quinta-feira, abril 03, 2008

o cinismo e a hipócrisia que rodeia a minha vida

Os acontecimentos dos últimos dias desta semana foram de tal forma bruscos, inesperados e surreais, que me vi envolta numa sucessão de episódios em catadupa, que pareciam cada um pior que o outro. Apanhei uma crise de nervos tal e tive um ataque de choro tão grande, que cheguei a pensar que algo podia acontecer à gestação, mas felizmente agora estou mais calma e tranquila e tudo estabilizou, mas vamos por partes...
Ora, como vocês sabem a semana passada fiquei em casa durante 3 dias devido a uma tremenda gripe que me atirou à cama. Acorri às urgências da CUF, fui vista e perante o facto de estar grávida de 7 semanas + gripe, a médica nem hesitou: casa, sopas e descanso, muito descanso. Perante isto eu também não hesitei. De manhã, quando acordei, mandei um sms às minhas duas colegas de equipa a dizer que tinha passado mal a noite e que ia às urgências, logo, ia chegar mais tarde. Até aqui tudo bem. Assim que saí do médico liguei imediatamente para uma delas e disse-lhe o prognóstico: estou com gripe e a médica mandou-me para casa até ao final da semana para recuperar. O tom de voz dela mudou e ficou claramente mais seco, mas eu confesso que nem liguei muito, falámos mais umas poucas coisas de trabalho, disse que teria de faltar à formação que iria ter nessa tarde e à apresentação que iria ter na manhã seguinte. Sabia que realmente não era a melhor altura para ficar em casa, mas perante o início de uma gravidez, nem sequer pus em questão ir trabalhar. Pois bem, e foi aqui que começaram os problemas.
Nos dias que estive em casa reparei que a minha colega nunca me ligou, não respondeu aos meus sms e quando falava comigo, fazia-o sempre num tom seco e muito, muito frio. Percebi que ela tinha ficado danada com a minha ausência, porque a verdade é que já a conheço e sem bem com quem trabalho. Claro que ela não sabia o verdadeiro motivo que me levou a ficar em casa e a verdade é que eu também não tinha intenções de lhe dizer. Estou no início, era muito cedo e tinham muito tempo de o saber!
A semana passou e segunda-feira regressei ao trabalho, curada e sem resquícios da gripe. Quando cheguei de manhã reparei que ninguém me deu os bons dias, ou perguntou sequer, se estava melhor. Ela não abriu a boca para falar comigo durante a manhã inteira e a única vez em que o fez, foi para dizer num tom agressivo e muito autoritário: 'Tens de ir entregar a tua baixa à S.'
Perante isto vi que o caldo havio entornado, primeiro, porque ali nunca ninguém pede baixa a outra pessoa por ficar em casa doente e com gripe, a não ser claro, que fique durante 15 dias e não 3 como eu fiquei, segundo, porque sei quando ela está escaldada e terceiro, já calculava que durante a minha ausência ela tivesse envenenado os ouvidos da directora, dizendo que eu tinha aproveitado o facto de a minha chefe estar igualmente de baixa - por ter sido operada - e de ter ficado em casa, me borrifado para o trabalho e feito gazeta. Bem dito, bem certo.
À tarde, depois de uma questão de trabalho que lhe coloquei e à qual ela nem se dignou a responder, decidi confrontá-la, perguntando-lhe directamente se se passava alguma coisa. A resposta foi um peremptório e seco:'Não, porquê?' - ao qual eu respondi:'É que parece, desde que cheguei que não me falas. Fiz alguma coisa?' E pronto, eu fiz a pergunta pela qual ela deve ter ansiado a manhã inteira e a partir daqui gerou-se um bate boca tremendo... ela começou a acusar-me de ter sido má colega, de me ter borrifado para o trabalho, de ter aproveitado o facto de ter a chefe de baixa para fazer gazeta, de não ter feito o sacrifício de ir trabalhar mesmo estando 'com uma simples constipação', ou até, de que ela já veio trabalhar muitas vezes doente, mas que nunca faltou, porque lhe 'pesa na consciência', coisa que pelos vistos eu não tinha. A conversa tomou logo uma dimensão tremenda de acusações, num tom muito ofensivo e eu confesso que fiquei estupefacta como é que uma colega de trabalho e de equipa pode ser tão baixo nível! Mas a verdade é que já sabia com o que devia de contar, pelo menos ali...
