domingo, janeiro 27, 2008
adeus
sábado, janeiro 26, 2008
perda
domingo, janeiro 20, 2008
retalhos de um fds e dos idos anos 90...
quinta-feira, janeiro 17, 2008
conto VII
Guardou-o, fechando-o na palma da mão pequena, remetendo-o para o fundo do bolso do casaco, cheia de dúvidas e indagações sem resposta. Sorriu para não parecer tão incomodada com a situação, ou ingrata. Receber um canivete ia contra tudo o que lhe tinham ensinado, ‘Não se brinca com instrumentos cortantes’, ‘Não mexas em facas’, ‘Não passes os dedos pelas lâminas’, ‘Olha que te cortas e faz sangue’ e por isso, todos aqueles cenários, embora imaginários, lhe pareciam demasiado horríficos, demasiado perigosos, demasiado tentadores para serem sequer, desafiados. E agora, assim do nada, ser ele a dar-lhe um canivete, que ainda para mais tinha, não só uma, mas várias lâminas, algumas finas, aguçadas como escarpas, outra em forma de espiral que ela desconhecia para o que servia, uma tesoura, uma lima e um abre-caricas, deixou-a severamente intrigada. Para que servia tudo isso se, supostamente, lhe era proibido brincar com ele? Não compreendia como o poderia incluir nos seus cozinhados fictícios com tachinhos de plástico e panelas de alumínio, que transportavam inofensivamente, pedras, terra, água e até, legumes e vegetais que ela sorrapiava à socapa da cozinha da mãe, como preciosidades únicas para preparados que roçavam a genialidade. No entanto, o pai nada dissera e até, consentira o gesto, partilhando uma cumplicidade que se espera óbvia, mas que ela não conseguia perceber na sua totalidade. Pensou por breves momentos, se seria um daqueles rituais de iniciação que ela já tinha lido no Atlas lá de casa e que sabia existirem em algumas tribos do Pacífico e da África Equatorial. Estaria ela preparada para semelhante prova? Qual seria a próxima etapa? E porquê um canivete? Porquê? Quando na realidade ela preferia que ele lhe tivesse oferecido uma boneca, onde ela pudesse fazer longos e prolongados penteados, ou até, um relógio de pulso e a pilhas, daqueles como tinha visto recentemente na irmã da Paula, que emitiam sons estridentes e que ela punha propositadamente a tocar deixando-a lívida de inveja. Mas um canivete? Para que lhe servia um canivete? Se ainda tivesse nascido rapaz, talvez achasse alguma graça à oferta, conseguindo imaginar as demonstrações audazes de poder que um canivete – ainda para mais suíço – conferia, mas assim, menina, coquete e semi-feminina, não conseguia entender o motivo.
Do bolso do casaco, colocou o canivete na gaveta da sapateira da entrada, um móvel de mogno escuro, pesado, maciço, que tinha como função ser o fiel depositário de tudo aquilo que, à primeira vista, não fosse substancialmente importante. Achou que seria o lugar mais adequado a um objecto que, no seu entender, não podia augurar coisa boa. Mesmo que tivesse o consentimento e a aprovação do pai, ela não queria tê-lo por perto, nem incluí-lo nas suas brincadeiras, mesmo quando andava que nem um cavalo bravo pelos bosques durante horas a fio. Colocou-o ali e esqueceu-se dele. Não perdeu mais tempo a pensar no assunto. Não queria entender o porquê de um canivete - embora no fundo se questionasse - mas por agora, naquele instante, só lhe apetecia abandoná-lo, livrar-se do perigo que ele lhe transmitia, das lâminas cortantes e duplas, do medo que sentia ao sabê-lo ali, tão perto da carne. O canivete ficou esquecido, refundido na gaveta do móvel da entrada que continuava impenetrável à passagem do tempo, ao ritmo das horas e das emoções que abalavam e percorriam a casa, desamparado entre os demais objectos igualmente inúteis e dispensáveis às necessidades vigentes. Passaram-se dias, meses e anos, que trouxeram consigo as mudanças físicas próprias da idade, mas também da evolução natural das coisas. Tinha chegado a hora de partir para algo melhor, de abandonar aquele lar que durante anos a acolhera, sendo necessário todo o trabalho de empacotar, seleccionar, escolher, arrumar, levar, fechar. Por entre o pó dos livros que retirava das estantes, ou da roupa que se acumulava em quantidades dignas de loja em época de saldos em cima da cama, lembrou-se do móvel da entrada, da tralha e bugigangas que durante anos ali colocara como um eterno guardião do templo. Apetecia-lhe vê-las, mexê-las, recordá-las, torná-las visíveis aos olhos e claras à mente. Correu a abrir a velha gaveta que se encontrava agora emperrada, dificultando a tarefa de chegar ao objectivo pretendido. Foi então que o viu, ao canivete, esquecido e embrulhado entre fios que passaram de moda, lenços com desenhos de cavalos que a mãe nunca mais se atreveu a pôr ao pescoço, ou porta-chaves enferrujados que jaziam como um espólio adormecido. Foi então que percebeu no mais intímo do seu ser e sorriu, dizendo baixinho, ‘Obrigado avô’.
