quinta-feira, julho 24, 2008

desabafos




















Tenho passado uma gravidez santa, mas com um feitio... Eu própria tenho noção disso, e por mais que tente evitá-lo, não consigo. O turbilhão hormonal e emocional em que ando faz das suas e revela-se da pior maneira. Em todos os livros que leio sobre gravidez e afins, fala-se do assunto, de que as grávidas ficam instáveis, emocionais, rabugentas, sem paciência, etc. e eu sinto tudo isso, quase a duplicar e com muito mais intensidade, mas há uma série de coisas que neste momento me chateiam a valer e que só servem para me criar ainda mais stress e mais ansiedade.
A primeira de todas é a mudança da casa de Lisboa e as obras na casa da Ericeira. As obras já arrancaram há duas semanas, mas um atraso na chegada dos materiais de construção para as casa de banho fez com que com tudo ficasse atrasado. Na segunda-feira demos lá um salto para ver como estava tudo a andar, e a verdade é que ainda está tudo muito atrasado. A sala ainda não tinha sido pintada - apesar de a nova lareira já estar pronta - o nosso quarto ainda não estava pintado - apesar de já andarem a começar a dar a primeira demão, a casa de banho da suite tinha chão e pedra por colocar e a segunda casa de banho tinha apenas o chão posto. Sem mencionar que em ambas, ainda faltam os móveis, as loiças, comprar sanitas, torneiras, painéis de banheira, etc... As únicas coisas realmente prontas eram o quarto da Madalena, que já se encontrava pintado e o escritório. No final, ainda falta colocar papel de parede em algumas divisões...
Ora, tudo isto leva tempo e a julgar pelo andamento das coisas, eu suspeito que não será até ao final desta semana que tudo esteja concluído (na minha opinião, nem em sonhos!), apesar de o C. dizer que sim. É que nós temos o problema de o C. estar de férias esta semana e a próxima, e de ser esse o tempo que tínhamos previsto para as mudanças... o que a julgar pelo atraso de tudo, não se irão realizar nas datas que estipulámos, deixando-nos depois com outro problema em mãos.
Como se isso não fosse já motivo de preocupação e de ansiedade para mim, ainda me cabe empacotar tudo o que tenho nesta casa que vamos deixar. E meu Deus, se nós temos coisas!! Só em livros, vocês nem imaginam... O que se torna complicado de realizar, principalmente quando se está grávida. Fico cansada muito mais rapidamente, custa-me mexer, ser mais despachada e desenvolta e tenho de fazer tudo lentamente e com muitas pausas pelo meio. De qualquer forma, já começámos a empacotar as coisas da sala, que já está quase vazia e completamente desarrumada, à excepção dos móveis, e onde já temos uns dez caixotes empilhados e no meio do caminho, cheios de tudo e mais alguma coisa. Lentamente, o caos começa a instalar-se à minha volta. No entanto, antes de me mudar e já depois de as obras na Ericeira estarem concluídas, espera-me ainda a árdua tarefa de ir limpar a casa de toda a sujidade e poeirada... O que mais uma vez, para uma grávida, andar a limpar paredes, chãos, juntas de azulejos e afins, é tarefa das pesadas! Claro que posso sempre pedir ajuda à minha mãe, mas aí está outro problema... eu e ela não nos conseguimos entender de modo nenhum! Ainda este fim-de-semana fomos até às Caldas a casa dos meus pais e passámos a maior parte do tempo a discutir por coisas ridículas e sem sentido. O que se passa é que a minha mãe há dois anos que anda a passar pela menopausa e desde que está desempregada, que noto que ela está emocionalmente instável ao ponto de fazer birras como uma criança, ter crises de choro e comportamentos que mais se parecem com uma miúda de 5 anos do que com uma mulher de 55! Como se isso não bastasse, acho que na maior parte das vezes se esquece de que ela é a mãe e eu a filha e, como tal, espero dela determinados comportamentos dignos desse nome, mas não, ela acha que mãe e filha têm de ser 'melhores amigas', como se tivesse a minha idade, e fica muito ofendida se não lhe conto certas e determinadas coisas que considero 'pessoais', ou andar a passeá-la, como