sexta-feira, outubro 09, 2015

October blues


Já aqui falei várias vezes de como gosto do mês de Outubro. Mas assim como gosto do mesmo, também lhe há sempre associado um sentimento forte de melancolia e até, tristeza. Outubro traz-me sentimentos ambíguos que todos os anos vou tentando resolver e ultrapassar ao longo do mês. Outubro é sinónimo de recordações - boas e más - de alegrias e tristezas e, no fundo, se há quem faça reset em Setembro ou em Janeiro, eu faço-o em Outubro. Por ser o meu mês de aniversário é também aquele onde coloco o ano anterior em perspectiva e faço a minha catarse. Ainda ontem falei aqui de uma das datas de Outubro que ainda hoje, passem os anos que passarem, me recordo. Não é fácil ultrapassar memórias e há alturas em que mesmo quando a vida já encontrou o seu caminho ou seguiu o seu rumo, insistem em saltar da gaveta e acenar-nos, recordando-nos de como há certos momentos nas nossas vidas em que temos de saber aceitá-los como parte de nós. Como nos moldaram e construíram. Como nos tocaram. E como há pedaços em que mesmo que não façamos de propósito para que aconteçam, ou mesmo que tentemos não os ver, eles arranjam forma de nos mostrar que não adianta fingir ou fugir dos mesmos. Foi o que aconteceu ontem, dia em que me casei, em tempos, há muitos anos atrás e em que dei por mim de manhã cedo, na casa que comprei com o meu ex-marido, igualmente há muitos anos atrás. A casa vazia, despojada, livre de tudo, a reclamar ser vendida para encerrar um capítulo, pôr um ponto final a uma história. Eu, ali, com um novo filho ao meu lado, sozinha e confrontada entre aquelas paredes, perdida entre recordações. 
Por instantes quase tive vontade de chorar. O simbolismo da data, o simbolismo do momento, esta minha mania de encontrar explicação nos simbolismos das coisas, ou de como o universo tem esta forma estranha de me fazer encontrar respostas nas formas mais inesperadas. Mas naquele instante em que ia tropeçar na tristeza do momento e deixar-me levar, respirei fundo e olhei para o meu filho que dormia profundamente dentro do ovinho. Se não tivesse havido um fim não havia um novo princípio. Se não tivesse havido um fim, não tinha avançado. Se não tivesse havido um fim ele não estaria aqui, tão calmo e perfeito. Acho que o que mais me custa, ao fim destes anos todos, é o saber - e tal como ouvi há poucas semanas uma figura da nossa praça dizer na televisão - que o divórcio não deixa de ser um fracasso nas nossas vidas. Ninguém se casa com a ideia de um dia mas tarde se separar, ou pelo menos assim gosto de pensar. Eu, pelo menos, não casei com isso em mente. Ainda hoje detesto que o meu estado civil seja "divorciada" e não solteira. Acho discriminatório. Ainda hoje sinto falta de uma aliança no meu dedo anelar esquerdo. Ainda hoje me custa saber que a minha filha mais velha não tem o pai e a mãe o tempo todo e que tem de se revezar entre eles, mesmo que tudo flua de forma tranquila. Mas, para mim, são as pequenas coisas que me custam. Custa-me a ideia da família falhada, de como se fazem planos e se investe a vida num propósito que depois não é como idealizámos.
Mas não lamento, nem queria que tudo continuasse como estava. Nem queria estar como estava, mesmo que tenha feito passar por muita dor e sofrimento, mesmo que isso me tenha mudado irremediavelmente.
E assim, lentamente, fechei as persianas e as janelas, peguei no meu filho e nas minhas coisas e fechei a porta da casa sem olhar para trás. Porque é bom quando certos capítulos se fecham, mesmo quando Outubro chega e nos deixa melancólicas. 

1 comentário:

Maffa disse...

Sinceramente, agora que já sou mais velha, acho que o mais normal seria as pessoas divorciarem-se sempre... Passar a vida inteira com a mesma pessoa?!?! Bolas que seca...
Pode acontecer, mas seriam sempre casos excepcionais e nao o normal... Se näo fossem os filhos, as despesas... o standard de vida que as pessoas se habituam a ter, ias ver aï as taxas de divórcio a dispararem ainda mais!
Beijos e bons Blues :)