O Jacinto Lucas Pires apareceu no curso que ando a frequentar para nos dar uma parte da formação.
Até aqui tudo bem.
Quando o vi, reconheci-lhe as feições, mas não soube logo dizer de onde aquele rosto me era familiar.
Quando pediu que nos apresentássemos fê-lo de uma forma muito descontraída, brincando com o assunto e dizendo que quem quisesse fazer o pino que o podia fazer, que aquelas iriam ser as apresentações mais divertidas de sempre, deixando-nos logo à vontade e na expectativa do que estava para vir.
Imbuída pelo espírito presente na sala, a Marta tirou do bolso um vermelho nariz de palhaço e colocou-o no seu, encarou-o de frente e disse:
- Chamo-me Marta e quero ser palhaça.
A expressão dele ficou difusa, perdeu o sorriso e no seu rosto podia ler-.se um enorme ponto de interrogação.
- Queres ser palhaça? Perguntou ainda hesitante.
- Quero, respondeu a Marta entre risos nervosos, levando-nos a todos a dar risos nervosos perante o desconforto evidente.
- Mas sabes que a condição essencial para se ser palhaço é não rir, não sabes?
- Acho que sim - e continuava a rir, sem conseguir articular um discurso muito coerente, numa forma quase inconsciente de que tinha ido longe demais.
- Houve uma altura da minha vida em que me senti um palhaço, retorquiu o Jacinto.
E pronto, percebi ali, preto no branco, que todo o escritor (e artista), vive a maior parte do tempo confrontado com os seus próprios fantasmas.
1 comentário:
bem, fiquei constrangida pela tua colega de curso. :)
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