se o facto de irmos lá passar o fim-de-semana estivesse explícito de que tem de se colar a nós como uma lapa, quando nós próprios temos assuntos pessoais para tratar, partindo logo para a vitimização da sua pessoa. Tudo isto causa-me bastante stress e acho, serimente, que ela precisa de ajuda, ou de tomar qualquer coisa. Mas quem é que lhe diz isto? Eu? Seria comprar mais outra discussão 'daquelas'. Apesar de parecer pouco sensível da minha parte esta minha descrição, gosto imenso da minha mãe e conto-lhe imensas coisas, desabafo com ela, temos uma relação muito liberal, mas depois há outros momentos em que ela me consegue tirar do sério como ninguém! E quando se comporta mais como minha irmã do que como a mulher que é, fazendo birras, amuando ou desatando aos berros comigo à frente do meu marido (que deve achar que somos a família mais disfuncional e louca do mundo) só tenho vontade de agarrar nas malas e vir-me embora, porque a verdade é que não tenho idade, feitio, nem paciência, para andar a aguentar tais cenas!
À pala do fim-de-semana de que tive, não nos falamos há 3 dias.
Depois, vem a cereja em cima do bolo, o tema causador de stress por excelência, ou seja, os meus sogros! Ora se pais dão chatices, sogros dão a dobrar e os meus, apesar de longe, gostam de nos controlar os passos e de dar opiniões por tudo e por nada e eu ando tão farta, mas tão farta deles, que acho que já nem consigo disfarçar a falta de empatia que sinto de cada vez que os vejo ou oiço. E claro, a minha sogra como soube que tínhamos ido passar o fds a casa dos meus pais fez logo uma cena de ciúmes por telefone, deixando o filho com um peso de consciência do tamanho do mundo, que prontamente cedeu perante a chantagem emocional da mãe... além disso, o meu sogro torceu um pé e agora não se pode mexer ou conduzir até Setembro, e lá vamos nós este fim-de-semana até lá cima, quando esses dois dias iriam ser preciosos para comprar as coisas que faltam para as casas de banho, escolher materiais, ou até, limpar a casa toda e tentar mudarmo-nos na semana seguinte. Além disso, temos ainda um sem número de coisas deles na casa da Ericeira, que já deviam de ter ido para cima há séculos, mas que os senhores, teimosos que nem uma mula, foram 'deixando ficar', a ver se pegava... e agora, com o meu sogro impossibilitado de se mexer e nós com uma mudança à porta, sobra para quem? Para nós, pois claro! Que das duas uma, ou temos de alugar uma carrinha e levar para cima toda a tralha sobrante que eles ainda cá deixaram, ou fazer as mudanças e viver mais dois meses com aquela porcaria toda a ocupar espaço lá em casa, quando ainda temos de lá pôr as nossas coisas...
Desde que sei que vou ter de ir passar o próximo fds a aturar aqueles dois, que ando com o fígado virado. Já sei que a minha sogra vai ter pano para mangas para me chatear a cabeça, tentando espremer-me até à exaustão e fazendo perguntas e opinando de tudo e mais alguma coisa (a casa, a bebé, os meus pais, as mudanças, as obras...) Eu vou estar tipo panela de pressão, ou seja, prestes a explodir, e se com a minha mãe eu tenho à vontade para falar e discutir, com a minha sogra, tenho de me conter ao ponto de pensar duas vezes e muito bem antes de lhe responder sem ser demasiado desagradável ou mal educada. Já sei que virei de lá completamente danada, farta, pelos cabelos e com vontade de gritar, mas vou ter de ir e calar, tudo em prole da 'família'.
Claro que tudo isto tem repercussões sobre a minha relação e a do C., que cada vez nota mais a minha 'azia' em relação aos pais dele, (a verdade é que eu já nem escondo!), a minha falta de paciência, a transparência dos meus sentimentos em relação a um sem número de coisas... mas como homem que é, não percebe ou concebe a dimensão e amplitude das mesmas, ou nem está para se chatear e continua a dizer à mãe, quando fala com a mesma diariamente por telefone, onde estamos, com quem estamos, o que fazemos...
Sinceramente, há dias em que penso que se casamento é isto, mais valia ter continuado solteira.

