Fazer a rua do meu bairro a pé para ir comprar flores frescas. É um luxo que raramente aproveito. Caminhar numa manhã de Domingo, a pé, rua acima, até às senhoras floristas que vendem flores na praceta. Reparar em cada loja, prédio e velhote que está à janela e que durante a semana nunca vislumbro. Espreitar a padaria de bairro (vazia), a loja dos indianos que vende de tudo um pouco, ou os pequenos mini mercados fechados. Observar a vida do bairro que aos poucos vai ganhando novo fôlego. Reparo numas raparigas que transportam caixotes para um prédio e na mala de um carro aberta, onde vejo sacos e uma caixa cheia de brinquedos. Novas vizinhas acabadas de chegar. Do outro lado do passeio uma jovem com um corte de cabelo giro passeia um labrador preto. Mais gente nova no bairro, penso. Chego ao meu destino. A senhora, de olhos azuis e cabelo louro trata-me por "menina" e pergunta o que desejo. São tantas as flores e as cores que fico fascinada. Pergunto por gipsófila, que vejo num molho em cima do balcão. "Ai minha querida, a gipsófila é cara, não te posso vender toda, preciso dela para os arranjos" e eu rendo-me às margaridas e a outras flores que me prendem a vista. Ela prontifica-se a dizer, "essas são lindas menina e são da época". Acedo. Trago dois molhos de flores brancas e sinto-me feliz. Pergunto-lhe se posso fotografar e ela sorri, fica a olhar para mim com os bouquets no regaço enquanto disparo foto atrás de foto. No final, vejo-a ali, bem ao meio da loja e pergunto-lhe se posso fotografá-la, ela volta a aceder e a sorrir. Sorrimos as duas. "Mas olhe que tem de me trazer cá essa fotografia", eu prometo que sim. Mostra-me uma outra que um cliente lhe tirou, há alguns anos, quando vendia flores no Cais do Sodré. "Agora é a minha filha que ocupa o lugar", revela com um brilhozinho nos olhos e muito orgulho. Desabafo-lhe que todos os dias a minha filha, de manhã, quando a levo à escola e paro no semáforo, fica à espera que as senhoras floristas lhe digam adeus. "Ai é a sua filha?", pergunta com espanto, "Já tinha reparado que havia uma menina que dizia sempre adeus, quando for assim apite!". Ficou prometido. Isso e a foto.
Venho para casa com dois bouquets debaixo do braço e mais um bom molho de gipsófila que a florista acabou por me dar sem me cobrar mais um euro por isso. Chego a casa e faço três jarras. Cheira a verde e de repente parece primavera.
Foram os dez euros mais bem empregues que gastei ultimamente.
Amanhã chega a Madalena, aposto que ela vai gostar.
Amanhã chega a Madalena, aposto que ela vai gostar.
4 comentários:
Gosto tanto quando escreves coisas assim simples e tão tuas! Partilhamos o mesmo gosto pelas flores. Como gosto de tê-las em casa! Como é possível alguém achar mal empregue o dinheiro por elas? Prefiro mil vezes tê-las espalhadas pela casa em vez de gastar o dinheiro no cabeleireiro ou assim.
Beijinhos, espero que o brunch tenha sido um sucesso!
Oh, que querida Maria!
eu escrevo sobre aquilo que me toca, essencialmente.
Um beijinho grande*
Cheira a campo, cheira a vida, cheira bem!
Sentimos cada pétala que existe na jarra...damos valor a coisas tão pequenas e que são tão belas nas nossas vidas!
Que delícia de texto!
Também queria lembrar-me mais vezes de comprar flores!!
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