Para uma pessoa que trabalha numa área ligada à comunicação custa muito ouvir/ler notícias como as que se tornaram públicas hoje:
Casa Cláudia, Casa
Cláudia Ideias, Arquitectura & Construção, Autosport, Volante, e os sites Relvado e
Mygames serão descontinuados.
Este "downsizing" significa o despedimento de 50 pessoas só no grupo Impresa.
E mais 36 no Jornal Público.
Pergunto-me: onde vamos parar? Sem ecónomia e poder de compra que nos valha, cortam-se nos bens mais supérfluos, revistas e jornais passam a ser produtos secundários. Quando não há dinheiro nem para comer, como é que ainda se compram revistas? Não compram e entramos num ciclo de pescadinha de rabo na boca. Sem dinheiro não se compram revistas, as vendas descem, a publicidade diminui, corta-se nas pessoas, despede-se sem dó nem piedade, encerram-se títulos que se ajudou a criar e a crescer.
Com esta crise e esta conjunctura deixou de haver jornalismo. Explora-se o estagiário a receber apenas o subsídio de refeição e ao qual se exige o mesmo número de horas que um profissional que já exerce a profissão há anos, a quem se matam aos poucos sonhos e ilusões. Lembro-me tão bem dos meus primeiros empregos em que não me importava de ganhar pouco porque o que eu queria era uma oportunidade, o estar ali perto da notícia, o sentir que fazia parte de uma equipa, o aprender, uma sede inesgotável por aprender. Mas isso não dura sempre e rapidamente a ilusão e a vontade dão lugar à amargura. Se estamos presos por arames, num jornalismo feito por aprendizes a quem se acena com meia dúzia de tostões e uma mão cheia de promessas vãs, mais tarde ou mais cedo a fenda abre, a qualidade do serviço diminui e isso é visível na escrita, na investigação (qual investigação?), nos artigos, na linha editorial, no produto final, em suma, em tudo. Deixou de haver contratos e trabalha-se à peça, para demorar mais de 90 dias a pagar, ou andar a adiar a pagar, porque freelancers é sempre sinónimo de gente que faz uns biscates e que mesmo assim sobrevive.
Esta segunda-feira deixou-me deprimida, ainda mais deprimida do que já ando. Tem sido uma rentrée dura e um Outono do caralho (apetece-me dizer asneiras, por serem tão catárticas e libertadoras).
E se há dias em que uma pessoa fecha os olhos e repete para si mesma: "um dia de cada vez, um dia de cada vez" para não começar a hiperventilar com sinais de ansiedade, outros há em que nos tiram de uma só vez toda a ponta e réstia de esperança que ainda batia dentro do peito.
Foda-se para isto.
3 comentários:
Subscrevo! Foda-se para isto!
Subscrevo! Foda-se para isto!
Mesmo! Foda-se para isto também! Compreendo tão bem o que dizes sobre as ilusões de quem estagia. Quando fiz estágio, pensava que ia mudar o mundo, que nunca iria cruzar os braços. Todos os dias tinha ideias diferentes e inovadoras e achava o meu dia-a-dia interessantíssimo. O sistema encarregou-se de me fazer mudar de ideias. Continuo a achar-me boa profissional, mas houve tanta, tanta coisa que mudou em mim. O economicismo do nosso Ministério, as barbaridades experienciais, o passarmos a vida a mudar de programas e de nomenclaturas para as mesmas coisas, desgasta. Ter turmas de 35 (!) miúdos, quando o máximo são 30, em salas onde não há espaço, corta a vontade a qualquer um.. E é neste país que vivemos... de sonhos amarrados, a viver penosamente cada dia...
Ufa! Foda-se mesmo para tudo isto!
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