quinta-feira, fevereiro 25, 2010

mon petit enfant terrible

Ela pode ter cara de anjo, mas a minha filha anda de me deixar com os cabelos em pé. A sério. As manhã nesta casa têm sido um drama sem fim. Os fins de tarde, idem. De manhã a gritaria começa logo assim que sai da cama. Embirrou que não quer trocar a fralda no trocador, onde guincha, esperneia e se contorce toda colocando-se de pé. Comecei a fazê-lo no chão do seu quarto, no tapete foto que lá existe, com o resguardo por baixo. Ao início achava muita piada e ficava quietinha o tempo suficiente para a mudar e vestir, mas agora... agora é para esquecer. Além disso, não há dia nenhum em que ela não saia da cama com uma valente cagada de presente para eu limpar logo pela manhã, o que se juntarmos o facto de ela não parar quieta enquanto a limpo e mudo a fralda, dá o cenário dantesco que neste momento conseguem visualizar nas vossas cabeças.
Depois vem o drama da comida. Levo-lhe o biberão à cama, passo-lho para a mão assim que acorda e se levanta e depois estou os restantes 45 minutos a dizer: 'Madalena, e o leitinho?', 'Bebe o leitinho!', 'Olha o leitinho', com ela a não beber nada quando antes adorava e devorava litradas daquele leite que é caro como tudo.
O passo seguinte, uma vez que não quero que ela vá de estômago vazio para a creche, é sentá-la na cadeira e fazer-lhe um prato de papa. Outro drama mexicano.
Chora, berra, afasta-me as mãos, bate nas mesmas, esfrega-se toda de papa - cara, nariz, cabelos - e eu começo a ficar como uma personagem de um filme do Almodovar, ou seja, à beira de um ataque de nervos.
Respiro fundo, depois de várias insistências contrariadas, decido passar ao plano 'C'.
'Queres queijinho' - pergunto, e logo ela começa a esticar-se toda e a olhar em direcção ao frigorífico - numa ladaínha sôfrega de bebeguês - que, traduzido à letra, é qualquer coisa como, 'dá-me, dá-me, dá-me' e só se cala quando a vontade é satisfeita.
Acedo-lhe o pedido e passo-lhe para as mãos uma fatia de queijo partida em duas e um grande pedaço de pão. Ela sorri de contente.
Petisca-o, estraga mais do que aquilo que come, faz ronha, imensa fita, guincha se a contrario e a apresso e eu torno a olhar o relógio e a ver as horas a passar. São quase dez da manhã e eu em casa. Penso: 'e quando estiver a trabalhar?' e desisto logo de tais preocupações sofridas por antecipação.
Fico ansiosa, começo a irritar-me. 'Aqui quem manda sou eu' - digo-lhe - mas ela não faz caso e volta a troçar de mim.
Sinto-me muitas vezes impotente perante o seu feitio, mas não vergo, o que leva a que, neste momento, nesta fase em que ela se encontra, a nossa relação seja mais baseada em autoritarismo do que manifestações de carinho.
Sinto-me uma déspota, mas digo para mim mesma que tem de ser, senão qualquer dia não faço nada dela, que esta personalidade já lhe vem do berço, está-lhe nos genes e ninguém lhe ensinou tal coisa apesar de eu também não ser flor que se cheire.
Lembro-me da minha mãe e das suas queixas a meu respeito. E respeito-a. Lembro-me de como me dizia: 'um dia que tenhas filhos é que vais saber dar valor' e reconheço-lhe os sentimentos. Também eu era levada da breca.
Depois da tourada do comer, segue-se a tourada do: 'na cozinha só quero mexer no lixo ou andar com o garrafão de 5 litros de água pela mão', ou a tourada do 'caminho até ao carro', ou 'caminho até à creche', ou 'caminho da creche para casa', ou 'caminho da garagem até ao elevador'.
Em quase todos eles, há sempre um momento em que a menina Madalena se atira para o chão, de joelhos, ou estendida ao comprido, onde esperneia e chora como se a estivesse a matar.
Juro que até tenho vergonha quando me cruzo com os vizinhos. Ela guincha tanto ultimamente, que devem pensar que a pobre criança é um saco de pancada nas minhas mãos.
Na creche é igual. É drama para vestir o casaco, é drama para pegá-la ao colo, é drama para a sentar na cadeira do carro, é drama para tudo.
Tenho dias em que, confesso, sinto um alívio enorme quando a deixo na creche e em que fico logo alterada mal a vou buscar.
Quando tenho a ajuda do pai em casa a coisa corre mais ou menos, mas quando está sozinha comigo, gosta de puxar e mexer os meus botões até ao limite.
É por isso que só de pensar no dia de amanhã, até tremo.
Amanhã irei com ela às vacinas dos 15 meses, que serão dadas no braço.
Conhecendo a 'ferinha' como conheço, vai ser um episódio épico semelhante a um circo romano. Muitas lágrimas, sangue, suor e força.
Além de que não vai à creche e ficará comigo o dia todo.
Não sei como é que ainda não tenho um único cabelo branco mas, como os pinto, assim como assim, se aparecem, logo são camuflados, o que me vai dando a falsa ideia de eterna juventude', mesmo que esteja mais perto da loucura do que longe dela.

7 comentários:

Márcia disse...

