O meu pai não é, nem nunca foi, uma pessoa fácil.
Tem um feitio complicadíssimo, alterações de humor a roçar o anarquismo e um comportamento ditatorial. Quando era mais pequena achava sempre que os impulsos e reacções do meu pai eram vergonhosos e imprevisíveis, tomando sempre o partido da minha mãe, a sua principal "vítima", mas com o tempo fui percebendo o porquê, a explicação e os motivos que estavam (estão) por detrás de tudo isso. Claro que há coisas que não são desculpáveis e que continuo a recriminar veementemente, que não entendo e que condeno. E contra isso não há nada a fazer, por mais que eu intervenha ou me meta ao barulho, acabamos sempre a discutir. Com a idade sinto que ele está a ficar cada vez pior e que o meu divórcio contribuiu para lhe baralhar ainda mais as ideias, deixá-lo mais revoltado, mais agressivo nas reacções e nas palavras, mais controlador, como se toda a amargura que lhe deve correr no peito se tivesse transformado em bílis. Como se tudo fosse uma desilusão e a vida só lhe proporcionasse desgostos. Como se eu, a sua única descendente fosse um flope, uma porcaria. Tantas esperanças depositadas em mim, tantos sacrifícios feitos, para depois ser "isto".
Mas depois vejo-o com a minha filha e a forma como ela o adora e constato que o meu pai será sempre uma eterna criança mal comportada, que fascina as outras crianças e que só no mundo delas é que se entendem.
Que no fundo não quer crescer e que apenas quando está com ela tem verdadeiros momentos de felicidade. Que afinal houve uma coisa na qual não falhei, ela! E que o facto de ser avô e de ter uma neta foi o melhor presente e alegria que alguma vez lhe dei.
1 comentário:
Que texto bonito!
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