domingo, setembro 16, 2007

tonalidades



















Hoje, como o tempo me sobrou, decidi pegar nas coisas que há muito tempo se encontram esquecidas, fechadas, em caixas amontoadas e dar-lhes forma. Saiu outro colar, em tonalidades púrpuras para fazer parelha com as cores da próxima estação. Tem ligeiras diferenças dos habituais, como a fita em cetim a servir de fecho sob a forma de laçada. Está disponível e podem vê-lo aqui e adquiri-lo por mail: casinha_de_botoes@yahoo.com.
Gosto de ter tempo só para mim, como hoje. É estranho para uma filha única habituar-se a estar sempre acompanhada. Não sou eremita, mas os meus momentos de solidão são-me fundamentais. Necessários.
A semana passada foi dura emocionalmente. Numa consulta de ginecologia fiquei a saber que a minha ferida do cólo do útero ainda não cicatrizou. Depois de dois tratamentos de 'crio...qualquer coisa', que me doeram o suficiente para me fazer derramar várias lágrimas na marquesa, o veredicto final não é animador. Terei de fazer algo mais forte e eficaz. Confesso que a notícia me arrasou. A ginecologista passou-me a receita de um exame e mandou-me para a CUF Descobertas. Já não dependia dela disse-me, e eu saí do consultório com o peito apertado de dor e com a cara contorcida de esforço para não chorar. A meio da semana passei pelo hospital depois do trabalho para marcar o exame. Decidi que não valia a pena sentir-me triste, que acontece e que tenho de tratar de tudo e ficar boa quanto antes. Mas mesmo que eu me tentasse mentalizar repetidamente com este tipo de pensamentos, a data que queriam marcar para a consulta arrasou-me: 16 de Novembro! 'Novembro?' disse eu perante o ar impávido e sereno da recepcionista! 'Nem a meio de Setembro estamos e eu só vou poder fazer um exame daqui a 2 meses e meio, num hospital privado??' Os meus comentários devem ter sido de tal forma reactivos, que a rapariga achou por bem encaixar-me num 'extra', num dia em que aparentemente as marcações já estavam lotadas. Agradeci encarecidamente e até um pouco arrependida da minha atitude inconformada mas eficaz. De 16 de Novembro passei para 27 de Setembro, uma melhoria significativa, convenhamos.
Entretanto, o meu blogue sobre a Ictiose - que pouco vai sendo actualizado é certo - começou a dar os primeiros frutos. Recebi um mail de uma rapariga, que o viu e que decidiu entrar em contacto comigo. Trata-se da primeira pessoa portuguesa portadora da doença que me escreve. E o mais curioso de tudo, é que é de Oeiras, aqui tão pertinho. Tem 34 anos e possui Ictiose Lamelar, um tipo bem mais gravoso do que o meu. Apesar de ainda me sentir um pouco desconfortável a falar com alguém que me é perfeitamente desconhecido sobre algo que me é tão intímo, lá me fui libertando. É que não só me é estranho falar com ela sobre isto, como me é estranho falar sobre isto com alguém que também o tem e que fala a mesma língua que eu. Apesar de tudo não deixa de ser produtivo e benéfico, pois fiquei a saber que afinal existem mais 'ictiosos' portugueses do que alguma vez sonhei, pois ela conhece uns quantos. Não duvido que daqui a uns meses esteja a escrever um qualquer post sobre um hipotético encontro.
O 'Casinha' fez dois anos de vida ontem - dia 15 de Setembro - e ao contrário do ano passado eu nem assinalei a data... Sinceramente, em dois anos de existência deste blogue, ele mudou tanto quanto eu. Começou por ter uma finalidade: mostrar e vender as minhas criações e acabou por tornar-se uma espécie de diário virtual privado, onde me exponho demasiado. Tenho noção disso e confesso que só não o terminei de vez, quando estava decidida a fazê-lo, porque tenho um certo carinho por ele. Não me agrada que saibam tanto de mim, principalmente quando isso só serve para alimentar a curiosidade alheia de quem me conhece mas pouco me fala. Mas pronto, que se lixe.

A escrita é o meu alimento diário e o meu universo. Cada vez mais.

4 comentários:

a. disse...

ainda bem que tomaste a decisão de não acabar com este teu cantinho. ainda que nem sempre comente, porque nem sempre tenho as palavras certas, gosto muito de te ler :)

***

Anónimo disse...

"Não me agrada que saibam tanto de mim, principalmente quando isso só serve para alimentar a curiosidade alheia de quem me conhece mas pouco me fala. Mas pronto, que se lixe."

Mafalda,
confesso que me sinto atingida e que fiquei um pouco triste com estas palavras.
Tal como a Ana Soares gosto imenso de te ler e sempre que posso venho até cá, mais pela razão supracitada do que propriamente por 'cusquice'.
Nem sempre comento, é certo, mas não deixo de ficar contente com as tuas alegrias nem de partilhar os momentos menos bons, quanto mais não seja por me identificar, muitas vezes, com eles. Tal como o amor que sentimos por alguém não se contabiliza pela quantidade de beijos que lhe damos, também neste caso a quantidade de comentários é, a meu ver, completamente irrelevante.
Beijinho

Mafalda disse...

estrelinha, estas palavras não são para ti, acredita e este sentimento já vem de há bastante tempo, não é de agora. Este blogue acaba por ser o meu desabafo pessoal e não uma forma de atingir ninguém com aquilo que escrevo. Talvez não seja a pessoa mais diplomata deste mundo e também eu tenho os meus momentos de irritabilidade, de stress, de frustração e quando digo isso é porque eu própria tenho noção de que me exponho demasiado apesar de não saber fazer as coisas de outra forma, porque sou mesmo assim. Claro que a decisão de tornar o blogue privado não foi fácil, assim como ponderar acabar com ele, mas se ele ficou privado e não foi definitivamente extinto foi por isso mesmo: por achar que havia demasiadas pessoas que me seguiam os passos e isso não me agradava. Ao torná-lo privado deixei entrar no meu universo apenas quem eu quero e acho que merece e acredita que tu fazes parte dessde núcleo duro. Desculpa se te sentiste atingida pelas minhas palavras, mas acredita, do fundo do meu coração, que não foram para ti nem para ninguém em concreto que me leia actualmente. Acho é que ando apenas sufocada pelos acontecimentos actuais da minha vida e ao partilhá-los aqui, acabo sempre por dar espaço a quem me lê de os comentar por exemplo com terceiros, com amigos, com outras pessoas. E isso sim, assusta-me, muito. Porque me assusta a ideia de servir de motivo ou tema de assunto como referência de 'coitada', ou 'aquela rapariga que', até porque falo de muita coisa da minha vida privada que nem os amios mais pessoais sabem, ou têm sequer direito em aceder ao blogue. percebes? acho que é mais por isso.
Não sei se fui capaz de me explicar convenientemente, mas pronto, tentei!
e eu gosto muito que me leias e sei que sempre tiveste uma palavra amiga para me dar. seria muito injusto da minha parte dizer sequer o contrário!
um grande beijinho*

Anónimo disse...

Mafalda,
não tens de pedir desculpa, fiquei esclarecidíssima!
E compreendo na perfeição o que sentes quanto a ser tema de eventuais conversas alheias.
Obrigada pelas tuas palavras, pela tua estima e consideração, sei que tens plena consciência de que é recíproco.
Temos de nos conhecer um dia destes!
Um abracinho apertado