Os seus olhos cruzaram-se por breves segundos. Foi quanto bastou. Ele entrou e ela, que já se encontrava sentada, reconheceu-o. De imediato.
Sentiu as pernas fraquejarem, as mãos contrairem-se num gesto nervoso, a suaram friamente, embrulhadas uma na outra, presas pelo inesperado do momento. Bruscamente derreteu-se de emoção. O coração acelerado, o peito num reboliço de dia de temporal. Tentou agir naturalmente, mas sentia as faces quentes, o olhar rápido e inseguro. Todo o seu corpo a traía. A expressão manteve-se neutra, quase perplexa. Depois de tanto tempo, tantos anos, ei-lo, ali, bem defronte de si, como se fossem dois estranhos que se cruzam no metro, à saída de um banco, ou num qualquer café. Achou-o gordo e balofo, anafado, mas nem isso a demoveu do turbilhão de memórias que rapidamente lhe assolaram a mente. Tanto tempo a pensar nele, a idealizá-lo, a suspirar perdidamente, a imaginar onde estaria, o que faria, para vê-lo assim, sem pré-aviso, com a sua ligeira barriga saliente e o cabelo em cachos compridos, que lhe pendiam pelos ombros, dando-lhe um ar decadente de anjo barroco.
Uma sensação doce e morna de vitória invadiu-lhe o corpo. Sentiu-se poderosa. Ali estava ela, igual ao que sempre fora, depois de tudo o que sentira por ele, mais forte e segura do que nunca, enquanto que à sua frente residia a fonte do desejo de tempos idos, com o seu ar plácido e os seus pézinhos toscos, a cara papuda e redonda, o olhar mortiço, a expressão apática. Mesmo assim quis regredir no tempo. Perdeu-se no terno passado das recordações, quase sentiu o sabor quente dos beijos e carícias, dos sorrisos abertos de amor intemporais, das promessas feitas de futuro a dois, das palavras tomadas como verdadeiras.
De repente acordou. Sentiu o peso do corpo na cama, o toque frio da pele contra a sua, o bafo quente de um hálito que despertava para mais um dia.
Não era ele que estava ao seu lado.
Sentiu as pernas fraquejarem, as mãos contrairem-se num gesto nervoso, a suaram friamente, embrulhadas uma na outra, presas pelo inesperado do momento. Bruscamente derreteu-se de emoção. O coração acelerado, o peito num reboliço de dia de temporal. Tentou agir naturalmente, mas sentia as faces quentes, o olhar rápido e inseguro. Todo o seu corpo a traía. A expressão manteve-se neutra, quase perplexa. Depois de tanto tempo, tantos anos, ei-lo, ali, bem defronte de si, como se fossem dois estranhos que se cruzam no metro, à saída de um banco, ou num qualquer café. Achou-o gordo e balofo, anafado, mas nem isso a demoveu do turbilhão de memórias que rapidamente lhe assolaram a mente. Tanto tempo a pensar nele, a idealizá-lo, a suspirar perdidamente, a imaginar onde estaria, o que faria, para vê-lo assim, sem pré-aviso, com a sua ligeira barriga saliente e o cabelo em cachos compridos, que lhe pendiam pelos ombros, dando-lhe um ar decadente de anjo barroco.
Uma sensação doce e morna de vitória invadiu-lhe o corpo. Sentiu-se poderosa. Ali estava ela, igual ao que sempre fora, depois de tudo o que sentira por ele, mais forte e segura do que nunca, enquanto que à sua frente residia a fonte do desejo de tempos idos, com o seu ar plácido e os seus pézinhos toscos, a cara papuda e redonda, o olhar mortiço, a expressão apática. Mesmo assim quis regredir no tempo. Perdeu-se no terno passado das recordações, quase sentiu o sabor quente dos beijos e carícias, dos sorrisos abertos de amor intemporais, das promessas feitas de futuro a dois, das palavras tomadas como verdadeiras.
De repente acordou. Sentiu o peso do corpo na cama, o toque frio da pele contra a sua, o bafo quente de um hálito que despertava para mais um dia.
Não era ele que estava ao seu lado.
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