quarta-feira, março 18, 2015

relato de um internamento e de uma mum-to-be acamada

Depois de alguns dias de silêncio e de descanso forçado, achei que estava na hora de dar notícias. A verdade é que tenho aproveitado esta paragem para descansar bastante e confesso que me tem faltado a vontade de estar ao computador ou de escrever o que vou sentindo. Hoje decidi contrariar essa tendência, até porque a minha situação não é única, há imensas mães que passam a gravidez em casa e condicionadas nos seus movimentos e, quem sabe, até podem ler este blogue e decidir deixar-me uma mensagem a partilhar as suas próprias experiências.
Depois de 4 dias internada na Maternidade Alfredo da Costa, onde fui muito bem tratada - é verdadeiramente de louvar aquelas pessoas e equipa que tudo fazem pelo bem-estar das mães e dos seus bebés - tive finalmente alta para ir para casa mas com muita cautela e, acima de tudo, juízo. O meu colo do útero às 24 semanas estava com 24 ml, ou como um médico da Mac o apelidou, "com os mínimos olímpicos", mas como não apresentava sintomas de contrações nem perdas de sangue ou líquido amniótico, lá me liberaram. Um colo tão curto com tão pouco tempo de gestação pode significar uma série de coisas pouco agradáveis nesta fase, como por exemplo: um parto prematuro e um bebé a lutar pela vida numa unidade de neonatologia. E nós não queremos isso. Queremos que o menino Afonso cresça o que tem a crescer  até ser a hora prevista para vir cá para fora conhecer o mundo. Ou como diz uma amiga minha, "esse miúdo tem de ter calma que as noites ainda estão frias".
Esta paragem forçada veio destabilizar todas as prioridades e tudo aquilo que imaginamos durante uma gravidez. Uma delas é a própria relação e dinâmica familiar. De um momento para o outro sou atirada para uma cama, impossibilitada de trabalhar e de fazer o que quer que seja em casa. Quando se tem uma filha mais velha a necessitar de atenção, não se tem pais ou sogros por perto, ou empregada, não é fácil. Vale-me a enorme ajuda e boa vontade de um pai dedicado e incansável que tem sido mais do que um braço direito, tem sido um companheirão.
Em casa os dias passam a uma velocidade vertiginosa e o tempo escorre-me sem dar por ele porque sinto que não faço nada de útil para além de ver televisão e comer. É algo que me tem feito pensar bastante, a forma como percepcionamos o tempo numa situação destas. Quando estamos a trabalhar passamos os dias a querer ter tempo para estar em casa, dormir um pouco mais de manhã, ou simplesmente não fazer absolutamente nada. Quando temos tanto tempo livre e nem sequer podemos sair da cama ou do sofá, perdemos a noção do ritmo da vida lá fora. Os dias sucedem-se em cadência e a pressão das horas desaparece tornando-se mais libertadora, mas também mais angustiante. Há dias em que acordo mais animada do que outros e depois há dias em que me sinto apenas dormente. Tanto tempo livre e sozinha deixa-me com muito com que pensar, o que nem sempre é bom.
Outra coisa que me deixa um pouco frustrada é o facto de não conseguir adiantar nada para o enxoval do bebé, nem sequer preparar o quarto. Ainda não tinha tratado de quase nada e, nesta condição, as probabilidades de o fazer são reduzidas. Sei que tenho de ter calma, não querer tudo de uma vez, qual avalanche, mas esta sensação de que tenho 2/3 meses - na melhor das hipóteses - e que não tenho nada tratado, nem quarto, nem berço, nem mala, nem roupa, deixa-me bastante angustiada.
Estar grávida já é um turbilhão de emoções fortes, estar grávida, parada e privada de fazer a maior parte das coisas deixa as hormonas numa montanha russa difícil de controlar.
Espero que seja mesmo apenas temporário e que na próxima consulta tenha boas notícias. Até lá, muita calma e paciência e fé! Acredito que com o repouso e a calmia que a minha vida se tornou, ao contrário do que era, ajude este menino a crescer forte e saudável. Para terem uma ideia, em apenas 5 dias na Maternidade, este pequeno "texugo" engordou 140 gramas, passando dos 600 para os 740 gr.
Acho que esta paragem deve ter sido uma manobra que o menino Afonso engendrou para que a senhora sua mãe pare, leve uma vida mais calma e engorde. E eu, como menina bem mandada, obedeço-lhe.
Aqui ficam algumas fotos tiradas durante o internamento. Mais uma vez refiro, toda a equipa da Maternidade Alfredo da Costa foi/é incansável, bem humorada, simpática e prestável. Nos dias em que estive internada não vi uma cara menos simpática, uma palavra mais áspera a algum pedido de qualquer uma das muitas grávidas ali internadas, ou uma queixa. E realmente fez-me pensar como é que pessoas tão dedicadas aos outros trabalham todos os dias com tão fracos recursos e condições. A maternidade desenvolve um trabalho fundamental continuando a provar, diariamente, a necessidade da sua existência. Pude comprová-lo na pele, com material a necessitar de ser substituído e de pessoas que, apesar das adversidades não se queixam e estão sempre de sorriso aberto para nos receber com todo o carinho. Isto sim, é verdadeiro serviço público de saúde e não tem preço!
 
 
A televisão do meu quarto demorava cerca de 10 a 15 minutos a 'aquecer' quando era ligada. O ecrã era minúsculo, mas depois de pronta transmitia os 4 canais na perfeição. Tv cabo é coisa de gente rica. Aqui vai-se para a cama cedo.

As refeições foram o que mais me custou durante o internamento. A falta de sal e comida insípida é algo que me deixa uma pessoa infeliz. Quem me conhece sabe que um dos meus maiores prazeres reside num bom prato e andar 4 dias a comer massa com carne na maioria das refeições deixou-me a salivar por todo o tipo de coisas mais... mais... substanciais! Esta foi a única refeição em que tive direito a um docinho - o arroz doce - que veem ali em cima. Foi logo no primeiro dia de internamento. Deve ser uma espécie de "recepção de boas vindas", mas como diz o ditado: 'O que é doce acaba depressa'.

Durante os dias em que estive internada a minha filha foi-me visitar em dois deles. Num trouxe este postal em forma de flor, com esta frase escrita por ela, na sua letrinha de primária! Está tão grande e crescida que confesso que ouvi-la ler ou escrever ainda me provoca sentimentos ambíguos. É muito para um coração de mãe assimilar!

Nas palhas deitada, nas palhas estendida. Assim foram - e continuam a ser - os meus dias. A minha cama era a número 13. Sorte ou azar? Não sei, mas nós cá continuamos, seguros e constantes, como a canção, a contrariar superstições.
 

1 comentário:

Maffa disse...

Coragem... deve ser frustrante... Mas não há mesmo nada a fazer. Há que aproveitar da melhor maneira possivel...