segunda-feira, julho 14, 2008

23 semanas


















E cá estamos nós às 23 semanas. Cada vez maiores, e eu a passar por um período em que me sinto uma hipópotama de tão grande que estou! Então quando o C. me tira fotos e eu as vejo... é aí que me dou conta de que o meu rabo e ancas, estão do tamanho do mapa mundi, e pensar que ainda me faltam mais três meses e meio pela frente sempre a aumentar, assustam-me terrivelmente! Acho que este ano nem me atrevo mais a pôr o biquíni na praia senão ainda me confundem com uma baleia! ehehehe Mas a verdade é que desde que estou sossegada em casa que o peso disparou! Não me mexo tanto, durmo belas sestas e como frequentemente... o que se reflecte depois nos meus quadris!
Tirando estas questões hormonais que me afectam, e apesar de o C. passar a vida a dizer que eu não estou nada gorda (é um querido, eu sei, mas mente mal!), começo a ficar impaciente com o facto de a mudança de casa nunca mais acontecer, de a casa de Lisboa apesar de ter visitantes interessados não haver ainda nenhum que tenha feito uma oferta, de as obras da Ericeira andarem a meio gás - vamos lá ver se é esta semana que sempre avançam - das dores que sinto não serem normais para esta altura da gestação e do medo que tenho, de que esta rapariga seja sôfrega e apressada como a mãe, e queira nascer antes do tempo...
Devido à conização que fiz em Dezembro do ano passado, antes de engravidar, tenho medo que o cólo do útero ceda, apesar de a última ecografia mostrar que por enquanto estar tudo bem, mas estas dores que sinto, não as acho normais... e o peso... o peso que sinto da barriga, tem dias em que chega a ser insuportável, quase não me deixando andar. Hoje vou à médica e vou-me queixar disto tudo, logo vemos o que ela me diz. Também começo a ficar preocupada por já estar de 23 semanas e segundas análises de gravidez nem vê-las no horizonte... nem repito a análise à toxoplasmose (à qual não sou imune), nem faço novas análises de sangue... enfim, começo a achar o serviço de acompanhamento da CUF a nível de obstectrícia muito 'pobrezinho' e as experiências que tenho com as ecografias quase que provam isso mesmo, mas como na próxima segunda-feira vou à Maternidade Alfredo da Costa, logo tenho uma segunda opinião.
À parte deste tudo isto, também tenho andado com umas coceiras nas pernas que chegam a ser enlouquecedoras! Já tentei tudo, pôr creme, lavá-las com água fria quando me dá os 'ditos ataques' de comichão, pulverizá-las com água da Avénne, etc., mas às noite, os comichões regressam sempre. No outro dia cocei-me tanto que até me esfolei. Se é uma alergia ou uma reacção da gravidez, não sei, mas ando a dar em doida com o assunto.
Todas estas coisas me preocupam actualmente, mas só o facto de estar em casa, de baixa, descansada da vida, sem ter de aturar aquela cambada toda lá do trabalho, para mim, já é um grande alívio e sossego. Não sinto falta nenhuma daquela gente e acho que é recíproco, porque a verdade é que as únicas pessoas que até à data me ligaram para saber como estou, foram as duas pessoas com que me dou melhor, o resto, incluindo chefes e colegas directas, nem um 'ai'. Melhor assim, eu confesso que até agradeço.
A única coisa chata em estar de baixa é claro, não poder aproveitar todo este tempo livre para fazer compras para a criança e preparar as coisas, pois não posso sair de casa. Claro que o faço, mas evito ao máximo ausentar-me durante longos períodos. Isto dificulta a preparação da chegada da rapariga, mas tento não stressar muito com o assunto, pois sei que o essencial já tenho, agora o resto terá de ser feito com mais calma. Este fds aproveitei termos ido às compras ao Continente e acabei por lhe comprar um conjunto de lençóis para a caminha de grades. Os primeiros, apesar de já ter uns dados pela minha mãe, mas para a alcofa. Também tenho de comprar uns cobertores quentinhos para pôr na cama, apesar de já lhe ter comprado um edredon e claro, depois de nos mudarmos, vem a parte de preparar o quartinho dela e de lavar todas as roupinhas que já tem.
Dizem que quando uma mulher está grávida, que a experiência da gravidez lhe afecta todo o cérebro e que é só nisso que pensa... pois eu sinto-me assim (além de chata, muito chata!) Não consigo pensar noutra coisa e não vejo a hora de ter esta formiga atómica nos braços, apesar de ter consciência de que depois, acaba-se o meu sossego e as minhas belas e longas sestas e noites! :D

