quinta-feira, março 29, 2007

Anjo da guarda





















Conheci a Diane por mero acaso, ou porque acredito, o destino nos juntou, a muitos quilómetros de distância e a partilharmos uma doença comum. Ela na Bélgica, eu em Portugal, mas com experiências de vida provavelmente muito idênticas. Há dois anos andava eu a pesquisar sobre o meu problema de pele quando fui parar a um fórum norte-americano sobre a doença. Fiquei fã desde o primeiro dia, até porque em Portugal não existe qualquer tipo de informação disponível que me possa simplificar a vida. Sempre que ia ao médico, sentia que eu sabia mais sobre a doença do que eles – o que não é de estranhar, pois sou eu que vivo com ela todos os dias – e tirando a minha mãe, portadora do mesmo problema, nunca conheci ninguém como eu. (Não existe mais nenhum outro caso na família) O meu problema de pele é uma doença pouco ou nada conhecida. Chama-se Ictiose e é uma doença hereditária e de base genética – através de um processo de má formação dos genes da pele na altura da concepção do feto. Não é contagiosa, apesar de muitas pessoas olharem para as minhas mãos - a parte do meu corpo mais exposta - de forma estranha ou maliciosa. É sim, uma pele extremamente seca, descamativa e rugosa, necessita de hidratação constante e de cuidados excessivos. É uma doença que não me impossibilita de levar uma vida aparentemente normal, apesar de as atenções e cuidados que lhe dedico, serem tudo, menos normais. Acho que durante toda a minha vida sempre lidei bem com o assunto, apesar de durante a adolescência ter tido imensos complexos, medos e fraquezas – mas também, qual é o adolescente que não os tem? A minha mãe sempre me tentou aconselhar o melhor que podia, porque também ela sofre do mesmo e por causa disso, apenas teve um filho. (moi memme) A doença, por ser genética, tem fortes probabilidades de passar para todos os filhos que um casal tenha. Mas também pode acontecer, nascerem livres da doença, apesar de serem poucas as hipóteses. É aqui que a Diane entra. Depois de nos termos conhecido no fórum americano, trocámos emails e mantivemos a comunicação. Sei que é casada, um ano mais nova que eu e sofre de um tipo da doença bem mais gravosa que a minha, a Ictiose Bulhosa – que apesar de ter todas as características da minha, tem também propensão para ganhar bolhas e feridas. E acreditem, é muito doloroso. Todos os problemas de pele são dolorosos (não querendo menosprezar as outras doenças), mas a pele, por estar tão exposta e nos cobrir o corpo todo, é particularmente difícil de lidar, mexe com a nossa auto-estima, com o nosso bem-estar. A Diane, ao contrário do que aconteceu comigo, não consegue arranjar emprego – nesse aspecto nunca tive queixas e sempre tive facilidade - sempre me contrataram pelas qualidades demonstradas e não apenas por uma questão estética, mas nem sempre é fácil, acreditem. Além disso, tento que a doença seja o mais despercebida possível aos olhos alheios, mas nem sempre isso é contornável e comentários e perguntas indelicadas proliferam - felizmente já estou habituada a lidar com elas e a adoptar o meu escudo protector de defesa.
O Verão é provavelmente, uma das épocas do ano que mais odeio, porque além da exposição do corpo ao sol, estou, eu própria, muito mais exposta aos olhares alheios. Tudo isto para dizer, que agora, aos 28 anos e com o desejo profundo de ser mãe, tenho de pensar duas vezes antes de dar esse passo, porque sei que ao ter um filho, ele pode vir exactamente como eu e se o pudesse evitar, seria uma pessoa mais feliz. Foi a Diane que me falou na técnica do embrião geneticamente modificado, que ela própria na Bélgica estava a realizar. Através de um estudo genético e detalhado da doença e da fertilização in vitro, pessoas como nós, conseguem ter filhos saudáveis. Foi graças à Diane que eu comecei a investigar as possibilidades de o realizar em Portugal e lutei, literalmente, contra médicos especialistas, com a minha força de vontade, pois cruzei-me com alguns que me demoveram da ideia, ou simplesmente se afastaram, não querendo ajudar-me. Foi graças a uma reportagem da Sic que descobri o Dr. Mário no Porto, um dos maiores especialistas a nível mundial na técnica e que me voltou a renovar o coração de esperanças. Foi graças à Diane que soube que na Bélgica, se quisesse, podia fazer o tratamento e será, graças à Diane, que um dia terei um filho (ou vários) saudáveis. (my fingers are crossed)
A Diane vem a Portugal passar férias em Maio e Junho e vamo-nos encontrar pela primeira vez, depois de dois anos de troca de experiências, angústias e de uma doença em comum. A Diane vai na 5ª tentativa de fertilização in vitro, na Bélgica, e não esmorece perante a adversidade dos tratamentos. No outro dia, perguntei-lhe se todo o processo era difícil, se provocava muita ansiedade, se era doloroso. Ela respondeu-me: ‘Comparado com aquilo que passamos com a doença e no nosso dia-a-dia, isto não é nada. Nós somos pessoas fortes, se aguentamos isto, aguentamos tudo’. Eu concordo.
Acho que algo ou alguém colocou a Diane no meu caminho com um forte propósito e eu agradeço. Talvez ela não tenha consciência, mas já fez mais por mim, do que muitas pessoas que conheço.
(Acho que só agora, que sei que este blogue é privado, ganhei coragem para falar sobre este tipo de coisas, tão intímas e pessoais, que mexem tanto connosco. Mas também acho, que é falando delas, que se desmistificam as coisas, se informa as pessoas e nos libertamos de velhos fantasmas. Por isso, se acharem estranho este meu post, vejam-no como uma catarse, uma forma de libertação de mim mesma, porque sinto, efectivamente, necessidade de falar sobre isto... Neste momento o meu DNA já seguiu para a Bélgica, em Antuérpia, para a realização do estudo genético, daqui a alguns meses poderei ter notícias e aí, finalmente, começar a fazer os tratamentos in vitro, no Porto. Não vejo a hora. Espero no próximo ano conseguir, finalmente, ter o tão desejado baby... se tudo correr bem.)

