sexta-feira, dezembro 09, 2011

as minhas certezas

Fico sempre surpresa quando leio entrevistas ou até mesmo posts onde dizem coisas como; "ah, os trinta é que me tornaram mais madura e cheia de certezas daquilo que sou hoje e sobre o que quero da vida" ou, "depois de ter sido mãe a minha vida mudou para melhor e ser mãe é o papel da minha vida e tudo ganhou um novo significado". Ok, é verdade, um filho abala completamente a nossa vida, as nossas estruturas - e até aí também estou de acordo - mas fico sempre a pensar que já passei por isso tudo e não sinto essas certezas, aliás, não tenho é dúvidas de que cada vez tenho ainda mais dúvidas, mais receios, mais medos e que por mais que viva, continuo - na maior parte das vezes - a achar que ainda tenho vinte anos e que houve tanta coisa por gozar e que ainda não gozei, tanta coisa por viver e experiências que se calhar, ficaram por fazer, ou aquela sensação de que esperam que eu, aos 33 anos de idade, tenha uma determinada maturidade ou forma de ver as coisas que, se calhar e pensando bem, não tenho.

Ser mãe mudou a minha vida, mas também a aprisionou. Esta é a mais pura das verdades e é o que eu mais sinto em relação à maternidade. Também sinto que os 30 não são, de todo, o melhor período da minha vida. Que me sinto mais velha, mais feia, mais gorda e que a beleza - ou aquilo que julgava ter dela - é efémera e que por mais que até me considere uma pessoa minimamente instruída ou capaz de falar dos mais variados temas da actualidade, há quem já não me olhe duas vezes ou me dê oportunidade para isso. Também sinto que a nível profissional estou longe de onde deveria de estar, (ou julgaria estar by now) e que já passei a idade de realizar a maior parte dos meus sonhos. Que num mundo perfeito, por esta altura, já devia de ter um cargo de direcção (que por acaso tive quando tinha 25 e 26 anos) ou de fazer aquilo que realmente gosto mas, na realidade, sinto-me cada vez mais longe desse sonho e dessa concretização. Que as pessoas esperam de mim determinados comportamentos ou atitudes que eu não quero ter, ou assumir, mas que também fico sempre com uma ligeira pontinha de inveja quando leio percursos profissionais onde com a minha idade - e até menos, muito menos - meteram mãos à obra, conseguiram e fizeram. E eu ali, a vê-los passar. A ver a vida a passar.

Sinto sempre que tenho potencial que não aproveito, porque na realidade, eu própria me considero limitada, ou porque não acredito suficientemente em mim mesma. Porque sou tonta, ou parva, ou preguiçosa, sei lá.

Porque já tive tudo e porque deitei tudo a perder. Hoje, retomo a vida cheia de dificuldades e já não acredito em grandes finais felizes (apesar de querer).

Continuo a ser precipitada, ansiosa e impulsiva e isso é algo que nem a idade me refreia apesar de já não fazer grandes planos e tentar viver um dia de cada vez. Dou mais valor às coisas, mas também tenho cada vez mais consciência de que tudo é efémero e de que de um dia para o outro posso perdê-las - ou destruí-las.

Ter uma criança sob minha responsabilidade assusta-me e, muitas vezes, sinto-me egoísta por continuar a querer comprar coisas para mim quando deveria de gastar com ela, ou poupar para lhe dar, ou gostar de sair à noite e divertir-me com as amigas como se fosse uma miúda ou nem tivesse filhos, quando ela, por exemplo, está com o pai. Não o consigo evitar. Nesses momentos, sinto-me a pior mãe do mundo, um ser a roçar o execrável e de que, mais tarde ou mais cedo, a justiça divina cobrará todos estes meus prazeres mundanos... de que não aproveito a infância da minha filha, ou não lhe presto a atenção que devia - ou que vejo outras mães prestarem ou fazerem - que a dou por adquirida, quando não é.

O ano de 2011 foi duro, muito duro. Emocionalmente, profissionalmente, pessoalmente. Separei-me, comecei uma vida sozinha, crio uma filha sozinha, mas esta sensação de ser sempre "aquém", de inferioridade, persegue-me.

Acho que fazer psicanálise me faria bem. Ando com demasiadas coisas dentro do peito, o pior é que nem tenho dinheiro para isso.

segunda-feira, dezembro 05, 2011

Afinal, o que é o amor?




- Gosto de ti.



Ela ouviu e, por momentos, enquanto o silêncio permanecia entre os dois, ainda hesitou se deveria de dizer aquilo que realmente sentia. Por fim decidiu-se:



- Também gosto de ti. Assim como também gosto de muitas pessoas, mas amo poucas.

sexta-feira, novembro 04, 2011

de vez em quando dá-me estas fúrias...