quarta-feira, julho 09, 2008

ela a fazer anos e eu a ficar mais velha...

















Quando a minha afilhada nasceu eu tinha 18 anos. Era e fui, durante muito tempo, uma madrinha jovem na flor da idade que acompanhou babadíssima o crescimento evolutivo da sua pequena 'petiz', familiar directa, que sempre me encheu de orgulho desmedido e que durante muito tempo (e ainda hoje, confesso), trato por 'a minha menina'. Ora, acontece que a 'minha menina' é, hoje em dia, uma 'pré-adolescente' - termo utilizado pelos psicólogos e pediatras para designar o período de transição entre a infância e a adolescência - com todas as coisas boas e más que isso também trás... Ora, em um ano, a minha afilhada mudou radicalmente de feições, perdeu completamente o ar 'de menina' doce e angelical que a caracterizava, cortou o longo cabelo e agora ostenta uns caracóis meio selvagens, cresceu a olhos vistos, está alta e esguia, ainda não é menstruada nem tem maminhas (mas desconfio que pouco falte!!) e imagine-se, até já tem um namorado (para meu grande choque) que curiosamente, estava presente na festa e que a 'ama' - o que eles gostam de utilizar o verbo amar como quem diz 'gosta' - desenfreada e apaixonadamente!! Para além de todas estas alterações físicas, completamente visíveis aos olhos de terceiros, a J. passou ainda a gostar de se vestir de preto (!! eu espero que não tenhamos gótica na família, senão dá-me um achaque!!) e a ser uma espécie de líder incontornável entre as restantes meninas - ou pré-adolescentes -, como as queiramos chamar!
Eu assisto a tudo com uma emoção que alterna, ora entre o espanto, ora a estupidez, (mais uma vez, estupidez derivada do espanto e da minha própria ingenuidade) por constatar que os miúdos de 11 anos hoje em dia, têm mais escola e mais lábia do que eu tinha aos 14! (coitadinha de mim que aos 14 que ainda brincava alegremente com as Barbies...)
As meninas de 11 anos - entre as quais a minha afilhada se encaixa - vestem-se de forma sexy e desejável, como vêem nas mulheres que abundam nos videoclips da MTV e nas novelas como Morangos com Açúcar. Querem telemóveis topo de marca que lhes permita tirar fotografias e colocá-las na net, assim como falar com os amigos online, no messenger e em chats. Falam por webcams e despem-se de preconceitos na hora de revelar o corpo ou de se expôr a terceiros e perfeitos desconhecidos que encontram online. Vêem nas marcas da moda um 'must have' e exigem, como quem pede à mãe um chocolate num supermercado, que façam parte do seu armário...
Esta nova geração de crianças ou pré-adolescentes assusta-me terrivelmente e eu sinto que não sei lidar com ela... e numa altura em que estou prestes a ser mãe, sinto-me impotente e à beira de um abismo só de pensar que um dia também me verei confrontada com estas e outras situações - que a julgar pela velocidade com que eles aprendem hoje em dia - serão ainda cem vezes piores!
Isso, ou nas respostas incisivas e afiadas que nos dão e que me deixam de cara à banda, como ontem, quando me cheguei ao pé dela e lhe passei para a mão umas quantas notas de euros para ela guardar no mealheiro e me diz com o ar mais natural deste mundo enquanto as aceita e guarda no bolso da saia: '-Gosto mais das roxas!'
ááááááááááaá´!!! Das roxas?? Olha o raio da formiga que já tem catarro!!
Das roxas também eu gostaria de ter na carteira!
Como dizia o já velhinho e falecido 'Peça', '-E esta hein?'

