quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Câmara de tortura

 
É como me sinto, hoje, que decidi vestir este vestido já antigo da Mango e que, estupidamente, achei por bem voltar a usar depois de ter estado mais de um ano sem o meter no corpinho.
O vestido em questão já data de 2010 e foi um presente do meu ex-marido. Na altura, quando mo ofereceu, já me ficava ligeiramente apertado nas ancas, que sempre fui rapariga de grande estrutura óssea (cof, cof), mas nada que me incomodasse fisicamente, motivo pelo qual não o decidi trocar. Era giro, tem um decote vertiginoso nas costas e um pormenor de fecho em couro e velcro muito giro e original, além da cor ser marcante sem ser demasiado ofensiva. Ou seja, reunia pormenores que me faziam apreciá-lo. Não era vestido para usar e abusar, mas tinha pinta e com o acessórios certos fazia um vistaço. Até que começou a ficar-me um pouco apertado, mais do que gostaria e decidi renegá-lo para o armário sem o mesmo ver a luz do dia durante mais de um ano.
Até hoje, dia em que estupidamente achei que este vestidinho laranja ia lindamente com um cardigan de malha de padrão leopardo que tenho. Um toque de cor num modelo básico com um padrão em tons de castanho numa versão mais arrojada. Duas peças que já não usava há muito tempo e que quis dar-lhes um twist, armar-me em "stylist editor", com misturas fora da minha zona de conforto. Colar florido da Bimba a completar o modelito, casaco de pêlo (sintético e da Primark) para proteger do frio e uns botins castanhos (também antigos, muito antigos) completavam o look.
Durante a manhã confesso que ainda me senti assim a atirar para o modernaço, mas à medida que o tempo passava, já só me sentia ridícula. É que o vestido está-me tão, mas tão apertado nas ancas que o desconforto já passou a tortura e só me apetece rasgá-lo, qual Jane Selvagem, de tão incómodo que é. O seu tecido não é flexível nem elástico, aliás, não tem qualquer tipo de elasticidade. É duro e rígido e o forro é travado, o que me dificulta a andar e quando me sento. Ora, numa profissão onde passo a maior parte do meu dia sentada, isso não é lá muito simpático, é simplesmente estúpido.
Há pouco fui à casa de banho e senti um alívio profundo quando o puxei acima de cintura, para, logo em seguida, sentir momentos de pânico e horror por ter de o voltar a pôr para baixo, com a dureza do tecido a vincar-me a pele.
Se há câmaras de tortura esta é seguramente uma delas, assim como um claro e visível sinal de que o vestidinho laranja deve ficar renegado ao seu cantinho no armário, assunto arrumado e passado, assim como aconteceu com quem mo ofertou.
Para a frente é o caminho, de preferência com ancas mais estreitas, mas com vestidos novos.
 

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