Por Lisboa, num fim-de-semana de muito passeio pelos recantos nem sempre tão visitados da cidade. O Intendente está diferente, mais bonito, mais limpo, mais restaurado e mais cativante. Há um largo com esplanadas e pequenos cafés, lojas bonitas e que convidam o olhar a parar e a dar-lhes a devida atenção. Os prédios estão aos poucos a ser restaurados mas mantendo as características típicas e o traçado tradicional que os torna únicos. As prostitutas ou personagens mais duvidosas que em tempos nos cruzávamos a cada esquina, quase desapareceram. Claro que continuam a haver "personagens", mas isso faz parte da beleza de Lisboa e do seu bairrismo. Já não dá medo andar a pé pela zona do Intendente. Lembro-me que quando o semanário Sol arrancou, eu fui um dos muitos jovens jornalistas que fizeram provas para tentar fazer parte da redacção do mesmo. Os testes, divididos por dois dias, incluíam uma reportagem alargada sobre a zona do Martim Moniz e do Intendente. Tínhamos de sair para a rua, falar com as pessoas, investigar, fazer reportagem a sério. Na altura empenhei-me a fundo e, sozinha, andei a calcorrear a zona entrando em todos os bares manhosos, boites (adoro esta palavra) e tascas, falando com os muitos enjeitados da vida que por ali proliferavam e mulheres que tratavam a rua por "casa". Deu-me um enorme gozo fazê-lo. Escrevi com a alma sobre o projecto de requalificação que, já na época, se visionava para a zona, mas acabei por não ser uma das escolhidas para ingressar o jornal. Dez (ou mais) anos depois, foi com enorme prazer que voltei a passar na rua dos Anjos com olhos de ver, ver a sério a mudança, as gentes e a diferença, constatando o upgrade. Senti um enorme orgulho nesta cidade que, aos poucos e a cada dia que passa, fica (ainda) mais bonita.
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