sexta-feira, julho 04, 2008

passeios



















Para quebrar a monotonia dos dias que têm sido passados em casa, a descansar, a escrever, a ler, a bordar... hoje tive o convite da M. para ir tomar um cafézinho com ela à Gulbenkian e posteriormente, ajudá-la a ver de acessórios para o vestido de casamento. Assim foi. Encontrámo-nos a porta principal e realmente não podíamos ter escolhido melhor sítio para estar numa tarde de Verão em plena cidade! Já não ia à Gulbenkian há bastante tempo e andar ali, em pleno dia, fez-me lembrar os meus tempos de faculdade, em que as visitas eram frequentes. A exposição dos Toldos no Jardim, que se realiza pelo segundo ano consecutivo, anima quem passa, proporcionando excelentes fotografias coloridas. Tomámos café na cafetaria do Centro de Arte Moderna Azeredo Perdição, onde reparei estar patente uma exposição sobre Siza Vieira - mas que não deu tempo de ver, fica para a próxima - e seguimos caminho até ao nosso próximo destino.
Foram apenas duas horinhas, mas soube bem para quebrar esta minha nova rotina de 'mãe home alone'.

quinta-feira, julho 03, 2008

questões familiares


















Já aqui falei várias vezes de como a relação com a minha sogra é um tanto ou quanto sui generis. E ultimamente parece que nem a chegada de um neto, ou neste caso, neta, parece adivinhar que as coisas vão mudar ou ser mais fáceis, antes pelo contrário. Dominadora e possessiva como é com o filho, gosta de controlar coisas da nossa vida, mesmo que à distância, que mais tarde lhe servem de pérolas e armas de arremeço para me vir moer a cabeça a mim, fazendo conversas que muitas vezes não lembram nem ao menino Jesus, com o intuíto de me atacar e dando a entender entrelinhas, de uma forma quase subtil, a mensagem preliminar. Eu topo-a à distância e por esse mesmo motivo, nunca fui de lhe dar muitas conversas, pois sei que para ela informação é poder e assim, deixo-a na ignorância de saber apenas o elementar e de não lhe dar muita corda. Quanto menos ela me chatear melhor, quanto menos tiver de conviver com ela melhor.
E assim temos vivido nos últimos cinco anos, nesta coexistência pacífica mas podre, onde eu claramente assumo que não a suporto e ela certamente pensará o mesmo de mim.
Ultimamente as coisas têm andado um pouco mais tensas, pois a nossa futura mudança para a casa da Ericeira fez com que os meus sogros tivessem de tirar toda a mobília deles que lá se encontrava, uma vez que vamos levar todas as nossas coisas e, consequentemente mobílias da casa de Lisboa, para lá! Isto é perfeitamente normal, se uma pessoa tem uma casa cheia e mobilada e se se muda, é normal que se leve tudo o que se tem para a nova casa (a não ser que não o queiram), mas para os meus sogros, pelos vistos não é! Aparentemente ficaram 'sentidos' por levarmos as nossas coisas de Lisboa para a casa da Ericeira, pois como já temos a casa de lá mobilada 'não fazia sentido'. Para eles, fazia sentido sim era ficarmos com as mobílias que já lá estavam (que são simplesmente hediondas) e vendermos as nossas, 'a tralha', 'os cacos' que temos. Aquilo pareceu-me tão ofensivo que não fui capaz de disfarçar um ataque de fúria crescente que me foi invadindo o corpo e se prolongou numa extensão da boca, dizendo numa sonora e afirmativa sentença 'Nem pensar! As nossas coisas fomos nós que as comprámos com o nosso dinheiro e gostamos muito delas! As que estão na Ericeira têm de sair'. E pronto, a questão ficou arrumada, mas os meus sogros ofendidos com a minha atitude de 'nora respondona e mal agradecida'.
Na questão de uma semana vieram cá abaixo à Ericeira e toca de empilhar tudo na carrinha, desde loiças da cozinha a mobília de quarto, sofá de sala, etc. Enquanto não esvaziaram a casa não descansaram, apressados que estavam em marcar a sua posição e eu deixei-me ficar, impávida e serena sempre que a minha sogra se dirigia a mim num tom quase ríspido de 'Mafalda, vem cá. Diz-me, queres isto?' E a minha resposta era sempre a mesma: 'Não, não quero. Também tenho um(a), pode levar'. Ela largava um grande suspiro e às vezes soltava um 'Onde é que eu vou pôr tanta coisa meu Deus?'.
