Hoje de manhã, antes de sairmos de casa, tive uma discussão com a Madalena. Todos os dias, mas mesmo toooodooooosss os dias repito as mesmíssimas coisas até à exaustão: "Madalena despacha-te", "Madalena, o que estás a fazer na casa de banho para demorares tanto?", "Madalena despacha-te a comer", "Madalena, despacha-te a vestir" e é isto, repetidamente, todos os dias.
A verdade é que apesar de todos os dias entoar o mesmo "mantra", não noto que lhe faça grande efeito. Ela continua a demorar mais de 20 minutos para engolir uma fatia de pão torrado e uma caneca de leite, outros vinte na casa de banho em frente ao espelho para lavar a cara e os dentes e mais outros tantos para se vestir. Pelo meio eu faço mil e uma piscinas, tomo o pequeno almoço, dou papa ao irmão, lavo loiça, preparo marmitas, preparo-lhe o lanche, seco o cabelo, preparo-lhe a roupa, faço camas - e toda uma ginástica matinal para conseguir sair de casa com tudo orientado. Já experimentei acordá-la mais cedo da cama ou deixá-la seguir o ritmo dela sem estar sempre a pressioná-la, mas a verdade é que não dá! Ela dispersa-se, entra noutra 'dimensão' de tempo, de mundo só dela e perde a noção das horas, de que tem de se despachar.
O mesmo acontece com as coisas dela. Perde tudo. Nunca se lembra onde colocou nada. Arranja sempre desculpas sempre que é confrontada, argumenta, fica amuada e chateada e responde com maus modos. Confesso que quando o faz fico passada. Esta semana esteve mais de meia hora na escola, quando a fui buscar, à procura do gancho que levava na cabeça e que tirou sem se lembrar de onde o tinha posto. Foi preciso vir uma menina, mais nova do que ela, dizer-lhe que ela tinha estado na casa de banho a lavar as mãos e que se calhar o laço/gancho, tinha lá ficado. Ou na semana anterior, onde perdeu um pullover do colégio e me fez andar a chatear meio mundo, incluindo o pai, porque julgava que o mesmo tinha ficado na casa dele. Afinal estava 'apenas' na escola e ela não se... pois, isso, 'lembrava'.
E é isto, todos os dias, repetidamente.
Hoje, depois de uma resposta dela mais torta, passei-me. Mas passei-me a sério. Tive de ralhar com ela como ainda não o tinha feito. Chateia-me esta atitude dos miúdos do "estou-me a borrifar para o que estás a dizer", ou o não saberem dar valor a nada e de ainda nos revirarem os olhos. Não gosto de crianças mal educadas e não permito que um filho meu faça o que lhe der na real gana só porque "é pequeno e, como tal, não deve ser contrariado para mais tarde não ficar traumatizado".
Ela chorou, claro. Assim como chora porque queria comer maçã a seguir ao jantar - quando já comeu maçã duas vezes nesse dia - e nós lhe dizemos para variar a fruta e comer pêra, banana ou laranja. Chora agora, mas sei que amanhã estará a fazer exactamente as mesmas coisas e eu estarei a repetir tudo novamente.
Hoje utilizei a máxima "hierárquica" com ela, disse-lhe que enquanto ela viver na minha casa terá de ser sobre as minhas regras e confesso que à medida que as palavras me iam saindo da boca me lembrei dos meus pais e de como ouvi aquela expressão tantas vezes. E agora ali estava eu, a dizê-la à minha filha, a demonstrar a minha autoridade materna na sua máxima força. Qual reforço positivo qual quê. Hoje mandei a pedagogia toda ir dar uma curva.
Por instantes senti-me uma carrasca, mas depois pensei: "estou a ficar igual aos meus pais", é inevitável. Por isso, pode ser que um dia mais tarde a história se repita e ela tenha também uma epifania do género quando a filha dela a tirar do sério. Nessa altura lembrar-se-á de mim e pensará: "Estou a ficar igual à minha mãe".
Se esse dia chegar é sinal que fiz o trabalho bem feito.