quarta-feira, novembro 26, 2014

o ponto do não retorno

Por causa deste post da Marta sobre um 'quase-episódio' de violência doméstica e de como o mesmo fez com que a relação nunca mais voltasse a ser a mesma, dei por mim a pensar num episódio semelhante que aconteceu comigo e que também foi o ponto de viragem no meu casamento na altura.
O meu ex-marido sempre foi um homem afável, simpático e cordial com toda a gente. Desfazia-se em amabilidades com tudo e todos e era impossível não haver quem dissesse que aquele rapaz não era 'um bom rapaz'. E ele sabia disso e disso fazia gáudio. Mas eu também sabia que o seu intímo não era assim tão 'bom' quanto fazia transparecer e que havia um lado negro que quando se revelava mostrava a sua força. Presenciei várias situações que me deixaram surpresa, como quando a gata miava na varanda - impossibilitada de vir para dentro de casa pelo próprio - quando lá fora caía um temporal desgraçado  e ele decidiu mandar um murro na porta de vidro ao ponto de a partir achando que dessa forma o animal se calava. (Quem é que era o animal aqui? Pois...)
Este foi um de vários episódios, mas o derradeiro, aquele que mudou o meu 'set-mind' chamemos-lhe assim, foi num dia em que era a M. pequenina e eu estava na casa de banho a dar-lhe banho. A miúda, já não me recordo o porquê, mas nesse dia estava particularmente impossível e chorava muito. Lembro-me que o chamei para me ajudar e que tivemos uma enorme discussão à frente dela, para logo a seguir e levado pela fúria do momento, me empurrar com força - fazendo-me desequilibrar só parando contra a parede - e me tirou o chuveiro das mãos. Nesse momento que, se calhar para ele foi insignificante, tudo fez sentido para mim. De repente passei a ver tudo claro e na minha cabeça as ideias e as certezas arrumaram-se. Lembrei-me de cenas que presenciei em casa dos meus pais e que jurei que nunca teria na minha vida. Lembrei-me de tudo aquilo que eu não quero em alguém que esteja ao meu lado, mesmo que esse alguém seja o pai da minha filha e, acima de tudo, lembrei-me que por mais sorrisos e amabilidades que vejamos numa pessoa ela revela-se como verdadeiramente é nos momentos mais insignificantes. E que eu não gostei do que vi.
Porque é mesmo isso, basta que me batas uma vez, basta que tenhas a atitude, ou que sejas quase tentado ou levado 'a'. Basta uma vez para ver tudo claro e para ter a certeza de que se tens a atitude uma vez, terás a atitude sempre, porque ela te passa e existe na tua cabeça.
Esse foi o meu dia (e ponto) de viragem e nunca, mas mesmo nunca me arrependi da decisão que a partir daí tomei.
 
E orgulho-me muito disso.

1 comentário:

Maria disse...

E eu orgulho-me muito da tua força e ainda mais por confessares esse episódio. Estas palavras podem ser lidas por alguém que passe pelo mesmo e podem ajudar a dar o "clique" que pode fazer a diferença no futuro. É por estas coisas que eu gosto de ti. :) És grande!
Beijinho