Pelos vistos tudo o que levaram encontrou o seu espaço na casa deles. Do sofá à mobília, às loiças, tudo se encaixou e a casa da Ericeira ficou vazia para nos receber. Apenas ficaram as cadeiras da mesa de jantar - que eu lhe tinha dito que eram para seguir pois íamos utlizar as nossas - mas essa é outra 'guerra' que ainda está para vir...
Ora, depois de dois fins-de-semana intensos, os meus sogros mergulharam num silêncio. Só falavam com o filho, nunca perguntavam por mim ou como estava a correr a minha gravidez e nem no dia em que fomos fazer a eco em que se descobriu qual era o sexo do bebé, foram capazes de ligar a dar os parabéns! Aquilo pareceu-me mal! Mesmo muito mal! Nós fizemos a eco a uma segunda-feira e enquanto os meus pais nos ligaram de imediato e deram-nos os parabéns extasiados que estavam com a notícia - tanto a mim como ao C. - os meus sogros pelos vistos, limitaram-se a falar com o filho e manifestações de contentamento nem vê-las.
Aquilo pareceu-me tão mau que durante uns dias fiquei a avaliar se a minha sogra se dignava a ligar ou a dizer qualquer coisa, mas nada, o silêncio era total. Na 5ª feira dessa mesma semana não resisti e abri a boca ao C., 'Parece mentira, mas a tua mãe ainda não foi capaz de se dignar a pegar no telefone e a ligar-me a dar os parabéns pela bebé.' Ele ficou chocado com a atitude dos pais e eu sabia que aquele meu simples comentário era o suficiente para criar reacções de energia.
À noite, estava eu sozinha em casa, liga-me a 'senhora', com a voz mais cínica deste mundo a fazer-se passar por 'uma avó muito feliz'. (eu só não acerto no euromilhões...) Não resisti e mandei-lhe as ferroadas todas que ela merecia ouvir! 'Seja bem aparecida, já não era sem tempo, estava a ver que nem ligava a perguntar pela neta!' - facada nº 1 - 'Até parece que só o seu filho é que vai ser pai' - facada nº 2 - E ela, do outro lado respondia entre risinhos nervosos e entrecortados: 'Oh, mas porquê, os teus pais já te ligaram a dar os parabéns?'. 'Claro', respondia eu, 'Ligaram-me logo na segunda-feira, no dia da ecografia, em que ficámos a saber o sexo, e deram os parabéns a mim, que vou ser mãe, e ao C. que vai ser pai. Falaram com os dois' - terceira e derradeira facada! Ela ria-se para disfarçar a culpa e entre desculpas esfarrapadas, lá ia dizendo que 'Não importa que seja menina ou menino, que o que interessa é que venha com saúde, apesar de eu ser mais pelos meninos....' (olha que novidade!!)
Eu sinceramente acho triste, muito triste, que até agora, que espero uma filha - a primeira e única neta deles - o comportamento da minha sogra se paute por este tipo de atitudes. Que ela não é boa e não me grama, eu já sei e quanto a isso, chego à conclusão de que não há nada a fazer, mas neste momento vem uma criança a caminho e se ela pensa que é com este tipo de atitudes a leva a algum lado, está muitíssimo enganada.
Desde esse dia que agora, para se fazer passar por boa samaritana, pede ao filho para me passar o telefone para perguntar 'como estou e como vai a 'menina'... E eu lá lhe falo muito bem - quem nos vê há-de dizer que temos uma relação muito cordial e pacífica - quando a verdade é que sei que tudo aquilo não passam de jogadas dela, para que o filho, enganado pela mãe dócil, pense o contrário.
Só para que tenham uma ideia, ainda não foi capaz de me perguntar sequer como é que a menina se vai chamar, referindo-se à mesma sempre como 'a bebé'...
Porquê, perguntam vocês? Não é que ela não saiba, porque eu tenho a certeza que o filho já lhe disse, mas comigo, sempre que agora me liga e me fala, nunca menciona o nome de 'Madalena', simplesmente porque eu sei que ela não gosta do mesmo... (se calhar queria ser ela a escolher também o nome dela não? é provável...)
Enfim, é triste, muito triste e eu cada vez tenho menos paciência para tudo isto.

