As Berlengas sempre foram o meu pedaço de paraíso em Portugal. Falar nas Berlengas é recordar verões em que juntamente com os meus pais e por vezes com primas ou tias, passávamos lá grandes temporadas durante o mês de Setembro. Era o mês de férias por excelência, quando as confusões de Agosto já tinham acalmado e ficávamos com a fortaleza quase toda por nossa conta, que nem reis.
As Berlengas não são, à primeira vista e para quem não conhece, o epíteto de ilha paradisíaca. Quase não têm vegetação, são áridas e rochosas e as condições escasseiam, mas eu acho-as magníficas e cheias de beleza por descobrir. Daquela beleza que não é logo imediata, mas que à medida que a vamos conhecendo, cresce e torna-se intrínseca. As águas muito azuis e transparentes, a maré baixa nas rochas e a pulular de vida, o vento forte a bater nos cabelos, a aspereza da paisagem, o cheiro a maresia e o sabor a sal entranhado na pele, a imensidão do oceano ali a dois passos. E é isso que as Berlengas representam para mim, fazem parte da minha pessoa, por mais tempo que eu fique afastada, por mais que a vida e as circunstâncias ditem a minha ausência e regresso àquele calhau no meio do Atlântico. Ali eu sinto-me menina outra vez. É o regresso às origens e ao que de mais bonito guardo da minha infância. São recordações de felicidade às golfadas. Ontem, ao entrar naquela sala de refeições comum, senti que até o cheiro que lhe era característico se mantinha o mesmo e, por instantes, vi-me novamente sentada à mesa à espera do jantar que a minha mãe servia sempre em grandes tachadas ou de quando, chegadas as 23h00, o gerador piscava três vezes e passado meia hora apagava por completo, deixando-nos no mais profundo breu.
Ontem tive um domingo com sabor a férias, cheio de vida e boas memórias. Ontem fui (mesmo muito) feliz.
1 comentário:
E a felicidade isso mesmo momentos :)
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