sexta-feira, abril 22, 2016

E vocês, o que faziam?


Ontem perguntaram-me se tenho roupas do Afonso de recém-nascido que possa emprestar. E a pergunta, apesar de super natural e legítima - dado que o Afonso ainda não tem um ano e é, ainda, um bebé - apanhou-me desprevenida e passo a explicar porquê.
Tenho uma relação bastante emocional e vinculativa com a roupa dos primeiros meses dos meus filhos. Gosto de a guardar e de saber que a tenho, que está ali a memória viva dos pequenos seres que nasceram de dentro de mim e que crescem agora a grande velocidade fintando o tempo na passagem acelerada dos meses. Guardei quase toda a roupa da Madalena até um ano. E serviu-me bastante na minha segunda gravidez - mesmo que seis anos e meio depois - onde ainda aproveitei imensos babygrows, bodies, camisolas e variadíssimas outras peças. Mesmo tendo ela nascido no Outono e o Afonso no último dia da Primavera, as peças de primeiros dias foram novamente utilizadas (tirando as descaradamente cor-de-rosa) e confesso que me dá um gozo tremendo saber que o Afonso veste coisas que já foram da irmã e que ainda se encontravam em tão bom estado e actuais. Estavam guardadas em caixas, na casa dos meus pais e ainda antes de saber o sexo do bebé que aí vinha, entretive-me a recordar cada peça à medida que vasculhava à procura do que podia aproveitar caso fosse menina (praticamente tudo) e o que podia servir caso fosse rapaz (não tudo, mas ainda muita coisa). 
Já depois de o Afonso nascer voltei, à medida que a roupa lhe vai deixando de servir, a guardar todas as peças dos primeiros dias/semanas/meses, dentro da mesma caixa que serviu para guardar a da irmã. Aliás, há lá peças reincidentes e que estão pela segunda vez na caixa, que já cumpriram os seus propósitos a dobrar e que, espero, fiquem como memórias vivas - num tempo em que eles já sejam crescidos ou que eu já não saiba precisar com exactidão o tamanho que eles um dia tiveram - me mostrem que sim, que eles já foram pequeninos e frágeis e couberam naqueles tamanhos minúsculos.
Cada peça desperta em mim um sentido de posse, que pode e acaba por ser estúpido e egoísta, mas que eu me sinto no direito de sentir e de ter e de guardar como se fosse um tesouro. Não emprestei muita roupa da Madalena depois de ela nascer, mas o pouco que emprestei nunca me foi devolvido. Do Afonso tenho fofos, babygrows com golinhas e coisas deliciosas - que nem tive da Madalena - das quais não pretendo separar-me... e mesmo as peças que já foram da irmã que, por já terem cumprido duplamente a sua função e que por esse motivo podia estar mais disposta a abdicar, provocam-me um sentimento ainda mais  possessivo. Já vestiram dois, os meus dois filhos e pretendo mantê-las. 
Podem ser apenas duas caixas cheias de roupa que ficam guardadas num canto a apanhar pó até que o tempo encarregue alguém de se lembrar delas, ou que estes meus sentimentos já não estejam tão latentes, mas gostava de as guardar e deixar a eles, aos meus filhos. Posso até nem ter mais filhos, ou posso ainda decidir ter mais, não sei, o que sei é que não me importo de dar roupa a partir de um ano de idade - é impossível guardar tudo - mas as roupas dos primeiros meses, dos primeiros dias, das primeiras semanas, para mim, são quase sagradas. 
Chamem-me egoísta, mas não consigo dizer um aberto e franco "sim, empresto" sem ter este aperto dentro do peito que grita, "não me peçam isso". 

Chamem-me egoísta, porque se assim for, assumo que sou. 

2 comentários:

Maffa disse...

Egoista? nada... Quase nos 40 aprendi - faco o que quero!!
Por acaso dei montes de roupa de pequenino mas porque tenho mesmo a certeza que näo vou ter mais filhos e porque näo tenho muito espaco. Mas guardei montes de coisas dessa altura só porque tb me traz boas memorias desses tempos cutchi cutchi :)

Olga disse...

Mafalda como te compreendo :) Sou igual...