terça-feira, fevereiro 23, 2016

Também fomos aos "ujos"


E passei grande parte do concerto de lágrimas nos olhos. Assim que ouvi o Zambujo a cantar o primeiro fado de abertura, as lágrimas jorraram-me dos olhos em catadupa. Não consegui controlar a emoção e as palavras que me chegavam ao coração. Senti-me uma espécie de imigrante que ouve cantar em português e sente um misto de saudades e amor à sua terra, para logo de seguida ficar envergonhadíssima, quando da penumbra acolhedora e confortante em que nos encontrávamos, se acenderam algumas luzes mais fortes para o público saudar os artistas. Ali estava eu, fungosa e de cara completamente lavada em lágrimas, como se algo mau tivesse acontecido. Não foi mau, foi bom. Tão bom que fiquei arrepiada ao longo de todo o concerto e chorei muito mais vezes numa espécie de catarse pessoal.
O Miguel Araújo pode ser um exímio músico, tocando as guitarras e as violas, o contrabaixo e cantando, mas o António Zambujo enche-me o coração e a alma com aquela voz, com aqueles versos, com a beleza da língua portuguesa naqueles fados, naquelas letras poéticas, que lhe brotam com uma naturalidade que parece fácil. 
Num cenário simples mas cheio de beleza, onde escadotes de vindimas servem de elementos decorativos e de suspensão a várias garrafas com luzes de diferentes cores, o concerto a que assistimos - o segundo no Coliseu - foi marcado por um alinhamento mais ou menos acertado, mas cheio de improvisações pelo meio e muita conversa com o público. De sambas brasileiros, a poemas e até a canções de novelas dos anos 80/90 - como a famosa Tieta do Agreste ou Roque Santeiro - aquelas duas horinhas souberam a conversas de amigos na nossa sala de estar e nem faltou o copinho de vinho a acompanhar.
Vim de alma cheia.

Sem comentários: