quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Basta de sermos passivos, sim?


O trabalho sucede-se a um ritmo alucinante, mas não é para me queixar do mesmo que hoje decidi interromper cinco minutos do meu tempo para vir aqui escrever. Escrevo porque na passada segunda-feira presenciei uma situação que, ainda hoje e passado dois dias me anda a matutar na cabeça. Estava a chegar da aula de natação da Madalena, já tarde (eram nove da noite) quando estacionei o carro na minha rua mas uns bons metros antes da minha casa. Quando saímos do carro reparei num casal que discutia na rua e ainda olhei umas duas vezes, agarrei na mão dela - que na altura estava ao telefone com o pai - e comecei a andar sem me meter no assunto. Mas à medida que caminhava, continuava a ouvir os gritos e virei-me umas quantas vezes para trás. Foi num desses momentos que presenciei, mais do que uma vez, várias agressões do homem à mulher e que me subiu o sangue, fazendo-me reagir. Mesmo com a minha filha pela mão e tomando consciência de que o que ia fazer era um risco enorme e que se a coisa corresse mal eu própria podia apanhar, voltei para trás e meti-me no assunto. Gritei umas quantas vezes para ele parar com o que estava a fazer ou chamava a polícia, isto tudo perante os olhares passivos de várias pessoas que passavam na rua, presenciaram as agressões mas ninguém, nem uma única alma, se meteu no meio daqueles dois para ajudar a rapariga. Quando o interpelei, ao agressor, obviamente que ele não gostou e veio em direcção a mim. Quando o fez, pensei "Pronto, já foste, vais apanhar também, ainda por cima tens a tua filha de 7 anos aqui ao teu lado", mas ele conteve-se apesar da raiva e da desorientação que lhe iam na alma. Ameacei, disse que não queria saber quem tinha razão ou deixava de ter, quais os motivos, mas que ou ele parava com o que estava a fazer ou eu chamava a polícia. 
A coisa acalmou, a minha intervenção fez com que o indivíduo parasse e chamou a atenção de pessoas suficientes para ficarem especadas a olhar, mas não deixa de ser impressionante que nem mesmo com os números quase mensais e diários de mulheres vítimas de violência doméstica, de a violência doméstica ser crime, de o número de mulheres assassinadas às mãos de maridos e namorados ser cada vez maior, de as agressões entre namorados e adolescentes terem cada vez mais significado, Portugal continua a ser país passivo, um povo passivo, que fecha os olhos e prefere não se meter porque "não lhes diz respeito" e não está para se chatear. E enquanto assim continuarmos a ser, enquanto não tomarmos as dores de tantos como nossas e enquanto não dermos o exemplo aos nossos filhos, não vamos a lado nenhum.
Não quero nunca que a minha filha tenha um namorado ou marido que lhe bata e se a ideia me revolta e me faz dizer "não" aos meus, então não deverei permitir o exemplo a ninguém.



1 comentário:

Maffa disse...

Grande Mafs!!!