Foi um fds em que senti as lágrimas nos olhos nos mais variados momentos.
No momento em que entrei na casa nova dos meus pais e vi, como tudo tinha um sentido próprio, uma permanência, como se a vida, por muito dura e sofrida, tivesse realmente uma missão destinada a cada um de nós. Vi-a nos olhos chorosos da minha mãe, nas inúmeras vezes em que ela dizia a si própria, como que resignando-se, que tudo parecia um sonho, na forma como repetia ‘pergunto-me se mereço’, na alegria controlada do meu pai enquanto ouvia um dvd dos Queen na sala, depois de ter aprendido a mexer no leitor.
Vi-a no reencontro que tive com a minha professora da segunda e terceira classe, velhinha, com oitenta anos, de bengala na mão mas desenvolta nas palavras, enquanto me agarrava de comoção e de sorriso aberto e franco repetia: ’esta rapariga era muito esperta, era muito esperta’. Aquilo comoveu-me, a sério. Não resisti e soltei lágrimas francas, sinceras, à frente de todos os que me acompanhavam quando me agarrei àquele pequeno corpo. Foi como se tivesse regredido vinte anos e visse uma Dona Aida que chegava à escola numa carrinha Renault 4L, cor de laranja, onde o marido – o Sr. Eduardo – a deixava no cruzamento e um grupo enorme de meninos acorriam a recebê-la. A mesma Dona Aida que escrevia nas fichas de avaliação, que eu era muito boa aluna a português e extremamente aplicada, só tinha um senão: falava demais. A mesma Dona Aida que tinha uma enorme cana de bambu, polida e comprida, que chegava a todos os cantos e carteiras da sala e com a qual me dava muitas vezes, em cima da cabeça, como sinal de reprovação para me calar. (Já nessa altura o defeito da comunicação conspirava contra mim.)
Vi-a nos olhos doridos da minha avó, que me abriu a porta de casa, coxa e mirrada pelo tempo, enquanto me agarrava na mão e sorria de alegria perante a foto que lhe trouxe. Eu, de branco, vestida de noiva, no casamento ao qual ela não pôde assistir, com o cordão de ouro que lhe pertencia em jeito de singela homenagem. O sorriso dela cresceu, os olhos humedeceram-se, a voz falhou. O seu rosto magro e o cabelo claro iluminaram-se, tirou o lenço que trazia no bolso e passou-o de forma rápida pelo rosto enrugado, invocou os santos e os anjos protectores, falou de todas as fotos minhas que existem espalhadas pela casa, inclusive aquela em que tenho como protectora Nossa Senhora de Fátima. O C. assistia a tudo, com um sorriso nos lábios e uma expressão de compreensão no olhar.
Este fim-de-semana senti-me perdida nas memórias e nas emoções. Quis ser pequenina outra vez, sentir que tinha a vida toda pela frente, desejar ardentemente pelo dia de amanhã. Não ter de acordar, nem chorar, nem temer… apenas sorrir. Apenas sorrir.
No momento em que entrei na casa nova dos meus pais e vi, como tudo tinha um sentido próprio, uma permanência, como se a vida, por muito dura e sofrida, tivesse realmente uma missão destinada a cada um de nós. Vi-a nos olhos chorosos da minha mãe, nas inúmeras vezes em que ela dizia a si própria, como que resignando-se, que tudo parecia um sonho, na forma como repetia ‘pergunto-me se mereço’, na alegria controlada do meu pai enquanto ouvia um dvd dos Queen na sala, depois de ter aprendido a mexer no leitor.
Vi-a no reencontro que tive com a minha professora da segunda e terceira classe, velhinha, com oitenta anos, de bengala na mão mas desenvolta nas palavras, enquanto me agarrava de comoção e de sorriso aberto e franco repetia: ’esta rapariga era muito esperta, era muito esperta’. Aquilo comoveu-me, a sério. Não resisti e soltei lágrimas francas, sinceras, à frente de todos os que me acompanhavam quando me agarrei àquele pequeno corpo. Foi como se tivesse regredido vinte anos e visse uma Dona Aida que chegava à escola numa carrinha Renault 4L, cor de laranja, onde o marido – o Sr. Eduardo – a deixava no cruzamento e um grupo enorme de meninos acorriam a recebê-la. A mesma Dona Aida que escrevia nas fichas de avaliação, que eu era muito boa aluna a português e extremamente aplicada, só tinha um senão: falava demais. A mesma Dona Aida que tinha uma enorme cana de bambu, polida e comprida, que chegava a todos os cantos e carteiras da sala e com a qual me dava muitas vezes, em cima da cabeça, como sinal de reprovação para me calar. (Já nessa altura o defeito da comunicação conspirava contra mim.)
Vi-a nos olhos doridos da minha avó, que me abriu a porta de casa, coxa e mirrada pelo tempo, enquanto me agarrava na mão e sorria de alegria perante a foto que lhe trouxe. Eu, de branco, vestida de noiva, no casamento ao qual ela não pôde assistir, com o cordão de ouro que lhe pertencia em jeito de singela homenagem. O sorriso dela cresceu, os olhos humedeceram-se, a voz falhou. O seu rosto magro e o cabelo claro iluminaram-se, tirou o lenço que trazia no bolso e passou-o de forma rápida pelo rosto enrugado, invocou os santos e os anjos protectores, falou de todas as fotos minhas que existem espalhadas pela casa, inclusive aquela em que tenho como protectora Nossa Senhora de Fátima. O C. assistia a tudo, com um sorriso nos lábios e uma expressão de compreensão no olhar.
Este fim-de-semana senti-me perdida nas memórias e nas emoções. Quis ser pequenina outra vez, sentir que tinha a vida toda pela frente, desejar ardentemente pelo dia de amanhã. Não ter de acordar, nem chorar, nem temer… apenas sorrir. Apenas sorrir.
2 comentários:
se nas fotos é a casa nova dos teus pais, está giríssima :) e sim, é sempre bom reviver tudo isso. aquece o coração. o meu professor da primária em 70 anos e veio cá a casa em maio devolver a fita de fim de curso que lhe tinha dado para assinar umas semanas antes. são coisas destas que fazem sorrir :) beijinho
é a casa nova deles sim! :) está a ficar muito gira e eu fico muito contente por eles, finalmente, terem uma casa maravilhosa para viverem.
:-) **
beijos grandes xxxx
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