Almoço quase todos os dias na copa do meu local de trabalho.
Recentemente criaram um espaço amplo e com todas as condições para as pessoas
almoçarem e constatou-se que com a copa as pessoas almoçam mais na empresa. Não
só almoçam mais na empresa como também convivem mais. E não só convivem mais,
como também as que não almoçavam passaram a almoçar, trazendo comida de casa,
porque agora sim, têm todas as condições para o fazer. Mais do que isso – de ter
um novo espaço, com luz, com vários micro-ondas, vários frigoríficos e várias
mesas onde cabe sempre mais alguém – há também no edifício uma nova máquina com
refeições boas, baratinhas e com menu variado - que permitem a quem não traz
comida de casa ir rapidamente à máquina e por menos de 3 euros, almoçar uma
refeição decente. O que é prático e num local onde as ofertas de almoço por
perto não abundam dá sempre jeito. O resultado traduz-se por isso e como já
tive oportunidade de dizer, em uma copa cheia à hora do almoço.
Hoje, como todos os outros dias, rumei à copa para aquecer a
minha comida e almoçar a minha refeição. Há dias em que a copa está de tal
forma cheia que não há lugares para tanta gente e em que parece que estamos num
restaurante à espera de mesa, com fila para aquecer a comida e para as
cadeiras. Também há um grupo enorme de jovens estagiários que entraram todos na
mesma altura e que, por norma, comem todos juntos, fazendo um círculo que chega
a ter dez ou mais pessoas todas apertadinhas e em amena cavaqueira.
Estava eu na copa, sentada sozinha a uma mesa, junto a
outra cheia de estagiários apertadinhos que encontram na hora do almoço o
momento perfeito para relaxar e falar de tudo aquilo que não podem durante o
horário de trabalho, não se coibindo de dizer aquilo que pensam sem medir consequências.
A minha teoria é de que, provavelmente, como me veem a comer na mesmíssima copa
com um tupperware em frente, sou apenas mais uma – que sou – mas sem medirem as
consequências das conversas que têm mesmo a meu lado. Não que eu represente um
perigo. Não é essa a questão, a questão passa por me lembrar de ter a
mesmíssima idade e de ter mais ou menos a mesma atitude, coisa que hoje em dia
reprovo. Recordo-me dos deslumbramentos, das frases cheias de afirmação e dos
comentários que vinham directamente do cérebro para a boca sem filtro. E penso, “Meu Deus, que ingénua e arrogante
era ao mesmo tempo… e burra, burra por sempre ter tido esta mania de falar mais
do que aquilo que realmente devo”. O que é mais ou menos o mesmo que penso
destes jovens que comem a meu lado, em que censuro o que dizem sem filtro e sem
terem noção das consequências – ou dos problemas que podem ter – em ter aquelas
conversas no local onde esperam ficar a trabalhar.
E querer mandar-lhes dois berros bem alto e dizer: “Meninos, tenham lá juízo, acabou-se a
brincadeira”, que nem uma velha sem paciência. Mas ficar calada e continuar
a comer, sozinha naquela mesa, tendo como companhia o meu tupperware. Porque se
há algo de bom que os anos e as cabeçadas da vida me ensinaram, é que é sempre
melhor ouvir do que falar e que mais vale só do que rodeada de gente que mais
tarde ou mais cedo nos pode apunhalar pelas costas… principalmente quando o
assunto é trabalho.
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