Entretanto, antes de tudo isto acontecer e durante a manhã, face ao ambiente pesado e tenso que me rodeava, tomei a decisão de que o melhor era mesmo abrir o jogo e dizer à directora - que tinha os ouvidos cheios pela outra e queria a minha cabeça - de que estava grávida e que esse sim, tinha sido o principal motivo pelo qual fiquei em casa de repouso absoluto. Tentei durante toda a manhã falar com ela no seu gabinete, mas estava sempre ocupada e só perto da hora do almoço o consegui fazer. Comecei por lhe dar o papel que trazia do médico, onde se podia perfeitamente ler que me recomendavam descanso absoluto e justificar-me perante a minha ausência. Ela começou a implicar, dizendo que aquele papel de nada servia e que aquilo não era baixa coisa nenhuma (esta da baixa é mesmo nova para mim). Eu disse-lhe que baixa não tinha, pois não costumo ir às consultas no centro de saúde e não tenho médico de família, vou sempre ao privado, e que por isso, se aquele papel não servia, então o melhor era mesmo descontarem-me no ordenado. Após isto, decidi lançar a bomba, disse-lhe: 'Para além disso, o verdadeiro motivo pelo qual me ausentei a semana passada é que estou grávida de 8 semanas e como deve imaginar, o início de uma gravidez conjugada com uma gripe como a que tive, onde não podia tomar nada, é muito perigoso e podem levar à perda do embrião. Para além disso estava com a tensão alta e a médica nem hesitou na hora de me dizer que eu tinha de ter repouso absoluto.' Ela ficou estupefacta a olhar para mim e lançou um breve olhar para a barriga. Deu-me os parabéns e disse, 'Ok, claro que sim'. E pronto a conversa ficou por aqui. Eu senti-me aliviada, mas confesso que tremia por dentro. Por um lado uma parte de mim estava mais que irritada, porque a verdade é que eu queria esperar pelas 12 semanas e senti-me quase obrigada a contar, mas já que toda a gente parecia querer julgar-me em praça pública, então tomem lá disto e fiquem a remoer-se.
Como se o dia não fosse já suficientemente pródigo em acontecimentos, a minha chefe - a que também está de baixa - decide mandar-me um email de casa a descompor-me por me ter ausentado durante a semana toda por causa de 'uma simples constipação', além de que me presentear com outras pérolas como 'não visto a camisola', ou que 'não me esforço o suficiente'. Uau... isto estava realmente a ficar cada vez melhor! Mas na verdade eu sabia, que estas reacções em cadeia se deviam apenas a uma e exclusiva pessoa, a mesma que não me falava e que tinha envenado todas as outras pessoas contra mim.
Decidi então responder ao email da minha 'querida' chefe, dizendo aquilo que julgava ser em minha defesa face às acusações laborais, mas sem mencionar o verdadeiro motivo: a gravidez.
E assim terminou a segunda-feira...
Terça-feira: O ambiente continuava pesado. Quando cheguei de manhã ao trabalho fiz questão de não dirigir palavra à minha colega que continuava muda e calada. De repente, ela vira-se para mim e diz: 'Mafalda, quando tiveres um tempinho quero falar contigo na sala de reuniões'. Eu apenas disse, 'Ok, quando quiseres' e fiquei a aguardar que ela me chamasse. A meio da manhã ela toma a coragem e fomos as duas em direcção à sala, já sabendo de antemão, que o assunto 'baixa' ou 'ficaste em casa doente', ainda tinha pano para mangas e continaria dentro de breves instantes. Bem dito, bem certo. A senhora começa a sacar das garras e o bate boca do dia anterior continua. Quando eu pensava que ela poderia ter reflectido sobre o que tinha dito no dia anterior e que esta conversa fosse agora decorrer em termos civilizados, proporcionando uma forma de eslcarecermos as coisas a bem, vejo-me confrontada com um ataque cerrado, impiedoso e implacável, voltando a insistir nas mesmas coisas: de que eu não fiz um esforço, de que eu não quis vir trabalhar, de que eu parti logo do princípio que ia para casa e pronto, de que eu só penso em mim, de que eu sou centrada no 'eu'... ando so on.
Perante a situação virei-me para ela e disse: 'Pois bem, queres saber qual é o verdadeiro motivo pelo qual eu fiquei realmente em casa? Não foi só uma simples constipação como lhe chamas, o verdadeiro motivo, é porque além de estar doente na altura, estou grávida de 8 semanas.'