quarta-feira, julho 02, 2008

21 semanas e dois dias emotivos



















Estes últimos dias têm sido uma correria! Apesar de já não estar a trabalhar, tenho andado num lufa-lufa para tratar das coisas da baixa, que a segurança-social tem sido uma das casas mais visitadas, com esperas de algumas horas, mesmo tendo o chamado serviço 'prioritário'! Acontece, que neste meses, deve ter nascido muita criançada, por isso, sempre que lá vou, deparo-me com várias senhoras com bebés de poucas semanas que certamente se encontram ali para tratar dos papéis do subsídio de maternidade e da baixa de parto. Ontem esperei cerca de uma hora para ser atendida, hoje esperei um pouco mais, mas não há dúvida de que estar grávida tem mesmo as suas vantagens, caso contrário, ainda tinha mais de cem pessoas à minha frente...
De resto ontem ainda passei pelo trabalho para falar com os recursos humanos e com a minha chefe, mostrando-lhe os papéis da baixa e dizendo-lhe de que esta é apenas de 12 dias, mas que a posterior será de 30. E assim será até ao final da gravidez. Acertei as contas com o departamento financeiro, carimbaram-me o papel para entregar na segurança social e pronto, assunto resolvido. Agora, até breve ou até para o ano. Logo se verá!
Ontem foi ainda dia de ir à Maternidade Alfredo da Costa à consulta de gravidez de risco do Centro de Diagnóstico Pré-Natal. Tal como eu previa, deram-me bem a entender de que não há nada de que possam fazer por mim e de que um eventual diagnóstico só mesmo depois de a bebé nascer e de se verificar se a mesma trás ou não, sinais visíveis da doença à nascença. Confesso que me passei um pouco com o médico que me atendeu, porque mais uma vez constato, que os médicos lisboetas com que me deparo, são na maior parte das vezes arrogantes e altivos, além de partirem do princípio de que o doente é estúpido, ou pouco esclarecido acerca de determinada situação. Ora comigo, estão lixados e a coisa azeda sempre! Não sou nenhuma médica nem tenho pretensões de o ser, mas da minha doença, podem ter a certeza de que sei mais dela do que a maior parte dos médicos que me aparecem pela frente, sejam eles geneticistas ou dermatologistas! Ora, o médico de ontem, falava muito bem, mas dizia pouco, mandando para o ar coisas como: 'os testes que eventualmente se poderiam fazer são muito caros e possuem um risco de aborto muito grande, logo não vale a pena'. Ora, eu quando ouvi aquilo percebi imediatamente ao que é que ele se estava a referir, 'testes caros com risco de aborto, está a referir-se a quê, a uma amniocentese?', perguntei, ao que o médico, apanhado que tinha sido na sua retórica pouco explicíta foi obrigado a concordar. Então, se era a uma amniocentese de que o mesmo se estava a referir, não era preferível