... que não consigo controlar e que se apoderam de mim - como se me consumissem - e que soltam o meu lado impulsivo e ansioso de querer tudo para "ontem"... mas que fazer, sou mesmo assim e nem o facto de estar a ficar mais velha me muda. Modera-me, é certo, mas mudar.... nope.

Bom, posto este desabafo sobre a minha pessoa, isto tudo para dizer que tenho "muchas ganas" de voltar a estudar. Mas muitas mesmo. Queria tirar uma pós graduação, ou um mestrado, sentir-me desafiada e estimulada outra vez, pôr o cérebro a pensar, voltar a agarrar nos livros e nos cadernos, dar de mim, deixar de me sentir tão "pequenina" e "mediana", mas sem dinheiro na carteira, tudo me parece mais difícil.



Mas sonhar não custa, não é?

Tenho de ver se jogo no euromilhões.

quinta-feira, novembro 03, 2011

isto é que vai cá uma crise...



Isto de ser solteira outra vez até pode ser muito engraçado e ter alguns pontos positivos. É bom voltar a ter o meu espaço, uma casa só para mim, não dar satisfações a ninguém, gerir o meu tempo, voltar a estar com os meus amigos, ou simplesmente, voltar a fazer todas aquelas coisas que me caracterizavam e que, nestes últimos anos, perdi... Mas depois de ter mobilado uma casa sozinha, comprado electrodomésticos, montado o quarto da rapariga e voltado a fazer "enxoval", não tenho praticamente dinheiro para mandar cantar um cego e nunca na vida fui tão "pobrezinha".

É que até parece que me rogaram uma praga, porque não tenho tido sossego e a conta bancária não pára quieta... desde ter rebentado um pneu do carro e pago mais de 200 euros por 2 novos (sim, porque rebenta apenas um, mas temos de substituir os dois!), ou o telhado da casa meter água, não há nada que não me aconteça e que não signifique "abrir os cordões à bolsa".

O ordenado é a esticar para chegar até ao final mês, rezo para que a mensalidade da casa não aumente com as taxas de juro e sinto-me a pessoa mais impotente do mundo quando faço um enorme esforço para conseguir poupar uns míseros 50 ou 100 euros e depois, sem estar à espera, quando as despesas caem, é sempre às centenas... Já para não falar nas idas ao supermercado em que trazemos meia dúzia de coisas e até ficamos verdes quando nos dizem a conta a pagar, ou as despesas de luz e gás. (este ano não há aquecimento central ligado em casa para ninguém).

Sempre tive uma relação de amor-ódio com o dinheiro, sei o quanto custa a ganhar, mas também adoro gastá-lo, é um facto. Nunca fui uma gastadora compulsiva e apesar de ser muito consumista, sei os meus limites e até onde devo ou posso ir. Tenho pavor de ficar sem dinheiro para as coisas mais básicas e por muito que goste de trapos e compras, nunca comprei sem pensar nas consequências ou de que forma isso afecta o meu orçamento. Daí o gostar tanto da Primark, onde tudo é barato (apesar de já não ser como era) e de tudo o que signifique trazer muito e diversificado ao menor preço.

Hoje dei por mim a pensar - enquanto via uma reportagem sobre apoio domiciliário a pessoas da terceira idade - que quando chegar a velha não irei ter reforma e assustei-me.

Se o ordenado mal me chega até ao fim do mês, o que será de mim quando tiver 60 ou 70 anos (isto se ainda for viva, claro está), já não conseguir trabalhar e não tiver como me sustentar?

A miséria assusta-me muito, muito mesmo.

Sozinha, com uma filha para criar e com tantas despesas e responsabilidades em cima dos meus ombros, numa situação profissional a roçar o precário e onde a qualquer instante posso perder a minha única forma de sustento, a linha que divide a minha estabilidade actual de tal cenário ou situação parece-me sempre muito ténue...

sexta-feira, outubro 14, 2011

Recomeços

Porque ninguém disse que é fácil recomeçar. Não é. Custa, dá trabalho, é preciso vontade, empenho, disposição. Acho que ainda não reuni todas estas características, mas acho que estou no bom caminho. É que, finalmente, instalou-se aquela vontade de dar voz aos pensamentos - coisa que já não acontecia há muito, muito tempo - e de verbalizar tudo o que anda oprimido dentro do peito.

2011 tem sido um ano difícil, de recomeços constantes, de grandes obstáculos, de força interior, de decisões... Então, para quê adiar algo tão simples, tão fácil e que, ainda por cima, me dá prazer?