Pensam que ela se mostrou mais piedosa? Qual quê. Continuou na mesma base, a dizer que agora que vou ter um filho, vou saber o que é ter o filho doente e vir trabalhar e que ela nunca, mas nunca, faltou ao trabalho mesmo tendo a filha doente, porque lhe pesa na consciência.' Como devem imaginar, a conversa não nos levou a lado nenhum. Terminou mesmo com um 'Eu não quero trabalhar mais contigo' da parte dela. Saí da sala a sentir o meu coração acelerado e quase a sair-me do peito de tão irritada e enervada que estava. Sentei-me no meu lugar e quando cheguei reparei que tinha outro email da minha chefe a continuar o assunto do dia anterior e outro rol de acusações...
Eu pensei que estava a endoidecer, a sério! Pensei que alguém me tinha rogado uma praga, desejado muito mal, enfim... sentia-me a começar a fraquejar perante os acontecimentos e a perder o controle sobre a situação. No entanto, respondi-lhe. E disse-lhe igualmente o que tinha acabado de dizer à outra: 'Não vim trabalhar porque estava doente com gripe e grávida. Sim, fiquei em casa.Não te queria dizer desta forma, por email, mas face aos acontecimentos é mesmo o melhor.'
Passado uns minutos ligou-me.
Num tom de voz muito querido e simpático disse: 'Sai daí do teu lugar, vai falar lá para fora' e assim que me vi livre da sala da agência começou a dar-me os parabéns e as felicidades e a querer saber tudo, como tinha acontecido, como é que eu tinha descoberto, etc.
E eu só pensava: 'cínica de merda. Estou rodeada por cínicas de merda!'
Disse logo: 'Oh Mafalda, se a razão era essa claro que tens todos os motivos para ter ficado em casa. Eu não sabia, não é?'
Fiquei tão irritada por tudo, que quando desliguei o telefone senti as lágrimas a começarem a escorrer-me pela cara abaixo. Afinal, se eu não estivesse grávida e tivesse 'apenas' com gripe, tinha sido comida viva por ter ficado 3 dias em casa, mesmo tendo justificação do médico para tal. Além disso, fui praticamente obrigada a revelar a todas que estava grávida quando não era essa a minha intenção e fui acusada de ser má colega, egoísta, pouco profissional...
Quando regressei ao meu lugar procurei acalmar-me, mas sentia-me alterada face a tudo e só tinha vontade de desatar num pranto. Levantei-me e decidi ir molhar a cara à casa de banho com água, pelo caminho cruzei-me com a minha colega que durante dois dias decidiu fazer-me a vida negra e com quem tinha acabado de discutir minutos antes. Ela olhou para mim e decidiu aliviar o peso na consciência que devia de ter na altura, dizendo: 'Pronto, desculpa, dá cá dois beijinhos' - agarrando-se a mim em seguida. Eu confesso que aquilo para mim foi a gota de água e não me consegui controlar. Desatei num pranto que só visto. Todos os nervos que tive durante aqueles dois dias convergiram naquele momento e aquele simples gesto de atenção para comigo, mesmo sabendo que era cínico e tudo menos verdadeiro, me pareceu como o consolo que eu queria e que não estava a ter da parte de ninguém. Ela puxou-me para uma sala que estava vazia e disse para eu me acalmar. Perante o meu pranto quase convulso, lá me deu os parabéns e fez algumas perguntas, pediu desculpas por se ter exaltado e que perante a minha justificação nem tinha argumentos porque pensou o contrário, mas que temos as duas um feitio 'explosivo' e que somos muitas mulheres a trabalhar juntas, que irá sempre haver stresses desses, que não queria ficar mal comigo, que se passava um pano sobre o assunto e que íamos começar de novo...
A partir daqui o ambiente desanuviou e ontem e hoje tem sido do melhor. Ela muito simpática e pretável e toda a gente muito contentinha e satisfeita, mas eu confesso que fiquei tão triste e magoada com toda esta situação, que todos os dias me custa levantar e ir trabalhar para ali, com aquelas pessoas, naquele ambiente, naquele lugar. Custa-me ver a hipocrisia que me rodeia, a maldade - porque foi isso mesmo que se passou - uma maldade pura e dura e a vontade de prejudicar o próximo. Eu só fui perdoada porque, vá lá, tive um motivo maior, que foi o facto de estar grávida. Coitada de mim se não o estivesse. Tinham-me feito a forca, cortado a cabeça e espetado com um pau bem no centro, onde todos pudessem ver. Irrita-me o ter revelado algo tão íntimo e pessoal, que só a mim e ao meu marido diz respeito a pessoas que não sentem o mínimo de felicidade pela minha felicidade, a pessoas que invejam aquilo que tenho, e acima de tudo, irrita-me ver que assim como eu fiquei doente, outra colega ficou, durante uma semana inteira, em casa, mas a essa, ninguém lhe pediu baixas, ou papel do médico... que aliás, ela nem tinha....