descubra as diferenças



















1ª Foto: Outubro de 2006
2ª Foto: Março de 2007

O trabalho tem coisas chatas, mas de vez em quando também tem momentos divertidos e de paródia. Por aqui, a ‘palhaça’ da agência é a A., louca como só ela sabe ser. Sempre que existem fatos de animação no armazém, lá vai ela vesti-los, desfilando à nossa frente e pondo toda a gente a rir. Hoje foi de lontra, mas já a fotografei vestida de Noddy, de Aladino, de palhaça, de peruca loura e casaco de pêlo… enfim, ficam as fotos, uma em Outubro e outra do dia de hoje, uma com o cabelo comprido, comprido, outra com o cabelo curto, curto…
É impressão minha, ou eu na segunda fotografia pareço mais gorda? Ááááá
(é da roupa, é da roupa).

despojos laborais



















Afinal, o problema que mencionei no meu último post já se encontra resolvido. A comunicação voltou a ser estabelecida, segundo os moldes a que estávamos habituadas, por isso, voltámos a falar de forma mais ou menos intensiva durante o dia e os meus dias voltaram ao que eram, menos sozinhos e mais confortados. (é incrível como ficamos dependentes destas pequenas coisas). Ao que parece tudo não deve ter passado de uma má configuração do sistema, ou do facto de ela ter mudado de computador nesse mesmo dia. Só o envio de mails dela para o meu endereço electrónico do trabalho é que pelos vistos, continua bloqueado. Enfim… não se pode ter tudo.
Por aqui no trabalho, ontem fui ‘agraciada’ pela minha chefe logo pela manhã. Tudo porque cheguei mais tarde do que a ‘hora de entrada’. Mesmo tendo enviado um sms a avisar que estava atrasada, não me livrei de um mailzinho na minha caixa de correio a chamar-me a atenção. Desfiz-me em desculpas, brinquei com a situação, bati com a mão no peito em sinal de ‘mea culpa, mea culpa’ e pronto, só não enfiei a cabeça na areia, qual avestruz, porque não mo pediram – senão também fazia! Mas fiquei lixadíssima! Primeiro, porque as duas pessoas que tenho como colegas na minha equipa de trabalho, nunca chegam antes das dez da manhã (quando não é mais tarde), eu claro, como sou a mais nova e porque, como a própria disse: ‘moro aqui ao lado e não apanho trânsito’, não tenho motivos para chegar atrasada. Elas como vêm de Cascais, aparentemente, podem fazê-lo… adiante! Expliquei, também por mail, que achava que o meu trabalho nunca tinha sido posto em causa por chegar dez ou vinte minutos atrasada – porque se temos horas para entrar, nunca o temos para sair – e que quando isso acontecia, tentava sempre compensar de várias outras maneiras. Respondi num tom leve e descontraído e até brinquei com a situação. Ela riu-se (mas não perdoa, que eu sei) e o resto do dia seguiu calmamente. Hoje, sabia que tinha de chegar à hora marcada e que muito provavelmente a ‘fiscal’ chegaria cedo também, para se certificar. Stressei bastante para me despachar, passei uns quantos sinais ‘amarelos-vermelhos’, corri – literalmente – até chegar ao edifício, desesperei à espera do elevador e quando aqui cheguei não estava ninguém da minha equipa de trabalho! (mas porque é que eu não fiquei surpreendida?) ambas chegaram depois das dez da manhã!! Mas claro, eu é que me esquecia, que é que tenho de cá estar às 9h30…