terça-feira, janeiro 15, 2008
love is a losing game
Outra coisa que também tem contribuído para uma certa inquietação é o comportamento da Diane. A verdade é que a Diane desde que descobriu que está grávida se afastou. E por mais que eu tente que isso não aconteça, noto que ela quer que assim seja, como se a minha presença a incomodasse, ou, como se a minha presença ou passagem pela vida dela, apenas fosse isso mesmo: uma passagem. Confesso que este comportamento dela me entristece profundamente. Mas cheguei à conclusão de que não vale continuar a procurar respostas a uma pessoa que não as quer dar. A última vez que falei com ela foi antes do Natal. Na altura, já não falávamos há uns bons tempos e eu notei que ela me evitava. Quando finalmente a ‘apanhei’ no messenger sem que ela se colocasse offline, confrontei-a com o assunto. Disse-lhe que notava que ela me andava a evitar e que isso me deixava magoada. Perguntei-lhe inclusive se tinha feito ou dito algo que a tivesse chateado. Disse-me que não, mas que não andava a saber lidar com o facto de estar grávida e de eu não estar, e que evitava falar nesse assunto para, segundo ela, me poupar a ‘tristeza’. (o que eu odeio que as pessoas me subestimem…) Na altura disse-lhe que para mim, era mais dificil saber que ela me evitava e não partilhava nada comigo da sua gravidez – que eu tinha acompanhado o quanto ela tinha batalhado para conseguir esse objectivo – do que colocar-me de parte agora, que efectivamente, o tinha conseguido alcançar. Na altura disse-lhe mesmo que sentia que apenas tinha servido para ser ‘companheira de mágoas’ e agora, que ela tinha conseguido aquilo que desejava há longos anos, eu tinha deixado de fazer sentido na vida dela. Ela disse-me que não, de maneira nenhuma, mas afinal, depois dessa conversa, constato que é mesmo disso que se trata. A verdade é que já enviei 3 emails à Diane, um deles contando-lhe o resultado da minha biópsia à pele e do novo diagnóstico, de ictiose bulhosa, tal como ela e que isso significava novo teste genético, novas esperanças e novas possibilidades no meu caso… mas ela, nada… também lhe enviei um email a desejar Feliz Natal, outro a perguntar se ela estava bem… e ela nada… já tentei meter conversa com ela no messenger, mesmo que offline – porque noto que ela todos os dias se liga e imediatamente se coloca offline – e ela nada… por isso, desisto. Desisto de tentar chamar a atenção dela, de lhe demonstrar que a amizade dela é-me importante, de que me preocupo, de que quero continuar a tê-la presente na minha vida. Sinto-me muito farta de dar sempre mais de mim aos outros do que os outros me dão a mim, como se tivesse de andar a mendigar atenções, ou a demonstrar a todos e a rodos, o quão gosto deles, o quanto me preocupo. Geralmente quando dou um voto de confiança às pessoas, espero que elas retribuam. Já nem digo na mesma medida, pois tenho consciência de que tenho tendência a ser bastante absorvente, mas quando me desiludem, sinto-me tão atraiçoada e retraio-me de tal forma, que me é muito difícil voltar a ser a mesma. Nisso sou muito escorpiana não posso negar. Eu dou tudo, mas assim como dou, também tiro. Até já pensei se estaria a fazer juízos de valor errados em relação à rapariga – o que me faz sentir uns certos remorsos de consciência confesso – mas, tal como diz uma amiga minha, o que quer que seja que se esteja a passar, não é motivo (acho eu), para ela me ignorar desta forma. Principalmente quando se trata de uma pessoa que não trabalha e passa o dia em casa…