5 comentários:

Supertatas disse...

olááá mafalda!!
sabes que com isto dos blogs privados, não vejo os posts no google reader e depois fico com a leitura em atraso, bastante em atraso neste caso, bolas bolas 8 semanas :D :D
parabéns :D :D :D
que felicidade, verás verás, é o melhor do mundo :D
muito beijinhos nossos

Mafalda disse...

Tatas! que saudades! sigo o teu blogue religiosamente! és uma lufada de ar fresco para todas as recentes mamãs e afins! o teu minúsculo é liiinnndddooo!!! :D
beijos*

Anónimo disse...

como me revi neste discurso...nem imaginas.

mas é encarnar o espírito feng shui e pensares na coisinha maravilhosa que trazes dentro de ti! :)

****

Anónimo disse...

Realmente, Mafalda, não há saco para aguentar gente assim!!! O que elas mereciam é que metesses baixa durante toda a gravidez que é para verem quem se anda a baldar, quem não se esforça, quem não veste a camisola, etc, etc. Tinham um aninho para reflectir e dar valor ao teu profissionalismo. Cambada de gente ressabiada, é o que é!
Ignora, é o melhor que tens a fazer, sei que às vezes é difícil, mas para bem do teu bebé que neste momento é mais importante que qualquer outra coisa na tua vida, tem mesmo de ser.
Um beijinho grande! (para os dois ;-))

Salvaterra disse...

Amiga que felicidade, ESTOU TÃO FELIZ... IUPI... vou ser "tia".
parabéns a ti e ao C. estou radiante de felicidades! O resto são histórias para contares à/ao tua/teu rebento. sorri que essa sensação é única, não te sentes linda, cheia de vida? Força. Beijinhos de saudades que tenho da tua companhia, porque tu és uma verdadeira profissional, uma excelente amiga e uma competente colega. Beijão/aos/três.