segunda-feira, março 29, 2010

return

O vestido está passado e colocado de forma impecável nas costas da cadeira. A seu lado, o casaco que lhe irá fazer companhia, o cinto que lhe cercará a cintura e todos esperam, sem excepção, a hora que caminha a passos largos para o seu manifesto.
Na mesa da cozinha repousa um saco de papel. Lá dentro, um pacote de bolachas, duas maçãs, uma garrafa de água, dois cadernos - um deles novinho em folha - um livro e um chapeú de chuva, só para os imprevistos. Tomou-se banho pela noite, para evitar as correrias típicas da manhã, pelo menos enquanto as horas não se tornam companheiras fiáveis do tempo que nos roubam. Secou-se os cabelos e arranjou-se as sobrancelhas, pintaram-se as unhas de vermelho carmim. Perfumou-se o corpo de cremes suaves e procurou-se no rosto sinais de cansaço passível de críticas. Dentro da mala colocam-se, carteiras, escova de cabelo, chaves, agenda, toalhetes perfumados, creme de mãos, ipod... Nada foi deixado ao acaso, tudo foi pensado ao pormenor.
No tempo que resta fazem-se planos, suposições, aspira-se a algo melhor, mas também se tem medo e dúvidas e ansiedade. E rodeamo-nos de coisas e frases que gostamos de acreditar serem feitas de sentido e apropriadas à ocasião, quando, na verdade, não são mais do que clichés utilizados por todos ao longo dos anos e nas mais variadas situações. Não importa. Sabem bem. Confortam a alma e ajudam o espírito a ultrapassar mais esta prova.
O sono tarda e não chega, mas os olhos pesam e reclamam descanso. É tarde e apenas 5 horas me separam do momento em que desta cama me levantarei em rumo a um novo dia, a uma (suposta) vida.
Ao fim de 22 meses em casa, eis que chega o meu momento de partir. O momento de retornar a mim, mesmo que daqui a umas semanas já me queixe do rumo que tanto desejei e que tardava em chegar. É típico, por isso, não estranhem se vier para aqui praguejar que a chefe é estúpida, que os colegas são antipáticos, que tenho sono, que moro longe, que apanho muito trânsito de manhã, que os clientes são umas bestas.
Sei bem como funciona este meu espírito inquieto. Mas, seja como for, já estava na hora de voltar a fazê-lo.
Desejem-me sorte. *

3 comentários:

a. disse...

:D

boa sorte mafalda!!! :D ***

Clementine Tangerina disse...

Toda a sorte do mundo, querida!

bjinhos

Maffa disse...

grande texto inaugural da nova vida!!!
Boa sorte!!!