terça-feira, maio 24, 2016

Sobre o fim da amizade


Já não é a primeira vez que falo sobre o fim de amizades e hoje, depois de ler este artigo do Público - bem escrito, extenso e fundamentado - constato que é um tema recorrente, mas que nem por isso alivia o que sinto: um misto de mágoa, abandono, ressentimento e espanto. Aprender a lidar com o fim de uma amizade - ou amizades - é um processo em contínuo. Ainda hoje estou a aprender a lidar com ele e com os sentimentos que me provoca. Tem dias em que não me lembro e tem outros em que me lembro e me sinto profundamente triste. Não tenho medo de o admitir. Há pessoas que me fazem falta, não vou negar. E há pessoas que me excluíram das suas vidas sem hesitar, sem uma palavra e sem me explicar o porquê. Serei eu assim tão 'má' amiga que mereça ser excluída da vida de outros, ou não serão esses (supostos) amigos, assim tão amigos quanto eu os considerava? 
A amizade é uma linha frágil que tem de continuar a ser oleada e o que senti em diversas fases da minha vida de há uns anos para cá, é que a partir de determinados momentos fulcrais, aqueles 'amigos' que supostamente sempre estiveram lá, começaram a desaparecer. Primeiro pela distância, depois pelas condicionantes da vida (casamento, filhos, trabalho, etc.), depois por desculpas esfarrapadas e por fim pela ausência total de contacto. Já era algo que sentia desde que me casei, mas que atingiu o seu auge após a minha separação - com uma breve reaproximação pelo meio - e que voltou ao estado letárgico quando conheci outra pessoa que passou a fazer parte da minha vida e que hoje é o pai do meu segundo filho. Muita coisa haveria para contar - que não vem aqui ao caso - e muita análise haveria para fazer (que também não vou expor), mas a verdade é que toda esta história culminou num corte radical de minha parte, que não sei ser de outra maneira, lamento, e com o 'desamigar' total dessas pessoas do meu facebook. Se não são minhas amigas na vida real, se não dão notícias, não fazem um comentário, se não partilham nada das suas vidas comigo, se não se interessam se estou bem ou mal, se não procuram... porque motivo haveriam de continuar a estar ligadas a mim de alguma forma, sabendo os meus passos, vendo partes e fragmentos da minha vida pela calada? Choca-me mais alguém que conheço há anos e que considerava amigo íntimo não o fazer do que alguém que conheço superficialmente e que tem livre acesso ao meu mural - que também não partilho nada assim de tão interessante ou frequente que qualquer um não possa ver...
A verdade é que se calhar tive uma postura imatura, ou até infantil, mas chateia-me à brava este tipo de pessoas que nada dá mas que sabe sempre tudo dos outros, que continuam a falar deles pelas costas, a seguir-lhes avidamente os passos, dando-lhes material sobre o qual esgravatar aquando dos seus ajuntamentos sociais. Para evitar isso, porque já fiz parte do círculo e sei de que linhas se cosem, cortei radicalmente. Com tudo, com todos, em todas as plataformas de redes sociais onde podiam ter acesso à minha pessoa. Se calhar seguem-me por aqui, quem sabe, há fortes probabilidades disso, mas então se o fazem, também ficam a saber o que sinto. Aliás, aposto que o sabem porque, como diz o artigo "quando se acaba uma amizade os envolvidos sabem sempre que acabou e, geralmente, envergonham-se disso, motivo pelo qual não falam sobre o assunto".
Ninguém gosta de ser excluído, posto de lado, ser considerado secundário ou sem importância. No meu caso, acho que sempre tentei ser uma amiga presente. Quando erro sei reconhecer que erro, sei pedir desculpa, sei dizer os motivos que me levaram a dizer ou a fazer isso e os porquês, mas também sei dizer onde os outros erraram ou falharam e acho que esta minha propensão para dizer as verdades que ninguém gosta de ouvir, pesa muito na hora de pôr os pratos na balança. Acabo por incomodar e, como tal, mais vale viver num ambiente de "amigos para sempre", mesmo que fictício ou podre onde, acabam por dizer mal uns dos outros, do que ter alguém que mete o dedo na ferida e que diz aquilo que ninguém quer ouvir. Há coisas com as quais já não consigo compactuar e também não quero fingir que tenho ainda 20 anos e andamos todos na faculdade, comemos sandes de croquetes no café do Manel ou faltamos às aulas para ir para a esplanada do CCB ou para os pastéis de Belém. Já não alinho em grandes noitadas porque, afinal, sou mãe de dois filhos e estou cansada, tenho outras prioridades. O ser mãe não faz de mim melhor ou pior do que eles, faz-me apenas diferente e, como tal, se calhar com menos tempo para alinhar em grandes programas de fim de semana ou dias inteiros na praia até às 9 da noite seguidos de caipirinhas, cigarradas e caracoladas no bar do costume. Gostava muito, mas não posso. Mas posso desfrutar aos bocadinhos, que isso não faz de mim amiga menos presente ou ausente, basta que me dêem oportunidade para tal - ou que aceitem esta nova pessoa que me tornei. Ser amigo, tal como no amor, também é ser flexível, é aceitar que as pessoas mudam mas que mesmo com filhos ou maridos, continuam ali e até gostávamos que os outros - mais livres e disponíveis, sem filhos e solteiros - se lembrassem disso. Que não é por termos um filho (ou vários) que vamos passar a conversa toda a falar de fraldas, ou que o nosso mundo só se centra nesse universo. É certo que podemos não ir ao cinema, ao Indie ou ao festival de teatro de Almada com a mesma disponibilidade com que íamos quando tínhamos 20 anos, mas se calhar podemos tomar um café e nesse café - que pode durar apenas 15 minutos - sentir que continuamos a ser importantes para alguém que fez o esforço de estar connosco em vez de nos dar a tão típica desculpa do "não tenho tempo", ou "estou cansado".

