Aqui, regresso às origens do mais puro do meu ser. Rodeada pela família, em redor da mesa farta, das gargalhadas sonoras, da piada fácil e do burburinho das conversas, do estalar ruidoso dos foguetes que ecoam por todo o arraial, das luzes coloridas que enfeitam os arcos de murta, pela brisa fria que sempre corre nas primeiras noites de Setembro. Aqui, onde a minha mãe nasceu, naquela casa velha cujo tempo parece não passar, cuja estrutura incerta ainda assenta sólida sobre uma parede caiada de branco. Aqui, onde revejo as gentes e os velhos que me viram menina e agora me vêem casada. Aqui, onde comer pevides e tremoços sentada na barraca dos festeiros, entre copos e farturas, ainda tem o mesmo sabor quente e confortante de outros tempos. Aqui, onde a procissão continua a ser a meio da tarde de Domingo e a fazer parar o trânsito. Aqui, onde a família, apesar de cada vez mais dispersa e cada vez menos, continua a querer marcar presença. Aqui, onde as mantas se colocam à janela para deixar passar nossa Senhora da Ajuda e se reza de terço na mão. Aqui, onde tantas vezes vesti os mesmos fatos brancos e coloquei as asas de anjo que me faziam sorrir. Aqui, onde agora me encontro e onde olho para trás, agradecendo por ter tamanhas memórias.
Voltar à terra é, hoje em dia, um misto de sentimentos. Mas sabe sempre bem voltar, mesmo quando aqueles que sempre nos habituámos a ver, já lá não estejam.
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2 comentários:
OLÁ MAFALDA,
PARABÉNS POR ESTE EXCELENTE TEXTO.
APESAR DE LISBOETA IDENTIFICO-ME COM ESTAS FESTAS, POIS DESDE MIÚDA QUE ASSISTO A FESTAS NAS TERRAS DOS MEUS PAIS. ESTE TEXTO LEVOU-ME ATÉ LÁ.
TEM DE FACTO UMA ESCRITA MUITO AGRADÁVEL.
BJS, PATRÍCIA
Obrigada patrícia, é sempre bom saber que aquilo que escrevemos toca de uma maneira ou de outra os corações de quem me lê.
Não há melhor elogio do que aquele que me acabou de dar.
Muito obrigada**
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