Já aqui falei, se bem me lembro, nesta minha relação quase 'apasionata' com as artes, nomeadamente com a pintura. É algo que não me lembro de ter presente desde sempre, mas que assim que descobri, brotou em mim como uma paixão intensa. Paixão essa que permanece até hoje e que continua intensa e viva, ofegante e em pleno crescimento. A Paula Rego é neste momento o meu amor mais fervoroso. Descobrir o seu mundo, que conhecia de forma tão insipiente e quase negligente, foi uma verdadeira surpresa que foi aumentando de prazer à medida que se revelava às camadas, tal e qual um mil folhas, que nos deixa os lábios gordurosos e as pontas dos dedos coladas pelo açúcar.
Estar ali, quase senti-la, entrar no seu mundo, foi recriminar-me por não me ter lembrado de algo semelhante antes. Foi invejá-la pela genialidade - sim, porque eu invejo muitas vezes quem tem boas ideias - foi reclamar pormenores dos seus quadros como meus, foi entrar-lhe na alma, no coração, no dela, no meu, no de tantos outros.
Tenho uma grande amiga que é verdadeiramente fã de Paula Rego. Tanto, que nestes últimos dias, enquanto partilhava com elas as emoções que os seus quadros me tinham provocado, ela revela-me como sentia um ligeiro aperto no peito de cada vez que falávamos neles e que não é pessoa a quem isso aconteça facilmente. Confesso que enquanto estava ali, naquela enorme sala perante centenas de obras, foi como se visse o seu interior retratado. Foi como se as histórias que tantas vezes partilhamos e que só nós duas verdadeiramente entendemos, tivessem ganho forma e estivessem bem diante dos meus olhos, dos olhos dos outros, expostas e nuas a pedirem que terceiros também as entendam e as levem no peito para casa.
Eu trouxe todas dentro do meu e ainda há cá mais espaço para outras tantas.
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