dizer que 'podíamos fazer uma amniocentese, mas se calhar o risco acrescido não se justifica na sua situação uma vez que podemos não conseguir detectar nada'. Não era mais justo, correcto e honesto dizer as coisas desta forma? Para quê todo aquele paleio da treta 'testes muito caros e raros, com risco de aborto grande', onde quem ouve só pensa que se trata de algo cientificamente raro, quando afinal, se referia a uma amniocentese, que não sendo um exame obrigatório às grávidas, é cada vez mais corriqueiro nos dias que correm? É esta altivez científica, que parte do pressuposto de que as pessoas/doentes não sabem, ou não perguntam, que me irrita solenemente na classe médica, que quando confrontada com um doente que até sabe, já leu, ouviu falar, que coloca questões e é pertinente, fica ofendida no seu âmago e remata o assunto com 'nós é que sabemos, temos o poder e decidimos'.
Eu sinto-me muito cansada de ver e constatar que os médicos com que me deparo (e falo apenas em relação à minha precisa situação e nada mais do que isso), de que como não conhecem a doença e a mesma mete questões genéticas pelo meio, não se querem envolver demasiado, nem tão pouco ter muitas dores de cabeça com o assunto. Apoiam-se em premissas feitas de 'é uma questão de sorte genética', de 'lotaria', de '50-50' e seja o que Deus quiser... Neste momento sinto-me muito esgotada e talvez seja por isso que engravidei, porque constatei que por mais que me esforce, sinto que tudo é em vão. Até agora, em que apenas pedia esclarecimentos àcerca de um eventual diagnóstico pré-natal que me permita saber a priori se a bebé vem ou não com ictiose, e a resposta que recebo é que 'mesmo que venha, a menina não pode abortar'!! Mas quem é que disse a estes senhores de que eu quero saber se a bebé vem com ictiose ou não para poder abortar?? Se quisesse abortar já o teria feito até às 12 semanas agora que a lei o permite, não acham?
Mas pronto, como diz o ditado, 'se não podes vencê-los, junta-te a eles' e depois da consulta, enquanto esperei pelo estudo morfológico na sala onde passei a manhã toda, confesso que lutei seriamente contra as lágrimas que insistiam em acumular-se no canto dos olhos, fazendo um esforço tremendo para não desatar num pranto à frente de todas as grávidas, maridos e crianças que se encontravam na sala. Só fiquei menos tensa quando passei à eco e a vi, ali, tão pequenina e indefesa, mas cheia de força a mexer-se de um lado para o outro, com uma vitalidade e uma energia que pareciam dizer: 'não te preocupes mamã, comigo está tudo bem'. É mesmo uma lutadora esta minha filha e por isso, hoje, decidi presenteá-la com todas estas coisas bonitas que vos mostro! Estou babadíssima.
ps -A Madalena já pesa 431 gramas! Quase, quase meio quilo de gente! :D