domingo, dezembro 09, 2007

reviver


















Foi um fds em que senti as lágrimas nos olhos nos mais variados momentos.
No momento em que entrei na casa nova dos meus pais e vi, como tudo tinha um sentido próprio, uma permanência, como se a vida, por muito dura e sofrida, tivesse realmente uma missão destinada a cada um de nós. Vi-a nos olhos chorosos da minha mãe, nas inúmeras vezes em que ela dizia a si própria, como que resignando-se, que tudo parecia um sonho, na forma como repetia ‘pergunto-me se mereço’, na alegria controlada do meu pai enquanto ouvia um dvd dos Queen na sala, depois de ter aprendido a mexer no leitor.
Vi-a no reencontro que tive com a minha professora da segunda e terceira classe, velhinha, com oitenta anos, de bengala na mão mas desenvolta nas palavras, enquanto me agarrava de comoção e de sorriso aberto e franco repetia: ’esta rapariga era muito esperta, era muito esperta’. Aquilo comoveu-me, a sério. Não resisti e soltei lágrimas francas, sinceras, à frente de todos os que me acompanhavam quando me agarrei àquele pequeno corpo. Foi como se tivesse regredido vinte anos e visse uma Dona Aida que chegava à escola numa carrinha Renault 4L, cor de laranja, onde o marido – o Sr. Eduardo – a deixava no cruzamento e um grupo enorme de meninos acorriam a recebê-la. A mesma Dona Aida que escrevia nas fichas de avaliação, que eu era muito boa aluna a português e extremamente aplicada, só tinha um senão: falava demais. A mesma Dona Aida que tinha uma enorme cana de bambu, polida e comprida, que chegava a todos os cantos e carteiras da sala e com a qual me dava muitas vezes, em cima da cabeça, como sinal de reprovação para me calar. (Já nessa altura o defeito da comunicação conspirava contra mim.)
Vi-a nos olhos doridos da minha avó, que me abriu a porta de casa, coxa e mirrada pelo tempo, enquanto me agarrava na mão e sorria de alegria perante a foto que lhe trouxe. Eu, de branco, vestida de noiva, no casamento ao qual ela não pôde assistir, com o cordão de ouro que lhe pertencia em jeito de singela homenagem. O sorriso dela cresceu, os olhos humedeceram-se, a voz falhou. O seu rosto magro e o cabelo claro iluminaram-se, tirou o lenço que trazia no bolso e passou-o de forma rápida pelo rosto enrugado, invocou os santos e os anjos protectores, falou de todas as fotos minhas que existem espalhadas pela casa, inclusive aquela em que tenho como protectora Nossa Senhora de Fátima. O C. assistia a tudo, com um sorriso nos lábios e uma expressão de compreensão no olhar.
Este fim-de-semana senti-me perdida nas memórias e nas emoções. Quis ser pequenina outra vez, sentir que tinha a vida toda pela frente, desejar ardentemente pelo dia de amanhã. Não ter de acordar, nem chorar, nem temer… apenas sorrir. Apenas sorrir.


2 comentários:

cassiopeia disse...

se nas fotos é a casa nova dos teus pais, está giríssima :) e sim, é sempre bom reviver tudo isso. aquece o coração. o meu professor da primária em 70 anos e veio cá a casa em maio devolver a fita de fim de curso que lhe tinha dado para assinar umas semanas antes. são coisas destas que fazem sorrir :) beijinho

Mafalda disse...

é a casa nova deles sim! :) está a ficar muito gira e eu fico muito contente por eles, finalmente, terem uma casa maravilhosa para viverem.
:-) **
beijos grandes xxxx