quarta-feira, outubro 10, 2007

around and around

Fazer castings é uma coisa horrorosa. Primeiro porque não tenho muita paciência e tenho de ser agradável, simpática e ajudar as meninas que estão sempre todas muito nervosas e impacientes. Segundo porque por mais que me divirta com a equipa, são sempre dias muito esgotantes e trabalhosos. Fazer castings até pode soar a engraçado - quem nunca se riu com os castings dos Ídolos que ponha o dedo no ar - mas estar um dia inteiro a fazer perguntas a meninas e meninos, a vê-los desfilar e a falar para a câmara, chega a ser monótono. Algumas, com a mania que são espertas e que têm imensa piada/graça, querem ver que classificação lhes dou na ficha que preencho e nessa altura confesso, só me apetece bater-lhes. Mas lá me muno de tolerância de santa, respiro fundo e apesar de tentar pô-las na ordem, esboço o meu melhor sorriso e faço uma qualquer graçola para as descomprimir. Durante a manhã, enquanto ainda estou fresca e viçosa a coisa corre bem, mas à tarde, quando o peso das horas já começa a fazer mossa e já passaram por mim mais de 600 pessoas, é de bradar aos ceús. No entanto, volto a respirar fundo e toda a técnica do marketing do sorriso regressa ao início, vezes e vezes sem conta, qual pescadinha de rabo na boca. Tem sido assim nos últimos dias de norte a sul do país, felizmente o final está próximo.
Ontem ainda consegui ir à agência. Deu para terminar uma proposta, ter uma reunião de manhã - onde fiquei plantada uma hora à espera da pessoa com a qual me ia reunir -, fazer contactos e contar as peripécias dos últimos dias aos colegas. Pelo meio ainda consegui falar no messenger com a Diane e perguntar como vai a gravidez. Ela estava grávida de gémeos e perdeu um dos embriões, mas o outro felizmente, salvou-se. Disse-me que agora está tudo bem, mas que tem pena de não ir mais vezes ao médico para ficar mais descansada. Disse-me também que se sente sempre constrangida quando fala da sua gravidez comigo, que sente culpa por estar grávida e eu não, que sabe que o facto de ter conseguido engravidar e ter um filho saudável (ao contrário de mim) me provoca dor. Disse-lhe que não tem de se sentir culpada de nada, porque na realidade, o facto de não conseguir fazer qualquer tipo de tratamentos para ter um filho saudável é um problema meu, não dela e como tal, não tem de se sentir lesada por isso. No fundo compreendo perfeitamente que ela se sinta responsável e que assuma parte da 'culpa', porque afinal, foi através dela que tive conhecimento dos tratamentos e do teste genético... mas o facto de ele ter dado negativo não é culpa dela, nem minha... é tão somente um grande azar como tantos outros que acontecem na minha vida.
Claro que me magoa não poder ter o mesmo tipo de felicidade, ou pelo menos de esperança. Magoa sim, magoa muito. É uma espécie de dor silenciosa que me fez ficar muito revoltada perante tudo e sinto que isso se nota cada vez mais, até em pequenas coisas do meu dia-a-dia, mas que posso fazer? Neste momento, aquela consulta tão distante que marquei há muitos meses atrás, está próxima. É já na próxima semana que irei à consulta no Hospital Curry Cabral e talvez aí, as minhas esperanças se renovem, lentamente, como a água que pinga de uma torneira mal fechada. Nem gosto de criar expectactivas, nem quero sonhar muito com medo de acordar e bater com a cara no chão, mas vou acreditar que há uma nova porta para abrir e ela está próxima.
Já aqui disse várias vezes que a minha vida é feita de esperas. É verdade. Mais do que nunca rejo-me por datas, etapas, pequenas conquistas e muitas derrotas. Tem sido um ano duro, muito duro. Tão duro como nunca imaginei que ele se tornasse, porque acreditei piamente que 2007 ia ser um ano bom, muito bom, um ano de concretização. Não foi. Não está a ser.
Resta-me apenas acreditar (outra vez) que para o ano é que é. E assim sucessivamente até algo acontecer. De momento ando a contar os dias para a operação (1ª etapa), mas ando a pensar seriamente adiá-la... é que além do trabalho volumoso e louco das últimas semanas, o valor da mesma é tão elevado, que muito provavelmente não terei dinheiro que me valha para pagá-la, além de o seguro de saúde se andar a tentar esquivar à força toda e de eu estar a ver tudo isto muito mal parado... O C. sugeriu adiarmos para Janeiro, mas se me decidir por isso, terei de repetir todos os exames que já fiz, assim como análises. Não sei o que faça sinceramente. Assim que o seguro se pronunciar, ou adio e desmarco, ou faço-a e se tudo for avante, falta uma semana e meia para ir 'à faca'.
Nem me atrevo a falar destas coisas com a minha mãe, porque emotiva e 'sensível' como anda (para não utilizar um adjectivo mais forte e depreciativo), o mais provável é entrarmos em rota de colisão uma com a outra e acabarmos chateadas. O meu pai insiste em ligar-me a dizer para eu não me esquecer de ir 'escolher um colchão para a cama nova', (a tal que comprámos no Ikea...) mas por mais que lhe explique que tenho andado numa roda viva entre Faro/Porto e Lisboa, e que não tenho tempo nem para me coçar quanto mais para ir ver de colchões, ele só diz que eu tenho de tratar disso até dia 22 de Outubro, data da operação. E é se quero ir lá para casa e ter onde me deitar...
P.S.- E o frio quando chega? estou farta deste Outono quente e morno.

2 comentários:

Unknown disse...

vim cá ler e deixar um beijinho*

Inês
denmarks_daily

Mafalda disse...

outro para ti!! já vi que conseguiste aceder sem problemas! ainda bem! ***