A única coisa boa do dia: o encontro pós laboral com a L. e a H. no nosso velhinho e conhecido Irish Pub, na Rua dos Remolares – o O´Gillins – para uma animada conversa de gajas, que durou até às 9h30 da noite! Soube bem, mesmo, mesmo, muito bem.

terça-feira, março 27, 2007

interdição



















Todos os dias, desde há muitos anos, que eu e a minha querida amiga 'Cabeça' - assim apelidada desde os tempos da faculdade, altura em que fizemos fortes laços de amizade que perduram até aos dias de hoje - trocamos mails de forma constante durante o dia de trabalho. Quem me lê poderá pensar que isso atrapalha o meu ritmo e o meu desempenho, mas não, entre uma coisa e outra e sempre que o trabalho o permite, lá vamos pondo a conversa em dia, falando dos assuntos mais banais e triviais, desabafando, relatando episódios que vão sucedendo à medida que as horas passam, sabendo como é que o estado de espírito da outra se encontra, em suma, falando através de email, de tudo aquilo que o tempo, a vida e as oportunidades não nos permitem. De há uns tempos para cá começámos a ter problemas com esta nossa troca de e-mails intensiva. Começou com a minha mudança de trabalho e de respectivo e-mail. Quase todos os dias havia problemas e raras eram as vezes em que conseguíamos contactar através dos nossos correios electrónicos. Depois de muito insistirmos junto dos help desk das respectivas empresas para nos resolverem o problema, e de desesperarmos à espera de uma resposta que se revelava quase sempre nula e sem solução, decidimos passar ao plano B e arranjar um email alternativo que nos permitisse continuar a converseta. Assim foi. Eu comecei a enviar-lhe e-mails da minha conta do Yahoo e a coisa correu lindamente até... hoje!
A rotina foi a mesma de sempre: chegar ao trabalho, ligar o computador, abrir o outlook (do trabalho), o messenger, ir beber café, fazer um bocadinho de conversa com os colegas e rir logo pela manhã para começar bem o dia e depois, quando regresso à secretária, mandar um mail de 'Bons dias' à minha 'Cabeça' e esperar que ela me responda. E ela respondeu e durante uma meia hora, trocámos uns 3 ou 4 emails até que ela me disse: 'vou ter um novo computador, por agora vou parar de mailar' e pronto, foi a deixa para eu saber que durante algum tempo não iria ter notícias dela. E esperei, esperei e esperei e nada. A resposta não chegou... ou melhor, chegou sob a forma de sms com uma triste notícia: a nossa comunicação electrónica tinha sido novamente interceptada. Fiquei mesmo triste. Nós já andávamos desconfiadas dos informáticos da empresa dela, mas desta vez tinha sido flagrante. Ao trocarem-lhe o computador, bloquearam-lhe o acesso de envio de email para o meu correio electrónico e assim, limitaram as nossas conversas.

