Quando se está separado e há uma custódia partilhada, por muito que os pais se entendam em prole de um filho em comum e a relação seja pacífica, há coisas que falham e geram desentendimento. É inevitável, ou quase inevitável. Claro que tudo depende do bom senso, da forma como os progenitores levam o assunto, deixando de lado as suas próprias motivações ou quezílias pessoais e tendo como único e derradeiro objectivo, o interesse maior do filho.
Digo isto porque ontem, enquanto lia o caderno da escola da M. relativamente à semana que passou com o pai, constatei que na sexta-feira que antecedeu o fim-de-semana do dia da Mãe, a escola mandou um recado onde pedia às mães que fossem ao colégio ler histórias aos meninos.
Eu nada soube, o que significa que a minha filha não teve lá a mãe a ler histórias a ninguém.
Não sei se foi a única menina a não ter a mãe presente, mas seja como for, só a mera ideia da ausência, aflige-me. Já nem falo do facto de nem ter tido conhecimento do assunto, mas aflige-me por ela, porque não quero, de forma alguma que ela sinta - seja de que maneira for - que a mãe, por falta de tempo, ou de interesse - falhe em momentos importantes como estes.
Acredito que o pai não me tenha dito por distracção, por não ter sequer lido o caderno, por esquecimento, porque é naturalmente despistado. Até estou disposta a dar esse benefício da dúvida, mas caramba, não consigo deixar de me sentir profundamente revoltada. E sim, ela até pode ser pequenina e nem se ter apercebido (yeah right), mas eu apercebi-me e não gostei. Da mesma maneira que, na semana que antecedeu o dia do Pai, constatei que a escola tinha pedido fotos dos pais com os filhos para afixar no placar da entrada - e ela era das poucas que não estava lá com o pai -, da mesma maneira em que corri a ligar-lhe para que ele enviasse uma foto dos dois e, a partir do momento em que o fez, ela me disse, orgulhosa, quando cheguei à escola para ir buscá-la: "olha mamã, sou eu e o meu papá", enquanto apontava para a imagem entretanto afixada, gostava que ele tivesse tido a mesma atitude para comigo.
Porque há-de haver dias e momentos em que se calhar não conseguirei estar com ela, seja por força das circunstâncias, ou por outro motivo qualquer, mas não sem antes lhe explicar o motivo, o porquê, sem lhe demonstrar que a amo.
Não assim, sem uma palavra, um silêncio atroz, um quase desinteresse.
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