Já não voltava à vila há cerca de dois anos. Já lá tinha estado, mas sempre de passagem, sem percorrer as ruas, sem ver o que havia de novo, sem encontrar a familiaridade própria de quem já viveu num determinado sítio e é arrebatado pela novidade após longo tempo de ausência.
Regressei ao mar gelado sempre ali tão perto e tão presente que, naquela noite, estava estranhamente calmo. O frio, esse, fazia-se sentir. Cortante e a entranhar na roupa, como que a cumprimentar-me e a dizer "olá, lembras-te de mim?". Recordei momentos e vivências, mas acima de tudo, a solidão que marcou o período que habitei aquele lugar - que é belo, sem dúvida - mas que teve este efeito ambíguo em mim, alternando entre a melancolia e a tristeza. Um capítulo arrumado na minha história pessoal, uma gaveta de memórias que volta e meia se abre e se mostra presente.
Gostei de sentir a maresia no rosto a entrar-me às golfadas pelas narinas, de jantar naquele cantinho tão acolhedor, entre vinho tinto e chouriço assado, de fazer brindes ao futuro ou de percorrer as ruas estreitas de pedra enquanto trazia para casa uma caixa de queques de noz.
Gostei da noite limpa e estrelada, da familiaridade do passado e de saber que findo aquelas horas tornava a casa, à "minha" casa, de onde nunca devia de ter saído.
Gostei do regresso, mas não me peçam para ficar.
Gostei do regresso, mas não me peçam para ficar.
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