quinta-feira, janeiro 14, 2016

Escola pública ou particular? Eu tenho os dois mundos.


Tenho dois filhos em escolas completamente diferentes. E de ambas as situações tiro pontos positivos e negativos. A Madalena frequenta, desde os 3 anos, um colégio privado. Por vicissitudes da vida – e também por na altura estar em processo de divórcio – a Madalena acabou por entrar para um colégio privado aquando do meu regresso a Lisboa. Colégio esse onde permanece até hoje. Como entrou tão pequenina, foi ali que começou a ter a noção do que é viver em comunidade, com regras, a fazer amizades que a marcaram e, também, a ser muito mimada por todo o staff de educadoras e auxiliares. Nunca senti, da parte da minha filha, aquela ansiedade que muitas crianças têm do “não quero ir à escola” e isso sempre me deixou feliz. A escola, para ela, sempre foi um lugar onde se sente bem e um prolongamento de casa. Conhece todos os recantos e toda a gente. Ali estão, à semelhança de casa, as “pessoas dela” e, com isto em mente, os anos foram passando e ela por lá foi ficando até ingressar no primeiro ciclo. Se por um lado um dos motivos que mais pesa na minha escolha em mantê-la naquela escola privada se deve ao facto de saber que ela gosta de lá estar, por outro, a mensalidade – que não sou eu que pago, mas sim o pai – o uniforme com que tem sempre de andar vestida (e onde cada peça de roupa custa uma pequena fortuna!), assim como todo o material que pedem no início do ano letivo - que é sempre uma lista gigantesca e excessiva - ou os preços que praticam para as mais diversas atividades – cada atividade extra curricular custa, em média, 60 a 70 euros - fazem com que seja muito difícil manter um filho numa escola com aquelas condições se não ganharmos uma pequena fortuna – o que não é, d todo, o caso.
Por isso, quando fiquei grávida do segundo filho e com um orçamento familiar cada vez mais esmifrado, era urgente pensar numa solução para o Afonso e, feitas as contas, rapidamente constatámos que coloca-lo num colégio particular dificilmente seria uma opção. Tentámos por isso inscrevê-lo em todas as IPSS que pudemos, o mais cedo possível e rezar para que fosse aceite em uma delas. Tivemos sorte e assim foi. O Afonso entrou para uma IPSS que fica a 10 minutos do meu local de trabalho e a 15 de casa, assim como perto do colégio da irmã.
Não é uma escola cheia de manias nem pretensões. Ali tudo é simples mas feito com atenção e carinho. A sala dos bebés não tem decoração pomposa nem “matchy-matchy”, as auxiliares não andam de uniforme igual com as cores do emblema da escola, a festa de Natal não demorou 3 horas e não foi num auditório “xpto” de uma qualquer universidade de renome. Na IPSS do Afonso não preciso de levar toalhitas nem papa para lhe darem de comer ou limparem o rabinho, a escola fornece isso. Nem preciso de me preocupar com a comida, porque, tirando o leite, tudo está incluído na mensalidade e não nos cobram nem mais um euro por isso. No Natal, ao contrário do colégio pomposo da irmã – onde uma só mensalidade daria para comprar um miminho para praticamente quase todos os meninos que o frequentam mas onde nunca dão nada – na IPSS do Afonso houve presentes para todos os bebés e meninos, trazidos por uma “mãe Natal”, oferta da escola, assim como um lanche convívio com todos os pais. São sempre coisas muito simples mas que marcam a diferença, que dizem que é uma escola/creche que se preocupa, que fomenta o convívio entre as pessoas, que estima as suas famílias e as suas crianças, que faz dos laços e do amor o seu propósito.
Aqui há dias fui surpreendida por uma mãe que deixou uma lata inteira e novinha em folha de leite Nan 2 – o leite que o Afonso vai passar a beber – para ele. Porque a filha já transitou de leite e porque tinha a lata lá em casa e se lembrou de que o Afonso é o bebé mais pequenino da sala. Ou outra mãe que, não me conhecendo de lado nenhum, me pergunta se quero um casaco novo do filho – que nunca usou – e que se lembrou de o trazer para o Afonso, caso eu quisesse e aceitasse.
Confesso que a generosidade das pessoas tem sido tanta que me deixa surpreendida porque, a verdade, é que nos últimos anos a minha realidade com a escola da minha, até então, única filha, era (é) muito diferente. É uma realidade capitalista do “pagas-tens”, “fazemos-pagas”, para crianças, dizem eles, “de elite”.

Aqui, na IPSS do Afonso não há crianças de “elite”, não há fomentação do “somos melhores que os outros”, há sim amor e entreajuda, há a premissa “somos iguais” e isso… isso é tão mais importante e bonito do que tudo o resto. 

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