Derivado da chegada de um bebé à família - e ao facto de com apenas duas semanas de vida - o mesmo não fazer outra coisa a não ser comer e dormir, sem dar grandes chatices à senhora sua mãe, dei por mim a pensar quando a M. tinha a mesma idade e, constatei, que já não me lembro de como era a minha filha com duas semanas de vida. Não me lembro das noites, nem do comportamento, nem dos sons, do cheiro ou de como era tê-la (e vê-la) tão pequena e tão minha. Tenho uma memória difusa no cérebro que apenas reteve breves coisas, como o facto de ter estado quase a necessitar de fazer fototerapia por causa da icterícia - e de como a metia perto da janela para apanhar o solinho da tarde que batia junto ao vidro - ou de como me sugava os mamilos, deixando-me cheia de dores e a latejar quando tentava mamar. Lembro-me das fomes vorazes que a amamentação me provocava e de um terrível dia de cólicas (o único) em que tinha comido castanhas e a criança se contorcia com dores. Lembro-me que fiquei bastante desenvolta a seguir ao parto e que passado poucas horas me movia muito bem, conseguindo, inclusive, cruzar as pernas ou sentar-me na cama sem qualquer pudor. Lembro-me de, nos dias imediatamente a seguir a ela ter nascido, tão perfeita, tão livre de tudo o que eu mais temia que trouxesse, olhava para ela e chorava de felicidade.
Lembro-me de me sentir verdadeiramente abençoada.
Mas não me lembro dela.
Do pequeno respirar, das mãozinhas fechadas ou da forma como encaixava no meu colo quando lhe pegava... E isso, deixa-me triste.
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