quinta-feira, abril 30, 2015

Difícil é parir a mãe

Assim que a Sofia Anjos começou a escrever no jornal Público as suas crónicas sobre maternidade e o lado menos 'rosado' da mesma, que me identifiquei imediatamente com ela. Ali estava uma gaja - acho que a posso tratar assim, com todo o respeito, apesar de não a conhecer de lado nenhum - com o mesmo emprego que eu, com a mesma faixa etária, com os mesmos pontos de vista e a falar abertamente sobre os temas e assuntos que eu sempre defendi e com os quais, na sua grande, grande, maioria partilho da mesmíssima opinião! Todas as semanas ansiava e devorava as suas crónicas, partilhando muitas delas na minha página pessoal do Facebook e lendo, estupefacta, as centenas de reacções, algumas bastante agressivas, que as suas palavras tão honestas e incisivas misturadas com o seu humor mordaz e cáustico (que eu tanto aprecio) despertavam no mais comum dos mortais. Na altura eu encontrava-me a escrever para o blogue A Vida de Saltos Altos do Jornal Expresso e as minhas crónicas nunca poderiam ser tão centradas apenas e só nas grandes questões da maternidade, porque não era esse o único propósito da rubrica, apesar de em muitos textos aflorá-las, já que era um blogue onde o espaço era, acima de tudo, de e para mulheres. Mas no caso do espaço e canto da Sofia no Público, admirava a frontalidade e seguia-a com entusiasmo.
Ali estava uma gaja com tomates - salvo seja - capaz de falar abertamente sobre tantos temas 'tabus', onde a maioria das pessoas possui opiniões tão vincadas ou certezas quase fundamentalistas. E não há pior fundamentalismo do que o maternal quando a coisa descamba, quando nos consideramos as mentoras das certezas da vida e do universo só porque parimos.
A Sofia soube ser superior a isso tudo, imune às críticas ou comentários insultuosos, onde lhe deixavam pérolas como "uma pessoa como tu nunca merecia ter tido filhos!". O típico destilar de ódio e veneno puro e duro encontrado nas redes sociais e caixas de comentários, só porque alguém tem uma visão e opinião contrária à nossa. 
Pessoalmente, como já referi, identifico-me muito com a Sofia no que concerne às teorias sobre maternidade, relacionamento de casal, filhos, amamentação, ou de como a nossa vida leva um coice do avesso sem pré-aviso. Sou muito adepta do "se para ti funciona óptimo, aplica-o" nesta coisa do ser mãe ou pai e não me considero nenhum ser superior só porque tive esse privilégio na vida.
Se há quem venere amamentar até as crianças terem a dentição completa, óptimo, que o faça. Se há quem decida secar o leite ainda está no hospital, óptimo, que o faça. Se há quem nunca coloque o bebé na cama dos pais por achar que o está a habituar mal, óptimo, que o faça. Se há quem defenda que o cosleeping é que vale a pena e que reforça os laços familiares, óptimo, que o faça. Se há quem não queira ter filhos porque não quer ter essa responsabilidade e escolha uma vida preenchida de outra forma que não passa por procriar, óptimo, que o faça. Se há quem decida ter cinco ou seis filhos de enfiada, óptimo, que o faça. 
Nesta coisa do ser pai ou mãe cada um sabe de si. Cada um tem a sua experiência e motivos, cada um adapta ou faz consoante lhe convém. O que funciona para ti pode não funcionar para mim e qual é o mal? Ninguém é mais mãe ou pai por isso. Pessoalmente não considero que uma mãe seja mais do que outra só porque teve um filho e se anular enquanto pessoa com interesses e gostos próprios. De que serve uma mãe cansada, infeliz, miserável, esgotada ou que vive a sua vida em função das conquistas de um filho? Será mesmo isso que queremos um dia mais tarde? Não quero com isto dizer que não há sacrifícios que fazemos quando temos filhos, coisas que deixamos de comprar, de ver, de ir, de desfrutar. Há. Faz parte. Eu passo por isso. Coloco-a em primeiro lugar, brevemente terei de aprender a fazer essa gestão por dois e a colocar-me não em segundo mas em terceiro ou quarto lugar, mas há sempre momentos em que temos de pensar em nós. Sem culpas de que somos egoístas ou menos mãe por o fazer. E falar, abertamente e sem medos, com muito humor à mistura, de preferência, sobre o lado menos cor-de-rosa da maternidade. Que existe e quem o nega não diz a verdade. Ter espírito crítico e abertura, aprender e saber relativizar e, no final, qualquer que tenha sido a nossa experiência ou vivência, saber rir das situações mais trágicas ou positivas é um enorme sinal de maturidade. 

A Sofia Anjos, voltando ao tema inicial deste post, (que entretanto já divaguei demasiado) compilou agora em livro as suas crónicas - "Difícil é parir a mãe" - algo que eu sempre almejei fazer e nunca consegui. Mas pronto, vou acreditar que ainda me estará reservado num futuro próximo. Por agora faço uma verdadeira vénia a esta senhora e, se possível, releio tudo outra vez. Será um prazer. 

1 comentário:

Maffa disse...

Amen!
Também adoro a Sofia ANjos!