Claro que eu sei, que como entidade patronal, eles têm o direito de o fazer, alegando convenientemente, que tamanha forma de comunicação intensiva, coloca em causa a produtividade das respectivas trabalhadoras... Mas também sei - até porque eu também já trabalhei na mesmíssima empresa onde ela trabalha - que não há ninguém dentro daquela casa, mas ninguém, que não utilize o mail para conversas pessoais, muitas vezes a roçar o ordinário e o engate barato, para os mais diversos fins... e não é por isso que lhes bloqueiam os respectivos emails.

Toda esta explicação dos factos, para desabafar que este episódio 'cibernético' me deixou bastante triste durante toda a tarde. Falar com ela é quase como um ritual. Sem esse pequeno grande pormenor, o meu dia fica bem mais pobre e triste - basta dizer que quando uma de nós vai de férias, o Outlook da outra perde vida e deixa de fazer sentido. Sem as minhas conversas diárias com a minha 'Cabeça', a tarde custa a passar, as horas arrastam-se e o trabalho torna-se monótono e enfadonho. Esta conversa pode até soar a 'novelesca' barata, mas é verdade. Partilhar com ela o meu dia e os seus pequenos pormenores insignificantes, fazem-me sentir feliz, ler as suas piadas sarcásticas ou o seu humor caústico, são deliciosos momentos de pura cumplicidade. E pensar, que a partir de amanhã, os meus dias não serão iguais a tantos outros dias, vazios muitas vezes de sentido mas cheios de significado, provoca em mim um alastrar de tristeza profunda.

E ainda agora, passadas tantas horas, não consigo conformar-me.

ps - Se a minha escrita soar a muito rebuscada, mais do que um estado de espírito, tem uma certa explicação lógica - voltei a reler 'Os Maias' e acho que de certa forma, toda aquela descrição minuciosa do casarão O Ramalhete, ou das vestes ricas e detalhadas da Maria Monforte, a 'Negreira' - como é apelidada -, despertou em mim o fervor da escrita elaborada e o recalcado desejo de um dia saber escrever assim, permitindo-me sonhar com a edição do tão desejado livro...



domingo, março 25, 2007

precious moments



Este fds pude matar saudades dos pais e dos amigos. Foi uma visita quase de médico, intercalada apenas pela permanência de uma noite, mas o suficiente para rever caras que nos fazem sentir em casa, mesmo que a maior parte das vezes a comunicação seja breve e quase não dê para falar de tudo aquilo que devia de ser falado, com a calma e o tempo próprios dos bons momentos. Revi a minha sobrinha, que segundo palavras da própria: 'Já tinha saudades do tio C. e da tia Mafalda' - só isso já fez valer a pena a viagem - e ter feito o esforço de sair, mesmo quando estava frio e a preguiça pendia para ficar em casa.
Dentro de três semanas faz quatro anos... o tempo passa realmente a voar.

sexta-feira, março 23, 2007

sôdade




















Ando com umas saudades loucas do México. De vez em quando aperta forte. Tanto, que um dia destes à noite, pedi ao C. para colocar alguns dos vídeos que fizemos quando estivemos por lá. E pronto, pude chorar por dentro ao ver novamente aquele magnífico hotel, aquela magnífica praia, aquelas magníficas águas azuis turquesa, quentinhas e cheias de peixes que me vinham mordiscar as pernas, aquela magnífica selva densa e fechada, cheia de humidade, aquela magnífica comida, aquelas magníficas piña-coladas (bebi tantas, cada vez que me lembro!), aquela magnífica gente, simpática, calorosa, afável, de tez morena e cabelos e olhos negros, daquelas magníficas cores quentes, dos tons de terra, da cerâmica cheia de vida, do tom alegre em que se vive, do legado que deixaram ao mundo com as suas fantásticas ruínas Mayas.
Talvez seja porque ando cansada e cheia de vontade de sair do país para umas merecidas férias, talvez seja por saber que neste momento não tenho disponibilidade financeira para voltar a fazer uma viagem daquele calibre, talvez seja porque esta semana, num canal da TV Cabo, estava a dar um documentário sobre a Riviera Maya e os sítios por onde eu tinha andado, mas sinto uma ligação muito especial com o país e sinto saudades, daquelas dolorosas, que massacram e fazem doer, com um desejo muito forte e latejante em querer voltar. Ficam as fotos, as saudosas fotos. É por isso que eu fotografo tudo, porque a saudade diminui sempre que as vejo.
Não há maior legado.

