domingo, fevereiro 28, 2010
e assim de repente...
quinta-feira, fevereiro 25, 2010
mon petit enfant terrible
Depois vem o drama da comida. Levo-lhe o biberão à cama, passo-lho para a mão assim que acorda e se levanta e depois estou os restantes 45 minutos a dizer: 'Madalena, e o leitinho?', 'Bebe o leitinho!', 'Olha o leitinho', com ela a não beber nada quando antes adorava e devorava litradas daquele leite que é caro como tudo.
O passo seguinte, uma vez que não quero que ela vá de estômago vazio para a creche, é sentá-la na cadeira e fazer-lhe um prato de papa. Outro drama mexicano.
Chora, berra, afasta-me as mãos, bate nas mesmas, esfrega-se toda de papa - cara, nariz, cabelos - e eu começo a ficar como uma personagem de um filme do Almodovar, ou seja, à beira de um ataque de nervos.
Respiro fundo, depois de várias insistências contrariadas, decido passar ao plano 'C'.
'Queres queijinho' - pergunto, e logo ela começa a esticar-se toda e a olhar em direcção ao frigorífico - numa ladaínha sôfrega de bebeguês - que, traduzido à letra, é qualquer coisa como, 'dá-me, dá-me, dá-me' e só se cala quando a vontade é satisfeita.
Acedo-lhe o pedido e passo-lhe para as mãos uma fatia de queijo partida em duas e um grande pedaço de pão. Ela sorri de contente.
Petisca-o, estraga mais do que aquilo que come, faz ronha, imensa fita, guincha se a contrario e a apresso e eu torno a olhar o relógio e a ver as horas a passar. São quase dez da manhã e eu em casa. Penso: 'e quando estiver a trabalhar?' e desisto logo de tais preocupações sofridas por antecipação.
Fico ansiosa, começo a irritar-me. 'Aqui quem manda sou eu' - digo-lhe - mas ela não faz caso e volta a troçar de mim.
Sinto-me muitas vezes impotente perante o seu feitio, mas não vergo, o que leva a que, neste momento, nesta fase em que ela se encontra, a nossa relação seja mais baseada em autoritarismo do que manifestações de carinho.
Sinto-me uma déspota, mas digo para mim mesma que tem de ser, senão qualquer dia não faço nada dela, que esta personalidade já lhe vem do berço, está-lhe nos genes e ninguém lhe ensinou tal coisa apesar de eu também não ser flor que se cheire.
Lembro-me da minha mãe e das suas queixas a meu respeito. E respeito-a. Lembro-me de como me dizia: 'um dia que tenhas filhos é que vais saber dar valor' e reconheço-lhe os sentimentos. Também eu era levada da breca.
Depois da tourada do comer, segue-se a tourada do: 'na cozinha só quero mexer no lixo ou andar com o garrafão de 5 litros de água pela mão', ou a tourada do 'caminho até ao carro', ou 'caminho até à creche', ou 'caminho da creche para casa', ou 'caminho da garagem até ao elevador'.
Em quase todos eles, há sempre um momento em que a menina Madalena se atira para o chão, de joelhos, ou estendida ao comprido, onde esperneia e chora como se a estivesse a matar.
Juro que até tenho vergonha quando me cruzo com os vizinhos. Ela guincha tanto ultimamente, que devem pensar que a pobre criança é um saco de pancada nas minhas mãos.
Na creche é igual. É drama para vestir o casaco, é drama para pegá-la ao colo, é drama para a sentar na cadeira do carro, é drama para tudo.
Tenho dias em que, confesso, sinto um alívio enorme quando a deixo na creche e em que fico logo alterada mal a vou buscar.
Quando tenho a ajuda do pai em casa a coisa corre mais ou menos, mas quando está sozinha comigo, gosta de puxar e mexer os meus botões até ao limite.
É por isso que só de pensar no dia de amanhã, até tremo.
Amanhã irei com ela às vacinas dos 15 meses, que serão dadas no braço.
Conhecendo a 'ferinha' como conheço, vai ser um episódio épico semelhante a um circo romano. Muitas lágrimas, sangue, suor e força.
Além de que não vai à creche e ficará comigo o dia todo.
Não sei como é que ainda não tenho um único cabelo branco mas, como os pinto, assim como assim, se aparecem, logo são camuflados, o que me vai dando a falsa ideia de eterna juventude', mesmo que esteja mais perto da loucura do que longe dela.
terça-feira, fevereiro 23, 2010
segunda-feira, fevereiro 22, 2010
a poderosa atracção dos homens pelas 'mulheres vulgaris'
sexta-feira, fevereiro 19, 2010
fait divers
quarta-feira, fevereiro 17, 2010
visões
terça-feira, fevereiro 16, 2010
mais do mesmo
quinta-feira, fevereiro 11, 2010
"when you try your best but you don´t succed"
Negativa.
E com ela se foi a pouca auto-estima residente e a esperança de começar a trabalhar no início de Março.
sexta-feira, fevereiro 05, 2010
lhasa de sela
fantasmas
O Jacinto Lucas Pires apareceu no curso que ando a frequentar para nos dar uma parte da formação.
Até aqui tudo bem.
Quando o vi, reconheci-lhe as feições, mas não soube logo dizer de onde aquele rosto me era familiar.
Quando pediu que nos apresentássemos fê-lo de uma forma muito descontraída, brincando com o assunto e dizendo que quem quisesse fazer o pino que o podia fazer, que aquelas iriam ser as apresentações mais divertidas de sempre, deixando-nos logo à vontade e na expectativa do que estava para vir.
Imbuída pelo espírito presente na sala, a Marta tirou do bolso um vermelho nariz de palhaço e colocou-o no seu, encarou-o de frente e disse:
- Chamo-me Marta e quero ser palhaça.
A expressão dele ficou difusa, perdeu o sorriso e no seu rosto podia ler-.se um enorme ponto de interrogação.
- Queres ser palhaça? Perguntou ainda hesitante.
- Quero, respondeu a Marta entre risos nervosos, levando-nos a todos a dar risos nervosos perante o desconforto evidente.
- Mas sabes que a condição essencial para se ser palhaço é não rir, não sabes?
- Acho que sim - e continuava a rir, sem conseguir articular um discurso muito coerente, numa forma quase inconsciente de que tinha ido longe demais.
- Houve uma altura da minha vida em que me senti um palhaço, retorquiu o Jacinto.
E pronto, percebi ali, preto no branco, que todo o escritor (e artista), vive a maior parte do tempo confrontado com os seus próprios fantasmas.