonesa, tailandesa e vietnamita, num espaço minimalista mas confortável, ao som de Moby (pelo menos foi o que tocou enquanto lá estivemos). Há quem o compare com o Nood, mas eu, muito sinceramente, acho que não tem comparação possível. O Nood é barulhento, demasiado amplo, demasiado exposto, sentamo-nos no meio de outras pessoas com uma sensação de desconforto, de 'desculpe por estar a incomodá-lo', só queremos é sair dali, comer o mais rápido possível e desaparecer daquele ruído de fundo que transporta dezenas de conversas, de risos, de música, ou desviar o olhar das paredes de cimento e dos ténis expostos. Ansiamos por paz visual e auditiva e isso, eu acho que conseguimos no 'New Wok'. Um ambiente sereno, mais pequeno e acolhedor, uma montra que nos mostra a rua cálida àquela hora da noite, a beleza do Chiado escondida por entre prédios abandonados. Os raviolis ou (gyoza) são excelentes - atrevo-me a dizer que melhores mesmo que os do Assuka - com uma massa super tenra e fofa e as espetadas de camarão com molho de mel também não ficaram atrás. Experimentámos ainda os noodles e o chá verde. Foi bom, foi rápido, voltaremos certamente.
A melhor experiência do dia, foi sem dúvida, nas compras - aproveitando ainda o resto da temporada de saldos enquanto ela dura - onde, numa loja, quando ia pagar uma mala que decidi comprar, a vendedora - uma miúda nos seus 'quase vintes', muito gira, alta, magra como uma gazela e de longos cabelos escuros - me diz em tom extasiado: 'Ai a sua carteira é tão gira! Eu queria uma igual mas já não consegui comprar! E que bem estimada está!' Ao vê-la tão efusiva, decidi meter conversa, sorrir-lhe e desabafar uma insegurança feminina, dando a entender que adorava a mala que ia comprar, mas que tinha receio quanto à cor, pois não tinha muita roupa que condizesse com a dita. Ela sorriu-me, tranquilizou-me - dizendo que ia comprar uma também para si - e falou dos avanços de temporada que tinham acabado de chegar à loja. 'Este ano é tudo grande, demasiado grande, até os anéis. Eu não sou capaz de andar com uma coisa destas.' E, dito isto, sacou de um enorme anel azul marinho que estava num expositor e colocou-o em cima do balcão. Ao ver aquele objecto saltou-me imediatamente à memória a minha juventude, em que usei anéis exactamente como aquele, que agora via em cima do balcão. Aquele anel não me era estranho, tive um assim, em transparente, outro de cores, havia-os para todos os gostos, formas e tamanhos. Lembro-me de ter um em forma de laço. Sorri-lhe, aproveitando aquela cumplicidade feminina - enquanto o C. permanecia calado, a observar toda aquela cena de histerismo feminino perante acessórios, que o deixa sempre severamente intrigado - e desabafei: 'Estes aneís já foram grande moda nos anos noventa! Houve uma altura em que toda a gente tinha pelo menos um. Havia destes anéis em todas as cores e assim, igualmente grandes.' Pronto, com este meu comentário, estraguei tudo. A rapariga, outrora tão simpática, tão prestável, tão sorridente, fechou-se. Olhou-me de uma forma estranha e apenas emitiu um: 'Ai foi?' Como se os 'anos 90' fossem uma coisa que aconteceu há muito tempo, há muitos anos, era ela ainda uma criança...
E com este comentário, paguei a mala e fui embora, enquanto ela arrumava o grande anel de acrílico azul, dizendo, 'Sabe como é, este mundo da moda é sempre um revivalismo' e o C. me dizia:'Bela maneira de te chamar velha'.
Não me ofendeu nadinha, antes pelo contrário, achei piada dizer com um saber de experiência feito, sem ser ofensivo ou provocador, dar uma de 'guru' da moda que já viu muita coisa.
Afinal, dez anos, são uma vida. (para muitos)
Sem comentários:
Enviar um comentário