quinta-feira, março 22, 2007

vitamina C




















Os pais do C. passaram logo bem cedo lá por casa com o ‘fornecimento’ a que já nos habituaram. De cada vez que vêm a Lisboa, a casa, a dispensa e o frigorífico, ficam recheados de tudo o que a terra lhes dá. Batatas, cebolas, couves, laranjas, maçãs, limões, tangerinas, azeite, vinagre, azeitonas, alface, tomates, salsa, ovos e até, flores. A mãe do C. sempre que pode, traz-me flores – umas vezes lírios, outras vezes camélias, margaridas e tudo o que lhe vai nascendo no jardim - porque sabe que eu gosto de ter as jarras sempre coloridas e com flores naturais. Tudo o que nos trazem é 100% natural, não leva produtos de qualquer espécie e isso nota-se no paladar. Outros acepipes fazem parte da ‘bagagem’, como doce de abóbora caseiro, de tomate, de amora (o meu favorito) e o pão-de-ló feito com ovos fresquinhos, amarelinho e fofo, que quando vem, nunca dura mais de dois dias e pelo qual, todos os amigos ‘salivam’. Por isso, hoje de manhã, enquanto arrumava a quantidade monstruosa de sacos que nos deixaram à porta, não resisti a fotografar estas laranjas, ainda com as folhas, apanhadas directamente da árvore. Acho que para quem me lê, posso considerar-me uma privilegiada.
Ontem, jantar de despedida da R. e do A., com troca de fotografias do casório e abraços apertados. Agora só os veremos para Agosto, altura em que regressam a Portugal. Não se derramou lágrimas, mas os olhos andavam húmidos, a quererem atraiçoar-nos na hora do derradeiro adeus. Ela estava bonita, com uma expressão luminosa de felicidade, ele também. Caso para dizer, o casamento fez-lhes bem.

terça-feira, março 20, 2007

moments



















O casamento da R. foi este Sábado. Ela ia linda e eu emocionei-me ao vê-la. Já passámos por tanta coisa juntas que agora, vê-la assim, tão ‘crescida’ e mulher, me fez recordar todos os momentos, todas as cumplicidades, confissões, angústias, conversas, partilhas e momentos que tivemos e vivemos. Lembro-me de estarmos as duas em Alpalhão, debaixo de um céu estrelado, sentadas cá fora em cadeiras de campismo, enroladas em mantas e a falar sobre os desaires amorosos. Lembro-me de estarmos em Sevilha, a experimentar vestidos aos folhos e coloridos no El Corte Inglés, dos passeios de bicicleta à beira rio, de dançarmos divertidas na Féria, das noites de flamenco na Carboneria, dos jantares na casa da Cármen e do Paco, de dormir na sua cama apertadinha e no seu quarto do Cacém. Lembro-me das discussões em plena rua, ou de quando ela chegava mais de duas horas atrasada a um encontro, deixando-me furiosa. Lembro-me da sua espontaneidade, da sua leveza, da forma como sonha acordada. Lembro-me de tudo e tenho medo que o tempo me apague a memória como já o fez com tantas outras coisas.
A R. vai para longe, mas espero que nos leve no coração, bem guardados, a todos.
Porque ela ficará sempre no meu.

sexta-feira, março 16, 2007

despedida

Devido a uma série de situações que têm vindo a acontecer de há algum tempo para cá, tomei a decisão de que este espaço, canto, blogue, diário, whatever, sobre mim, o meu mundo, vida e pessoas que me rodeiam, será definitivamente encerrado. Por isso, não estranhem, se nos próximos dias este endereço desaparecer do mapa… Eu decidi ‘partir’ para outro endereço, outro canto, diário, blogue, whatever, desta vez menos exposta e desconhecida perante os olhares alheios e demasiado curiosos.
Espero que tenham gostado tanto de me ler quanto eu gosto de aqui escrever.
Até um dia destes.*