Por isso, sinto-me profundamente triste com esta atitude dela e prometi a mim mesma que não enviarei mais nenhum email, nem direi mais nada enquanto não obtiver um sinal. Nem que para isso tenha de a bloquear no messenger – coisa que já fiz – só para ter a certeza de que quando ela me quiser falar, me envia um mail. Mais não seja em resposta aos vários que ela vai acumulando na sua caixa postal e que esperam por um ‘reply’.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
back to black
A continuar assim, está a meio caminho de se tornar imortal, mesmo que seja pelos piores motivos.
segunda-feira, janeiro 07, 2008
my new orange couch
No entanto e como não há data prevista à vista de quando teremos novo estrado, montámos o sofá com aquele que tínhamos. O resultado é uma sala com uma percepção completamente diferente da anterior, devido à ligeira distribuição das coisas. O espaço de sofá é gigantesco – comparado com o que tínhamos – e os gatos adoram – quem os quer ver agora é a apanhar banhos de sol vindos directamente da janela. Acabaram-se por isso as ‘discussões’ territoriais pelo maior quinhão de sofá, já que no novo, ficamos tão distantes um do outro e com um espaço tão grande no intermédio, que é quase como se estivessemos em ilhas diferentes. À tarde, tive a visita da minha amiga G., que eu já não via há meses, e que apareceu lá em casa de surpresa e ontem, Domingo, dia em que o C. foi trabalhar, refastelei-me no dito sofá laranja, rodeada pelo Gaspar e pela Magali e vi assim, de uma vez só, cerca de dez episódios seguidos da primeira temporada dos Sete Palmos de Terra – série que só agora comecei a ver - e que me fez apaixonar logo pelo conceito.
Agora resta-me aguardar notícias – porque a vida é feita de expectativas, de renovações e de esperanças - e neste momento sinto-me como se estivesse com formigueiro nos pés - mas nos entretantos, lá me vou alegrando com o universo em meu redor.
ps- A 'mancha' preta na segunda foto, é mesmo a minha gata 'tartaruga', de seu nome Magali. Tão linda, de olhos cor de coruja, que já elegeu aquele, como o seu novíssimo sítio preferido.
quinta-feira, janeiro 03, 2008
I'm a Superwoman...
...sou, eu sei que sou... e a prova disso, é ir, amanhã, logo bem cedinho, fazer nova recolha de ADN para novo estudo genético, tendo desta vez como diagnóstico base a Ictiose Bulhosa. Se não fosse a minha investigação incansável sobre o assunto, a minha acesa troca de emails com médicos estrangeiros, a minha insistência, a minha perseverança, a minha casmurrice, a minha teimosia, nada disto seria possível. O resultado só será conhecido em Março, mas pode ser que desta vez - só para conseguir dar descanso a este meu coração sobressaltado - corra tudo bem.
Desculpem-me a falta de modéstia, mas confesso sentir-me bastante orgulhosa de mim mesma, por ter conseguido alcançar esta etapa tão importante e fundamental de um longo e moroso processo. Nada é garantido é certo, e o resultado genético pode voltar a ser negativo e a mutação não ser encontrada, mas só o facto de ter conseguido provar que sempre me fizeram diagnósticos errados e ter esta nova oportunidade, só me enche de mais coragem para continuar.
Eu canto com a Alicia, porque eu sei que sou uma 'Superwoman. Yes I am.'