Por cá é o mesmo e vais ver que melhora...e...há dias que também piora...e depois melhora!!!

Faz parte de uma fase importante do desenvolvimento, a individualização e afirmação do eu, mas com te compreendo pq até se me arrepia os pelinhosda nuca qd se põe com esses propósitos! Só tenho vontade de espancar a criancinha!

Em relação às birras e respectivos mergulhos para o chão, ignora - tem vindo a resultar por cá e já faz muito menos.

Mas há esperança, pelo menos assim dizem os pás e mamãs de fedelhos/as mais velhos!!!

Beijos grandes e boa sorte para amanhã...
Márcia

Melissa disse...

Conselho se fosse bom, vendia-se, e eu odeio dar palpites, mas aqui fica o meu: se o meu não come o que lhe ofereço, fica com fome. E mais nada. Temos coisa de meia hora para sair de casa, não há tempo para cowboiadas.
Fez fita umas duas vezes e agora come o que houver.
Não te preocupes muito com isso, que eles almoçam super cedo na creche. O problema das substituições é que eles topam logo que podem ter o que querem.

(hahahah ando poderosa, porque ando a tirar o biberão ultranoite do Gabi!)

beijinhos!

Seni disse...

LOL... o que eu mi ri por causa do garrafão de 5L!E que o Sr. Santiago é igualzinho! Olha tenho uma foto do Santiago com a bela da pá na mão tb :) hei-de posta-la!!
Em relação ás birras, nada te posso dizer para te animar. Apenas, tens de aguentar! Mãe sofre
kiss

Clementine Tangerina disse...

Aiiiiiiii o que me espera...

Sofia e Beatriz disse...

Tenho o mesmo "problema" aqui em casa...
Assim que o meu despertador toca, rezo para que a minha filha acorde bem disposta. Assim que abre a pestana, pergunta-me "onde vamos?", e quando digo "para a escola", aí sim, começa o drama matinal.
Foge de mim, porque não se quer vestir, dou-lhe o leite e ela poe o biberon em cima da mesa... houve um dia, em que ela já estava prontinha, e quando eu abro a porta de casa e a chamo, ela chea ao pé de mim só de camisola interior! Ia morrendo!
Todos os dias chora (fita, mas enfim). Já a pus de pijama ao pé do elevador, e disse-lhe que ia assim para a creche. Só ameaçando é que ela cede.
Quando a deixo na creche e me sento no carro, estou completamente exausta :(
Bjos, de quem te compreende

Maffa disse...

Mas gira está ela!!!!!!!!! é linda a tua filha! (näo me canso de dizer...)
Olha nem sabes o alívio que foi este post. Andamos a passar pelo mesmo. É só drama... tudo é motivo para berreiro escandaleira, atirar com tudo para o chäo. Está díficil fogo...
Mas acho que isso de näo ceder é muito bom!! é dificil mas é bom. O martin desde que acorda vai a correr para a televisäo e só quer ver DVDs... por ele passava o dia nisso. Dizemos que näo ao fim de vários episódios da porcaria da série dinamarquesa e cai a casa! Ou está a ser entretido com atencäo total nossa com livros, bolas de sabäo ou plasticina ou entäo está a choramingar por dá cá aquela palha. Hj saímos de casa às 9 da manha, porque fora de casa ainda se porta bem... (vamos lá ver até quando...)
Beijinhos e boa sorte!!

parece impossivel! disse...

Bem, assim sendo o meu é um verdadeiro santinho. Não quero falar muito mas o rapaz só sabe é rir e paródia. Come que é uma alegria e só se passa na muda de fralda onde decide fazer tudo e mais alguma coisa. Nas refeições meto-lhe 2 colheres na mão e ele entretem-se, qd se chateia chego-lhe um mini recipiente de plástico, coloco lá um bocadinho da comida dele e elá fica ele entretido e muito atento a mexer com as mãos, com as colheres na comida, a tentar levar à boca, a esbodegar a cozinha toda, mas eu nem quero saber. Está distraido e vai abrindo a boca. Também tem predilecção por vassouras e garrafões de 5L- O que mudou muito nas refeições, onde até há 2meses ele fazia um berreiro foi tirá-lo da cadeira de refeições. Comprei umas adaptaveis às cadeiras e o rapaz sente-se um rei no trono. Quando vou ao porto ainda adora mais, A minha mãe comprou uma mesinha no Ikea e uma cadeirinha de criança e senta-o ali, à mesa, é vê-lo feliz feliz!Mas também não lhe dou hipoteses, faz fita, não come.
No outro dia dei-lhe a 1ª sapatada na mão, isto depois de ter estado 1h a dizer "não", a dizer que não estava a brincar e ele a rir como se estivessemos numa espécie de brincadeira, e continuava a fazer o mesmo. 1h mais tarde, comigo já mais vermelha que um pimento, dei-lhe uma sapatada na mão e pronto...calou-se, ficou estático, baixou os olhos e ficou literalmente ofendido comigo. Ficámos assim 15 min em silêncio, com ele a olhar para o chão e para mim de lado e eu a olhar para ele tentando não vergar. Se já me sinto cansadíssima com as pequenas coisas dele, se muitas vezes penso que está na hora de o ir buscar e sinceramente só me apetecia ter 5min para mim, imagino tu...!