quinta-feira, março 15, 2007

pleasures


















Se há coisa que gosto nestes primeiros dias de sol primaveril, é do cheiro a flores que invade a rua à noite e que é pura e simplesmente, dos meus cheiros favoritos. Quando as flores começam a desabrochar e as noites a ficar mais quentes, nota-se no ar, que fica logo com outro perfume e à noite, quando chego a casa, entre o estacionar o carro e o percurso realizado até entrar no prédio, relaxo e acalmo apenas com um simples cheiro a flores que invade o bairro todo e me deixa de sorriso nos lábios. E depois há qualquer coisa de catártico com os primeiros raios de Sol primaveris, que nos deixa bem dispostos e com vontade de andar na rua, nem que seja durante a hora de almoço, enquanto se recupera energias na esplanada perto do local de trabalho. Sábado é o grande dia da R. e eu ando mortinha para que chegue, porque quero divertir-me com os amigos, tirar muitas fotos, brindar aos noivos, dançar muito, rir-me outro tanto… há qualquer coisa de muito especial quando assistimos aos casamentos dos nossos melhores amigos. Pelo sim, pelo não, acho que tenho de levar uma caixa de klenexs

domingo, março 11, 2007

Full


Ontem foi um dia preenchido pelo convívio intenso com os amigos e pelas surpresas que se adivinhavam. Começou logo bem cedo, quando 16 pessoas decidiram meter-se a caminho até Constância para fazer uma festa surpresa à H., pela comemoração do seu 30º aniversário. Ali, bem longe da capital e um pouco perdido pelo bucolismo e sossego campestres, surpreendemos a aniversariante (incluíndo familiares e amigos), quando a mesma se preparava para comer num restaurante medieval. E eis-nos, ali, a entrar um por um para a ver quase chegar às lágrimas com a excitação. Foi uma tarde bem passada, entre as conversas 'nonsense', as piadas fáceis, as fotos, as gargalhadas e as recordações destes 11 anos de amizade(!!!) e tudo só foi possível graças ao stress, nervos e cumplicidade com o R., que assim quis fazer dar uma prova do seu amor à sua gaja! (vês, afinal correu tudo bem!!)
À noite, esperava-nos a festa de despedida de solteira da R., desta vez não em Constância, mas na Charneca da Caparica, num restaurante brasileiro, bem ao género da nossa noiva que adora pôr o pé na dança e ter cheiro a calor e a Verão no corpo. O restaurante era enorme, cheio, cheio, cheio de gente, com música ao vivo e muita comida, mas para além do bolo com o Ken a sair lá de dentro, a grande surpresa da noite foi mesmo a presença do grande e último macho latino português, ele mesmo.... tivemos a presença do 'Zézé', mais conhecido por 'Zézé Camarinha', (talvez não o reconheçam sem o bigode!) que através de muito bons contactos, conseguimos que viesse de propósito do Algarve para a festa da nossa R.
E o que eu me ri!!! Não dá para descrever em palavras...
Mais não digo, porque as fotos comprovam a boa disposição que foi o dia e em que terminou a noite.
Sinto-me cheia de tão bom que foi!

sexta-feira, março 09, 2007

women day or surprise day?




















Há cinco anos atrás, neste mesmo dia, bateram-me à porta em Madrid - cidade onde me encontrava a viver na altura - e do outro lado, alguém de cara desconhecida, entregava-me um enorme ramo de tulipas acompanhadas por um cartão com palavras doces que remetiam para o dia da mulher. Foi o primeiro gesto do C. para me conquistar e deu resultado. As tulipas ficaram no meu quarto durante dias a fio e o meu pensamento ficava naquele rapaz que o destino quis que entrasse na minha vida quando tudo o que eu menos queria era apaixonar-me! De nada valeu! Passados quatro meses estava de regresso a Portugal e a vivermos juntos. Hoje, cinco anos depois, o dia continua a ser relembrado, não por ser o dia internacional da mulher, mas pela memória doce da lembrança. Ontem o C. voltou a surpreender-me e encheu-me de mimos outra vez. Não foram tulipas as flores que me chegaram, mas orquídeas (outra das minhas flores preferidas), lindas e delicadas, acompanhadas pelo serviço take away do Assuka. Tivemos assim um dia da mulher a dois, acompanhado por comida japonesa no conforto do lar, brindada a vinho branco e em frente à lareira, com muita luz de vela à mistura.
Se a felicidade é feita de pequenos momentos, este foi sem dúvida, um deles.

quinta-feira, março 08, 2007

blossom



















Em recantos escondidos, ofuscadas pelo cimento das estradas e pela sombra dos prédios, encontram-se em flor, pequenos pontos rosa que despertam para o turbilhar dos sons, dos passos apressados e do fumo dos escapes, a pedirem apenas que os admirem.
Dura tão pouco o tempo das amendoeiras em flor.
Já pararam para reparar que elas encontram-se por todo o lado na cidade?

quarta-feira, março 07, 2007

Drawing



















Ontem à noite perdi um pouco do meu tempo à procura de umas fotos. Tirei as caixas onde guardo as tralhas antigas e remexi no passado, desfolhando pouco a pouco momentos que ocorreram há cinco anos atrás, vendo fotos, lendo postais, cartas, mails, pequenas recordações, objectos. É uma sensação estranha esta a de ler pedaços meus, porque confesso, passado tanto tempo, há ali uma Mafalda tão exposta que me deixa de certa forma vulnerável. Mas por outro lado, se formos a ver, se calhar continuo a fazê-lo, diariamente, através deste blogue. Pode até haver uma outra percepção, uma outra postura, uma outra atitude perante as coisas, mas a Mafalda, essa, acho que continua a ser a mesma.
Talvez por isso me sinta sempre ‘pequenina’ quando sei que alguém que eu conheço visita este meu canto, porque não consigo deixar de pensar nele como meu, uma espécie de depósito de desabafos, que fazem parte de mim. É incrível como a ideia de escrever para ninguém não me assusta, mas fico aterrorizada quando alguém comenta ‘estive no teu blogue’. Causa-me transtorno, deixa-me na dualidade. Gosto de saber que gostam de me ler, assusta-me a ideia de deixar demasiadas pessoas presas a uma vida que só a mim me diz respeito, mas também sei que nunca consigo ser tão sucinta nos meus comentários em que não desabafe algo do meu dia-a-dia… pois foi com esse propósito que este blogue foi criado e que o utilizo…
Indecisões à parte, sempre que me aborreço, rabisco. Coisas sem nexo e disparatadas é certo, principalmente em reuniões, mas não o consigo evitar e depois os meus moleskines ficam recheados destes lindos disparates…

terça-feira, março 06, 2007

renascer




















Nascido dos tons da terra e dos verdes que lhe trazem vida, das cores neutras e do cinzento dos dias, nasce um novo colar - um pedido desta menina - que ao fim de três semanas finalmente decidi concretizar. Um esforço que me tem deixado a sentir mais realizada por dentro e mais preenchida por fora.

segunda-feira, março 05, 2007

mujeres felices




















Depois de umas horas de sono reparador e de uma boa caneca de chá, nada me deixa mais entusiasmada do que encontrar o trabalho de Eva Armisen na net. Há muito que sou fã destes desenhos femininos de doçura infantil e traços quase grosseiros, mas encantadores.
Sorrisos de mulheres sonhadoras e apaixonadas.
Sorrisos bons.
Sorrisos curativos.

domingo, março 04, 2007

return




















Este fim-de-semana foi tempo de repôr energias, de voltar ao meu ritmo, de acalmar o espírito. Não foi um fds marcado por nada de especial, apenas pelo sabor calmo e relaxante que se passa em casa, rodeado pela família, pelas horas de sono recuperadas, por me sentir aninhada e quente de cada vez que puxo o enorme cobertor com que gosto de estar tapada, no sofá, a ver televisão, de comer doces e mandar a dieta tirar uns dias de folga (sem remorsos nem culpas), de me sentir calma e até produtiva, de voltar a pegar na máquina digital e perder tempo a fazer composições, a unir a sintonia das cores, a procurar elementos, de me entreter no photoshop, ou de simplesmente, voltar a tirar as caixas cheias de contas, fios, pedras e tecidos para a luz do dia e voltar a criar algo bonito, como já há muito tempo não o fazia.
Preciso destes pequenos nadas na minha vida para me sentir preenchida e com 'conteúdo'.
Há muito que andava a sentir-me vazia de mim mesma.
(Colar disponível para venda, o primeiro a 'agarrar', fica com ele)