Por tudo isso (e muito, muito mais), aqueles que considerava 'amigos' - na verdadeira acepção da palavra - decidiram seguir outro caminho que não se cruza com o meu, então por muito que custe , terei de aceitar e resignar-me. Mesmo que doa (e há dias em que dói muito). 
Se calhar devia de, à semelhança das pessoas do artigo, procurar um profissional e desabafar sobre o caso, perceber onde tive a minha quota de culpa em todo o processo, mas por agora fico-me pela catarse pessoal que passa por escrever sobre o assunto neste meu canto que sempre serviu para me aliviar as mágoas. 


2 comentários:

Maggie disse...

Texto certeiro na fase da vida social em que estou...

N me parece que tenhas quota de culpa alguma... As pessoas simplesmente são diferentes umas das outras, diferentes provavelmente do que pensávamos e, se te deixaram, possivelmente n valiam mto a pena. Eu nao tirei ninguém do facebook, mas o acesso que têm ao que publico é mais limitado e eu deixei de os seguir a eles.

É profundamente triste, pq no fundo, na nossa consciência, nada de mal fizémos e lutámos sempre pelas amizades, e de repente (ou lentamente) tudo muda. Custa horrores, como no amor, tal como diz o artigo do Público. Mas é como dizes, resignar. E criar defesas para novas amizades...

Mafalda disse...

eu tenho noção de que não sou pessoa que precise de viver rodeada de amigos ou de muita gente, e também acho que não sou pessoa para fazer facilmente novas amizades, daí me custar tanto perder aquelas que considerava "basilares", mas é viver e aprender, seguir em frente. O melhor que conseguimos. Acho que há fases, na vida das pessoas que - não estando todos na mesma frquência - são estruturantes e podem quebrar a relação existente. O aparecimento dos filhos, um namoro ou casamento, as pessoas partem do princípio do "agora é mãe, não lhe interessa, não tem tempo" ou "agora tem namorado novo, não lhe interessa, não tem tempo" e elas próprias começam a excluir... combater isso é difícil e se não forem as duas partes a fazer o esforço, facilmente morre. Mas também acho que não vale a pena andar a insistir quando do outro lado não vemos essa vontade e as desculpas sucedem-se - que foi o que aconteceu comigo - logo, se foi a outra parte que deixou ir, então é saber aceitar. Por muito que nos custe.