sexta-feira, fevereiro 05, 2010

fantasmas


O Jacinto Lucas Pires apareceu no curso que ando a frequentar para nos dar uma parte da formação.

Até aqui tudo bem.

Quando o vi, reconheci-lhe as feições, mas não soube logo dizer de onde aquele rosto me era familiar.

Quando pediu que nos apresentássemos fê-lo de uma forma muito descontraída, brincando com o assunto e dizendo que quem quisesse fazer o pino que o podia fazer, que aquelas iriam ser as apresentações mais divertidas de sempre, deixando-nos logo à vontade e na expectativa do que estava para vir.

Imbuída pelo espírito presente na sala, a Marta tirou do bolso um vermelho nariz de palhaço e colocou-o no seu, encarou-o de frente e disse:

- Chamo-me Marta e quero ser palhaça.

A expressão dele ficou difusa, perdeu o sorriso e no seu rosto podia ler-.se um enorme ponto de interrogação.

- Queres ser palhaça? Perguntou ainda hesitante.

- Quero, respondeu a Marta entre risos nervosos, levando-nos a todos a dar risos nervosos perante o desconforto evidente.

- Mas sabes que a condição essencial para se ser palhaço é não rir, não sabes?

- Acho que sim - e continuava a rir, sem conseguir articular um discurso muito coerente, numa forma quase inconsciente de que tinha ido longe demais.

- Houve uma altura da minha vida em que me senti um palhaço, retorquiu o Jacinto.


E pronto, percebi ali, preto no branco, que todo o escritor (e artista), vive a maior parte do tempo confrontado com os seus próprios fantasmas.

1 comentário:

Melissa disse...

bem, fiquei constrangida pela tua colega de curso. :)