domingo, junho 13, 2010

a felicidade


"Era muito feliz e não sabia". Foi com estas palavras, com esta simples frase, que ela me desarmou.

A minha amiga, que passa por um momento na sua vida pessoal e familiar tão delicado, tão tramado, tão injusto, tão doloroso e tão sofrido, enfrenta tudo com uma rectidão de personalidade que deixa os demais envergonhados. Incluindo eu, que me queixo de barriga cheia, que me lamento por coisa nenhuma, que passo a vida a reclamar injustiças e a dramatizar pequenos nadas.

Não sei, sinceramente, qual a ordem que rege as nossas vidas, se aquilo que passamos ou temos que passar é karma, desígnios do destino, ou lei divina, mas ninguém - e repito -, ninguém, merece passar por tamanha privação e dor.


Por isso, e porque sei que sou feliz a maior parte do tempo mesmo que não o sinta como tal, este fim-de-semana dei valor a tudo o que tenho; ao tempo que passei com a minha filha, às gargalhadas que ela dá sempre que lhe faço cócegas, por ter um marido que me ama, me respeita e me adora, por ter os meus pais vivos e saudáveis, por ter família, por ter trabalho, por ter plena capacidade sobre o meu corpo e decisões, por todos os dias poder ver o mar da minha janela, por ter comer na mesa, por ter saúde, por poder andar, correr, dançar... por, de uma maneira ou outra, ser muito, muito afortunada e abençoada.

E, a maior parte das vezes, não sei dar valor a tudo isso, sou injusta, egoísta e intransigente.

Mas este fim-de-semana dei valor, muito valor, porque sei que de um dia para o outro tudo isso pode acabar, toda a nossa felicidade pode ser abalada, tudo pode mudar.

E aí, já poderá ser demasiado tarde.

1 comentário:

Anónimo disse...

Todos somos assim até acontecer algo maior que nos retira o chão e abala as nossas estruturas; aí olhamos para trás e percebemos exactamente aquilo que a tua amiga te disse. Depois os problemas resolvem-se e voltamos a esquecer-nos disso, ou não e era bom que não tivessemos de passar por nada disso para darmos valor ao que temos. Eu aprendi a dar um bocadinho mais e quando me queixo da vida nem sequer é muito a sério e acho que quando tu te queixas também não é muito a sério. É só uma maneira de libertarmos das pressões diárias. :)