quinta-feira, outubro 18, 2007

transparência II

Hoje tentei estar o mais calma possível e não pensar muito nos acontecimentos do dia de ontem. Mesmo depois de ter acordado a meio da noite, assustada com um sonho, em que caminhava sobre lajes de papel, por cima de uma catarata de água enorme e muito forte, quando as mesmas cederam e eu caí no abismo, levada pela enxurrada. Se me recordar do sonho, ainda consigo visualizar o momento em que caía, o pânico que senti ao aperceber-me que não tinha chão por baixo dos pés. Acordei sobressaltada e demorei algum tempo até voltar a adormecer. Hoje lembrei-me disto várias vezes. Realmente os sonhos têm um simbolismo curioso e não duvido nem por um segundo, de que este é muito revelador da forma como me sinto face aos acontecimentos dos últimos dias.
Houve muita gente no trabalho que me perguntou 'então, foste ao médico, como correu?' e eu nunca dei parte fraca, nem nunca me desmanchei com qualquer tipo de pormenores. Sorria e apenas dizia 'oh, foi num instante, nem devia ter tirado o dia', não dando mais oportunidade a perguntas. E pronto, arrumava o assunto. No entanto, como estava preocupada por causa do resultado da biópsia que fiz o mês passado ao cólo do útero, andei o dia todo a tentar contactar a minha ginecologista, mas sem sucesso. Pegava no telemóvel, saía do meu lugar sorrateiramente e vinha sentar-me cá para fora, para as escadas de emergência, onde ninguém me ouvisse. Após várias tentativas frustradas, lá consegui falar com a médica que me realizou o exame - também ginecologista - onde consegui esclarecer certas coisas que me andavam a pôr macaquinhos no sótão. Também consegui que ela me ajudasse a alterar a data do tratamento já para o próximo mês, logo a seguir à minha próxima menstruação - o que me permite fazer o laser mais cedo do que eu pensava e começar a curar isto de uma vez - sem esta ajuda, só tinha vaga a 20 de Dezembro. Após isto fiquei mais calma e tranquila. Antes passei pelo assustada e pelo preocupada q.b., mas agora é como se algo dentro de mim me dissesse com toda a certeza: 'tudo se vai resolver, acredita' e eu como sempre fui de seguir os meus instintos, irei acreditar neste com mais força do que em todos os outros.
Na realidade, após o dia de ontem, que foi uma espécie de montanha russa de emoções, hoje estive serena. Fiz por estar bem e evitei andar cabisbaixa, triste ou de lágrima fácil. Não sei se será normal este meu comportamento à luz da psicologia, mas resultou, o que pode explicar das duas uma: que ou tenho uma fantástica capacidade de lidar com os problemas, ou que sofro do síndroma da bipolaridade - o que, diga-se de passagem, não me estranhava se assim fosse.
Hoje já tranquilizei a minha mãe com as novidades. É que ontem, após lhe ter comunicado tudo o que tinha acontecido, ficou tão afectada que pegou no carro e fez mais de 40 quilómetros para ir visitar a irmã e lhe despejar tudo o que tinha acabado de lhe contar. Fiquei enervadíssima quando mo disse. Fartei-me de lhe dizer que essas coisas não se dizem, que ela não tinha nada de ir a correr abrir a boca, que é um assunto privado e intímo que só a mim me diz respeito e que não gosto que a família fique a saber destas coisas... mas, tal como já o disse tantas vezes, a minha mãe anda a passar por uma fase emocional instável e a reacção às minhas críticas, foi a de se fazer de vítima e gritar comigo. Não é que eu não saiba que ela o fez sem maldade, porque estava preocupada, porque precisou de alguém com quem desabafar, que recorreu a um familiar próximo para o fazer, mas quando se trata da minha vida pessoal, dos meus problemas, de assuntos que só a mim me dizem respeito, fico passadíssima quando sei que terceiros andaram a falar deles, a comentá-los, sem saberem em concreto do que se trata, a exacerbarem o síndroma da 'coitadinha' que tanta urticária me provoca. Seja a minha mãe, seja quem for.
Mas pronto, já me passou. Amanhã irei tentar novamente falar com a minha médica ginecologista com a qual não consegui falar hoje e tentar saber a opinião dela, assim como aguardo o parecer de um outro médico, a quem pedi ajuda através de uma amiga. Quantas mais opiniões tiver, mais informada e esclarecida fico sobre o assunto - além de ver a gravidade ou não da questão.
De resto o dia foi calmo. A minha chefe finalmente regressou de lua-de-mel. Vem felicíssima, com um sorriso de orelha a orelha e um brilho forte nos olhos. Nunca a tinha visto assim. Realmente o casamento fez maravilhas...

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