Só se for pura estupidez. (o que não pode ser o caso)


Por tudo isso, estou de volta.

terça-feira, agosto 09, 2011

learning to (re)live

... e já se passou mais de um mês desde que decidi sair de casa e voltar a viver em Lisboa. Nunca mais o vi. Já é o segundo mês que pago as minhas contas, renda da casa incluída, sozinha.


Em um mês comprei electrodomésticos, sofá da sala, mesa de jantar, cadeiras, estantes, mesa de centro, de apoio, todo o quarto de uma criança, enfim... tudo. Para trás ficou uma relação de 9 anos.


Voltei a viver do zero. Sem certezas e com medos à mistura.


Na minha cabeça pululam muitas perguntas sem resposta. "E se fico desempregada", "E se a prestação da casa aumenta?", "E se o ordenado não chega ao final do mês?" e por aí fora... Tento apagá-las da memória - ou pelo menos aprender a lidar com elas da melhor maneira - para não enloquecer.


Um dia de cada vez, digo para mim mesma, um dia de cada vez.


Volto a aprender a estar sozinha, a ter a casa silenciosa, a pensar no que fazer com o tempo. Aprendo a lidar com a distância da minha filha e preparo-me, psicológicamente, para uma ausência de 3 semanas. Não é fácil. É duro. Muito duro.


Nunca fui uma pessoa que tivesse de estar rodeada por outras pessoas para me sentir feliz ou "mais viva". Fruto de ser filha única, ou pura e simplesmente porque sempre precisei de ter tempo para mim e a solidão nunca me assustou, lido bem com as horas desprovidas de gente. Continua a não me assustar, é um facto - bom, se calhar agora, que estou mais velha e com outra perspectiva da vida, talvez - mas não o suficiente para me derrubar. Mas ter de começar tudo do zero depois de tanto tempo habituada a partilhar a vida, o tempo e o espaço com outra pessoa não é fácil.


Sinto-me um pouco amputada por um lado e libertada por outro. Da maneira como as coisas estavam não dava para continuar e eu precisava de sair, para eu mesma perceber tudo o que se passou nestes últimos meses e encontrar alguma paz. 2011 tem sido um ano difícil, duro que só ele, mas eu também nunca disse que nunca conseguia.


Como diz o provérbio: "Dos fracos não reza a história"...






terça-feira, abril 12, 2011

eu - parte 1

Tinha prometido a mim mesma que este ano - horribilis de 2011 - retomaria a escrita. Não tenho conseguido cumprir. Todos os dias 'teclo', é certo, mas resume-se a emails, a respostas a clientes, a trocas de informação, a contactos com jornalistas, a pouco mais. Nada de meu, nada de pessoal, tudo a acumular cá dentro, dentro do peito, dentro da boca, em filinha indiana para o cérebro, a encher, encher, encher, encher, como se fosse uma enorme cómoda cheia de gavetinhas e portinholas - e o que eu sempre gostei de gavetinhas e portinholas - que nunca mais se abrem, fechadas a sete chaves.

Sinto que não consigo verbalizar tudo o que sinto. Sinto que não consigo exteriorizar o que vai cá dentro. Ou melhor, tenho medo. Como se o escondesse de mim mesma, como se duvidasse.

No fundo falta-me a coragem e invade-me o medo. O medo de falhar, mais uma vez, como em tantas outras coisas. Falta-me a coragem para acreditar a mim. Porque me sinto perdida e à deriva. Falta-me a força necessária. A voz e a certeza. E regresso a mim, sozinha, embrulhada em todas as minhas dúvidas, petrificada.

E volto a encher mais uma gaveta, com lágrimas. Essas sim, não acumulam e todos os dias gostam de escrever monólogos.

terça-feira, março 08, 2011

"fiozinho de água triste... a vida corre"

... é nas palavras de Florbela que tenho encontrado a voz que fala por mim. É na poesia que me refugio, para tentar perceber o que vai neste meu coração bravio e agitado... desesperando em vão, dar-lhe sossego. E confortar-me, lambendo feridas abertas que teimam em não fechar.

segunda-feira, março 07, 2011

isto sou eu e a minha tentativa - falhada - de retomar a escrever sob o que vai cá dentro

O que dizer quando nos estamos a separar? Quando sentimos que o amor morreu e que nada do que nos unia parece subsistir?
Como falar, escrever, exprimir, o turbilhão de coisas que me assola a alma?
Não tenho palavras. Todos os dias penso: "é hoje" e não consigo.
Todos os dias falho.
Até o título deste post consegue ser mais coerente do que eu.