quarta-feira, dezembro 30, 2009

o último post de 2009

2009 não foi um ano marcante. Foi um ano calmo, demais até. Não houve nada de relevante em 2009 tirando uma viagem a Londres a dois - depois de mais de um ano e meio sem férias - e muitos momentos a três e entre mãe e filha. Só isso já deveria deixar-me de coração cheio, é verdade, mas eu confesso que preciso de mais. Sou um ser insatisfeito por natureza. Não no sentido da avidez, da cobiça ou do 'abocanhamento' (se é que esta palavra existe), mas para me sentir eu, completa e feliz, preciso de sentir que todo o meu corpo está vivo e não apenas metade dele.
Em 2009 eu andei dormente, meio adormecida. Maravilhada pela plenitude da maternidade em full-time e sufocada ao mesmo tempo. Já disse que ter um filho é avassalador, mas tão desgastante. Senti-me sozinha muitas vezes. Sobrecarregada outras tantas. Ter um filho abalou as minhas estruturas e certezas enquanto mãe, esposa e mulher, fez-me pensar na vida a dois e em mim mesma, mas também demonstrou que não deve ser o fim - mesmo quando eu pensava que isso me bastava - mas um ponto de partida, um início para tudo aquilo que ainda me falta fazer e construir.
Acredito piamente que comigo as coisas, ou melhor, a vida, funciona por ciclos. Geralmente depois de um ciclo bom vem um mais 'down', pronto, ruinzito. Não é que 2009 tenha sido mau, foi apenas sem emoção, sem graça, insípido, sem qualquer excitação que me tenha deixado a cantar e com vontade de gritar ao mundo tamanha felicidade. Eu sem emoções fortes não me sinto eu. Preciso de ter aquele friozinho na barriga, aquela alegria que parece rebentar o peito de contentamento, mas nem o mar infinito que me serve de vista diariamente me serviu de consolo.
Senti-me igualmente isolada e abandonada numa terra que não encaro como minha. Fez-me ver quem é que esteve (ou não) verdadeiramente do meu lado, quem é que realmente foi e é, meu amigo. Fez-me fazer escolhas e constatar que um filho não nos muda só a nós, mas também os que nos rodeiam e que as pessoas evoluem em direcções que não são necessariamente as mesmas que as nossas e que temos de aceitar, mesmo que nos custe e que isso signifique que afinal, aquelas amizades que julgávamos para a vida, não o são. 2009 teve a sensatez de me fazer pensar, mas também me deixou muito perdida em mim mesma. Tenho dias em que sinto um verdadeiro bicho do mato, outros em que ando serena, outros em que duvido de tudo, principalmente de mim própria... mas por outro lado, fui uma privilegiada... pude estar em casa o primeiro ano de vida da minha filha, coisa que poucas se podem dar ao luxo de fazer e algo que tantas querem e não podem. E eu quis e pude e por isso tenho de agradecer. A Madalena teve a sua mãe em exclusivo durante 10 meses, altura em que decidimos colocá-la no infantário para eu poder retomar os carris da minha liberdade e independência. Sacrifiquei muito da minha vida pessoal (e da profissional então nem se fala) para a ter e gozá-la como mereceu, mas valeu a pena, porque a verdade é que não sei se algum dia terei outro filho e mesmo que o tenha, o mais provável, é não poder vir a fazer o mesmo ou gozar sequer de semelhantes circunstâncias. Por isso, este ano foi meio sabático, meio limbo, meio purificador, meio individual, meio intimista, meio introspectivo. Mas também foi cheio de descobertas e de felicidade centrada em pequenas coisas, da distinção entre o supérfluo e o acessório, da valorização do termo 'família'. A minha própria família.
E é por isso que eu tenho a certeza que o novo ano que se adivinha será mais pleno, mais cheio, mais convincente, mais optimista e mais empreendedor. Uma nova fase na minha e nas nossas vidas, porque estas paragens são necessárias, nem que seja para depois renascermos das cinzas que nem uma fénix purificada.



Feliz 2010.

2 comentários:

Melissa disse...

2010 vai ser uma montanha-russa não só para ti, mas para mim também! Preciso de emoções novas! :)
Um beijinho, entra com o pé direito!

Maffa disse...

que bom texto! muito vivido!
Tenho-me apercebido (pela minha própria experiêcia e por todas as conversas honestas que tenho tido com quem passou pelo mesmo) que ter um filho é um choque! Nós vivíamos para nós, quando muito para nós e para o namorado/marido. Faziamos o que queriamos e quando queriamos, cheias de independencia duramente conquistada. E de repente puuufffff vai-se tudo näo temos tempo nem para um banho descansado - que devia ser a mais básica neessidade de uma mulher. Noites mal dormidas, clausura em 4 paredes todas as santas noites... É um choque na nossa vida, e por mais que um filho seja maravilhoso, a nossa liberdade da vida antes filho também o era. Por isso digo que embora noutra situacao comparada contigo (porque tinha um emprego à espera depois de 10 meses...) senti quase tudo o que descreves aqui!
Toda a sorte para 2010!! que seja o ano da tua vida profissional!!