Quando morava em Lisboa, num velho prédio de traça tipicamente Estado Novo, com uma fachada meio devoluta por fora, mas com a minha casa completamente remodelada por dentro, com pormenores giríssimos e absolutamente fantásticos, adorava o chão em madeira antiga. Claro que rangia por todos os lados, a vizinha de baixo - uma velha habituada a não ter inquilinos durante anos a fio - reclamava constantemente connosco e, acima de tudo, com os meus saltos logo pela manhã. Chegou a vir bater-nos à porta um par de vezes, uma deles às tantas da madrugada, mas nunca lhe fizemos grande caso. O nosso chão, em tábua corrida e envernizada, mas pouco insonorizado, era um dos ex-libris daquela casa.
Claro que tinha desvantagens, como estremecer à nossa passagem, mas tudo o que era colocado naquela sala, ganhava uma outra aura. Dáva prazer misturar móveis de linhas modernas com coisas antigas, fazer misturas e pensar que aquele pequeno T1 duplex, tinha potencial suficiente para aparecer nas revistas de decoração.
Claro que tinha desvantagens, como estremecer à nossa passagem, mas tudo o que era colocado naquela sala, ganhava uma outra aura. Dáva prazer misturar móveis de linhas modernas com coisas antigas, fazer misturas e pensar que aquele pequeno T1 duplex, tinha potencial suficiente para aparecer nas revistas de decoração.
Não vou negar, no entanto, que quando saí de Lisboa, estava farta de não ter espaço, do prédio não ter uma fachada toda arranjadinha e pintada ou, tão somente, de o quintal enorme que possuía nas traseiras e que estava transformado numa pequena selva, não estar arranjado de forma a desfrutarmos dele como merecia. Também me chateava não ter varandas, ou de o bairro e os passeios estarem sempre cheios de lixo ou cócó de cão no chão, de ser um caos para arranjar sítio para estacionar à noite e de os inquilinos do prédio não estarem nem aí para se formar um condomínio que visasse os interesses de todos, mas gostava da zona ser calma e sossegada, de ter uma creche e o centro de saúde mesmo em frente à porta, de poder ver o rio da minha janela e de estar em Lisboa.
Tudo isto para dizer que sempre gostei de casas antigas com enorme potencial de recuperação. E quem diz casas diz pavilhões, diz velhas fábricas com paredes forradas a tijolo pequenino (que eu simplesmente AMO), diz espaços amplos que se podem transformar em lofts. Sempre que passo na avenida que vai para a Expo junto à zona portuária, reparo que existem uma série de pavilhões abandonados com estas características. O Carlos diz sempre que adoraria morar ali, mesmo que seja numa zona onde não abundam prédios chiques nem vizinhança requintada, nem facilidade de transportes, nem bairros com espaços verdes. Mas aquelas paredes, aqueles tectos altos, aqueles janelões, fazem-me lembrar os andares nova iorquinos que se vêem nos filmes (sim, porque eu nunca fui a Nova Iorque para constatar esta minha panca pessoalmente e ver se, é mesmo verdade aquilo que vejo nos filmes, de que existem casas assim!)
Ora, a minha casa de Lisboa, que ainda não conseguimos vender mas que alugámos, vai estar novamente vazia a partir de finais de Agosto. Os inquilinos - um rapaz acabado de se divorciar e a sua nova respectiva - não querem renovar o contrato, algo que me faz pensar que, se calhar, este novo amor 'já era' e cada um vai à sua vidinha. (pequeno aparte de cusquisse feminina: a casa ficava próxima do emprego da nova moça, logo, das duas uma: ou chatearam-se e ele fartou-se de a sustentar, ou também desgostaram do apartamento por todas as razões que eu aqui já inumerei.)
Seja como for, voltarmos para Lisboa, pelo menos para aquela casa, está fora de questão. Já era demasiado pequena para dois gatos pingados, então agora com miss Madalena e toda a sua quantidade brutal de brinquedos e acessórios adjacentes a quem tem crianças pequenas, é mesmo impensável. Claro que há pessoas que têm filhos e vivem em espaços mais pequenos com os mesmos, mas eu sou a 'raínha da tralha', só em roupa e sapatos encho vários armários, além de não ser minimamente despojada. Eu guardo tudo, tudo me traz recordações, tudo é importante, tudo se pode voltar a usar - mesmo que fique esquecido e refundido nos armários anos a fio - e é por isso que, até a nossa casa actual, que sempre me pareceu um casarão, já me começa a sufocar.
Não me importava nada, nada, nada, era de fazer com a Miss Carrie Bradshaw, que tem o privilégio de continuar a manter o seu antigo apartamento de solteira apenas para escrever e quando quer ter 'uma folga' do casamento alguns dias por semana, isolar-se do mundo, ter tempo só para si e/ou para as amigas. Isso é que era!
Claro que nunca estaria decorado com tão bom gosto como o dela, até porque está vazio, sem uma pequena presença de conforto, mas bastáva-me um colchãozinho no chão, o meu portátil e uns quantos cigarros, para sempre que sentisse saudades de Lisboa e dos ares da capital, colocar a chave na porta e estar em casa outra vez.
Fotos iniciais retiradas deste site. (Que é pura e simplesmente LINDO! Ideal para apaixonadas por design e decoração, perderem simplesmente a cabeça!)
1 comentário:
era só para encomendar uma fabricasinha dessas remodelada tal e qual como nas primeiras fotos aqui para a menina! grazi!! :p
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