Em janeiro de 2015, ainda nem sabia o sexo da criança, apressei-me a garantir e a tratar das papeladas para inscrever este pequeno ser que aí vinha numa creche com apoio social. Os preços de uma creche ou colégio privado em Lisboa são obscenos e, com uma filha mais velha a frequentar um deles sei bem do que falo. Com mensalidades a rondar os 500 euros não há ordenado que nos valha quando a situação chega aos dois filhos e ainda se tem de pagar casa, contas, alimentação, carro e todas as despesas inerentes a uma família. A solução passava por isso por tentar vaga numa IPSS e não havia tempo a perder, tínhamos de tratar do assunto o mais rápido possível.
Inscrevemos o Afonso em 6 creches IPSS. 6! Três colégios João de Deus e mais outras três creches, uma delas mesmo em frente a casa e pertencente à minha área de residência, onde apresentámos todos os papéis exigidos, rendimentos, IRS, declarações da empresa, recibos de vencimento e tudo o que pediam e mais um par de botas. De todas, apenas uma nos fez uma entrevista com a coordenadora social e nos calculou um valor da mensalidade que, supostamente e caso conseguíssemos vaga, iríamos ficar a pagar. Quase todas, ou praticamente todas nos deram resposta como "Ah, mas ainda nem nasceu? E quando é que nasce, em Junho? Ah mas isso assim não dá. Para Setembro não garantimos vaga, ainda é muito pequenino, não tem os meses mínimos para entrar e mais tarde também não porque temos muitas crianças em lista de espera." Mesmo colocando a hipótese de a partir de Setembro começarmos a pagar a creche - mesmo sem a criança a frequentar - e garantindo desta forma a vaga para quando regresse ao trabalho, lá para novembro ou dezembro, torceram-nos sempre, sempre, sempre o nariz.
Pelos vistos até no mês para se nascer é preciso ter sorte. Se nasce em Junho ou daí em diante estamos tramados. O ano lectivo começa em setembro e de junho a setembro vão 3 meses no máximo, o que significa que ainda não tem os 4 meses mínimos necessários para ir para o 'estaleiro' e lá ficar o dia inteiro. Mesmo com a nossa disponibilidade de pagarmos a vaga, mesmo sem a usufruir, mesmo tendo colocado a hipótese de ele lá ficar umas duas horas por dia, apenas por uma questão de habituação e integração. Nada feito.
O Diário de Notícias fala sobre o tema numa capa que já é de segunda-feira e que continua a ser actual. A mim, pessoalmente, toca-me profundamente. A morar em Lisboa há anos enfrento novamente o problema de andar às voltas e desesperada por uma vaga para esta criança que vai nascer em junho, quando tratei de tudo em janeiro e, nem mesmo assim, consigo um lugar. Nem mesmo na creche que existe na minha rua e para a qual hoje liguei e obtive uma resposta como: "Mas a criança ainda nem nasceu, mesmo tendo feito a pré-inscrição em janeiro, temos sempre de submeter as pré-inscrições a aprovação e, no seu caso, dificilmente conseguirá."
Saltou-me a tampa, a sério que saltou. Perguntei: "Então diga-me quais são os critérios que entram em linha de conta para aprovar a minha pré-inscrição feita em Janeiro?" Do outro lado não me souberam responder. Se me dão uma resposta destas logo à partida, então porque é que em janeiro eu tive de disponibilizar a esta gente toda a informação sobre os rendimentos do meu agregado familiar se, quando fiz a inscrição, já sabiam que a criança ainda não tinha nascido, dificilmente iriam arranjar vaga para a mesma e mesmo assim aceitaram? Do que é que adianta inscrever uma criança que ainda nem nasceu com quase um ano de antecedência se depois, nas IPSS, passam à frente outros critérios e cunhas que não, necessariamente a ordem de inscrição ou, tão somente, a área de residência?
Quando, na altura, inscrevi o Afonso em várias IPSS todas me disseram que em Maio seriam validadas as inscrições e, caso tivesse vaga, seria contactada. Estamos a 20 de maio e, até agora, o meu telemóvel não tocou uma única vez a dar nenhuma boa nova nesse sentido. E, sinceramente, tenho sérias dúvidas que isso aconteça. O que me faz pensar no que irei fazer caso não consiga vaga numa creche cuja mensalidade não seja superior a 300 euros.
Que ajudas o estado dá nestes casos e situações? Zero. Nenhumas. Porque, para o estado, provavelmente sou rica e posso pagar uma creche privada onde as mensalidades começam nos 300€ e onde cobram mais 100€ pela alimentação, mais 50€ por prolongamento caso não consigamos ir buscar a criança até às 17h00 (mas quem é que tem empregos que lhes permita sair para ir buscar uma criança até às 17h? Só se trabalhar na função pública, o que não é o meu caso!) Fora as fraldas, as pomadas, as papas e os leites que temos de providenciar sempre em dobro porque a escola não arca com esses custos.
Pois eu estou na categoria "azar dos azares", ou seja, não possuo nada que me possa aliviar a situação. Nem ordenado milionário, nem avós para irem buscar a criança à creche mais cedo e lhe darem banho e jantar enquanto eu não chego, nem amas ou babysitters que o façam por mim. Nesta casa dependemos apenas de nós próprios e nem mesmo quando tentamos fazer tudo 'by the book', o sistema ajuda.
Este país não é para velhos nem para crianças nem para quase ninguém.
2 comentários:
mesmo na funçpão pública não se tem esse horário, é um mito!!!
Acredito que sim e não querendo interpretar mal quem trabalha na função pública, o que quis dizer com este exemplo exagerado é que as creches não possuem horários flexíveis que se adequem com os horários dos pais actualmente. Acredito que fora de Lisboa as coisas sejam mais simples e mais baratas, mas os preços que se praticam na capital são obscenos, não consigo encontrar outra palavra para descrever a situação. Toda a situação é surreal e não abona a proveito de ninguém, nem dos pais ou famílias, nem das crianças.
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