quinta-feira, novembro 29, 2007

Contos II


















Subindo a ladeira íngreme, Maria deixava antever o tornozelo bem delineado. A cada passo e debaixo daquela saia grande e pesada, o vislumbre da pele branca e alva como marfim, deixava todos os homens que a seguiam ardentes de desejo. Era época da apanha da fruta e Maria, de grandes olhos cor de avelã e cabelo preto como carvão, sabia o impacto que provocava na líbido do sexo oposto. A rapariga era desenvolta, alta como nenhuma outra mulher das redondezas.
Maria assustava pelo seu porte altivo e bem constituído. Tinha apenas 18 anos, mas comparada com as restantes raparigas, já aparentava muitos mais. Talvez por isso, fosse fonte de desejo e de respeito. Na altura da apanha da fruta, lá ia a Maria, de saia pesada a tapar-lhe as formas, de cesta encaixada na anca e amparada pelo braço, deixando a outra mão livre para chegar aos ramos mais altos. E se ajudava a altura. Ninguém lhe batia na apanha da fruta, nem mesmo os homens, que embevecidos pela beleza da jovem, lhe gabavam o tamanho para lhe alimentar o ego. Os mais atrevidos traziam-lhe um pedaço de broa de milho à hora da refeição, perguntavam-lhe se queria um copo de vinho, que ajudava à bucha. Os outros, pequenos e tímidos, afastavam-se dela. Não que a sua beleza lhes fosse indiferente, mas enfezados e tacanhos, sentiam-se diminuídos no seu orgulho masculino por nem aos ombros lhe chegarem. E Maria lá andava, entre as maçãs e as pêras que rebentavam de orgulho e madurez no alto das árvores, a sua saia rodada, pesada e comprida, deixando vislumbrar o tornozelo elegante e a pele clara e intocável. E todos a consumiam com os olhos.
Certo dia, estava a Maria pendurada no escadote, com a cesta de verga encaixada na anca e cheia de maçãs até acima, o corpo debruçado para a frente, o braço esticado ao máximo, quando a escada de madeira na qual permanecia de pé, cedeu. Voaram maçãs pelos ares, caindo e rebolando longos metros pelo pomar, a cesta de verga - que já acusava o passar do tempo - desfez-se em pedaços, apodrecida pelo peso da fruta, ano após ano. A saia da Maria levantou-se até aos joelhos, mostrando as pernas esguias tapadas pelo tecido sufocante. E a Maria caiu redonda no chão, fazendo um ruído forte e seco que despertou todas as atenções.
Todos os homens do pomar acorreram a ajudá-la, mas quando chegaram à beira da alta Maria, já a mesma se tinha levantado e, divertida com o episódio, apanhava as maçãs do pomar, colocando-as na saia que lhe substituía a cesta e se encontrava agora, levantada até aos joelhos.


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